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O
PRÍNCIPE DO DESERTO
Convence pouco a épica
narrativa concebida pelo premiado
cineasta francês Jean-Jacques Annaud
para O Príncipe do Deserto,
uma pífia história de aventuras, de
conotação folhetinesca, sobre
conflitos tribais, ambientada ao
início do século XX, época em que os
americanos descobriram petróleo no
deserto da Península Arábica.
O roteiro, de Annaud,
Menna Meyjies (Indiana Jones e a
Última Cruzada) e Anne Godard, é
baseado no romance South of the
Heart ou Arab, do
escritor suíço Hans Ruesch, cujos
direitos de adaptação foram
adquiridos pelo produtor Tarak Ben
Ammar em 1976, quando iniciou sua
carreira, induzindo George Lucas a
rodar cenas importantes de Guerra
nas Estrelas na Tunísia, tendo
em vista a magnificente luminosidade
local.
Dos conflitos surgidos
entre dois líderes guerreiros –
Nesib, emir de Hobeika (Antonio
Banderas) e Ammar, sultão de Salmaah
(Mark Strong) – resulta, após muitas
batalhas sangrentas, o acordo em que
se estabelece uma faixa do deserto,
chamada Cinturão Amarelo, cujo poder
não poderia ser reivindicado por
nenhuma das partes. Em complemento,
o sultão de Salmaah, de mais posses
que o seu rival, seguindo uma
tradição árabe, deveria adotar (ou
tornar reféns) os dois filhos dele:
Saleeh (Akin Gazi) e Auda (Tahar
Raim), como garantia de que nenhum
deles pudesse invadir as terras do
outro.
O caráter dos dois
jovens, sob a tutela de Ammar, se
define ao longo dos anos. Assim,
enquanto Saleeh se torna um rebelde,
desejoso de voltar à propriedade do
pai, Auda se deixa seduzir pela
leitura, pelos livros, querendo
aprimorar cada vez mais seus
conhecimentos, principalmente das
escrituras sagradas, como o Alcorão.
Certo dia, depois que os dois jovens
regressaram à propriedade de Nesib,
aparece, em suas terras, um
americano da indústria petrolífera
do Texas (Corey Johnson), que,
autorizado por ele, descobre
petróleo justo no Cinturão Amarelo.
Ante a perspectiva de
ser homem rico e poderoso, Nesib
envia o filho Auda, que desde a
infância andava de namoricos com a
princesa Leyla (Freida Pinto), filha
do sultão de Salmaah, já lhe
prometida em casamento, para
negociar a paz entre os dois reinos.
Reunido com Ammar, Auda, um
protagonista fora de órbita, não só
se entrega à devoção e à
espiritualidade como promove a
reaproximação do sultão, reacionário
ao extremo, com o filho Ali (Riz
Ahmed), renegado por haver estudado
Medicina. Empolgado com a nova
situação, já antevendo também a
possibilidade de vir a ser o
poderoso chefe da junção dos dois
reinos, Auda, contando com o apoio
de Ali, reúne um exército de ladrões
e, como líder guerreiro, parte a dar
combate, sem trégua, às forças de
Nesib.
É difícil, nos dias
atuais, para um diretor – mesmo que
seja da categoria de Jean-Jacques
Annaud (A Guerra do Fogo ),
um dos nomes mais conhecidos do
cinema francês – impor a sua marca
numa produção como essa, orçada em
55 milhões de dólares, arrecadados
no mundo árabe. As pressões, que
sobre ele se exercem, são de toda
ordem. David Lean (Lawrence da
Arábia), que, em tudo no filme,
procura ser imitado, não existe
mais. Mesmo assim, Annaud consegue
relativo êxito em fixar, pela
eficiente composição de planos,
captados pela bela fotografia de
Jean-Marie Dreujou, o seu estilo nas
cruentas batalhas, que se sucedem,
cujas locações foram feitas no
deserto do Catar, da Turquia e da
Tunísia.
O grande problema de Annaud foi
conduzir um elenco heterogêneo de
atores internacionais se expressando
em inglês, cada qual com um sotaque
diferente, como o de Antonio
Banderas, no papel de Nesib,
puxadíssimo para o espanhol, falado
na Andaluzia, de onde procede. Em
termos de escalação desses atores, o
objetivo dos produtores, pelo que
está evidente, foi o de promover um
de origem árabe, como o
franco-argelino Tahar Raim, o
príncipe Auda, para ocupar o lugar
deixado, no cenário internacional,
por Omar Sharif (Doutor Jivago).
Mas Raim, premiado na França por sua
atuação no supervalorizado O
Profeta, de Jacques Audiard, se
mostra, por sua inexpressividade,
longe de se equiparar ao seu
pretenso paradigma. Também é
inexpressivo o desempenho da indiana
Freida Pinto (Quem Quer Ser um
Milionário) como a princesa
Leyla. O único que escapa do
échec (fracasso), como dizem os
franceses, é o inglês Mark Strong (Rede
de Mentiras), que encarna Ammar,
o sultão de Salmaah.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
O PRÍNCIPE DO DESERTO
BLACK GOLD
Tunísia, Catar, França e Itália –
2011
Duração – 130 minutos
Direção – Jean-Jacques Annaud
Roteiro – Jean-Jacques Annaud, Menna
Meijies e Anne Godard, com base no
livro South of the Heart ou
Arab, de Hans Ruesch
Produção – Tarak Ben Ammar
Fotografia –Jean-Marie Dreujou
Trilha Sonora – James Horner
Edição – Herve Schneid
Elenco – Tahar Raim (Auda), Antonio
Banderas (Nesib), Mark Strong
(Ammar), Freida Pinto (Leyla), Riz
Ahmed (Ali), Akin Gazi (Saleeh),
Corey Johnson (petroleiro do Texas). |
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