Pe. Tomaz
Hughes, SVD
E-mail:
thughes@netpar.com.br
- - -
QUINTO
DOMINGO DE
PÁSCOA
(06.05.12)
Jo 15,
1-8
“Sem mim,
vocês não
podem fazer
nada”
Esse texto
inicia a
seção do
quarto
evangelho
que tem os
trechos que
mais se
aproximam
aos
discursos da
vida pública
de Jesus nos
Evangelhos
Sinóticos.
Aqui temos
um exemplo
raro de uma
parábola em
João - a da
vinha e dos
ramos, uma
metáfora que
expressa o
amor íntimo
entre Jesus
e os seus
discípulos.
Em
contraste, o
segmento
seguinte
(15, 18-16,
4) vai
tratar do
ódio do
mundo para
com os seus
seguidores.
No Antigo
Testamento,
frequentemente
se retrata
Israel como
a vinha (ou
videira)
escolhida de
Deus, que
Ele tem
cuidado com
muito amor,
mas, que deu
frutas
amargas. Na
primeira
parte de
João vimos
como Jesus
substitui as
instituições
e festas
judaicas;
agora, Ele
se manifesta
como a vinha
do Novo
Israel. Se
ficarem
unidos a
Ele, os
cristãos
darão
somente
frutos que
agradarão ao
vinhateiro -
o Pai. No
Antigo
Testamento,
Deus muitas
vezes
ameaçava
podar ou até
desenraizar
a vinha
improdutiva.
Embora a
vinha do
Novo Israel
não falhará,
sempre
haverá ramos
secos a
serem
tirados e
queimados.
A Bíblia
sempre
insiste que
o fruto que
Deus quer é
a prática da
justiça e
solidariedade.
Este tema
perpassa a
Bíblia toda,
tanto no
Antigo como
no Novo
Testamento.
Mas, os
cristãos
somente
poderão dar
este fruto
agradável se
ficarem
unidos a
Jesus, pois
“sem mim,
nada poderão
fazer”. Mais
uma vez
volta-se à
ideia que é
pelos frutos
que se
conhece a
árvore.
Assim, nos
leva a
refletir
sobre os
frutos que
mais de 500
anos de
evangelização
têm dado no
Brasil e na
América
Latina, como
fez em 2007
a
Conferência
de Aparecida
e o
documento
que foi
publicado
por ela. Com
uma das
piores
distribuições
de renda no
mundo, com
uma das
maiores
concentrações
de terras
nas mãos de
poucos, com
indígenas e
pobres
marginalizados,
com tanta
gente
sofrida,
talvez muita
coisa tenha
que ser
podado pelo
Pai, para
que
realmente
sejamos a
verdadeira
videira na
vinha do
Senhor. Como
dizia o
mártir
salvadorenho
Dom Oscar
Romero: “Uma
religião de
Missa
Dominical,
mas de
semanas
injustas,
não agrada o
Deus da
vida. Uma
religião de
muita reza,
mas de
hipocrisias
no coração,
não é
cristã. Uma
Igreja que
se instala
só para
estar bem,
para ter
muito
dinheiro,
muita
comodidade,
porém que
não ouve o
clamor dos
injustiçados,
não é a
verdadeira
Igreja do
nosso Divino
Redentor”
(Discurso
04.12.1977).
Sem dúvida,
há muita
coisa
realmente
boa
acontecendo
nas
comunidades
cristãs do
Brasil, bem
como na
sociedade
civil em
geral, mas o
teste mesmo
é a
construção
de uma
sociedade
baseada nos
princípios
de justiça,
fraternidade
e
solidariedade
e não no
lucro,
competitividade
e na lei da
selva.
Hoje, diante
da recessão
mundial, um
dos
sentimentos
mais comuns
em todas as
camadas da
sociedade é
a da
impotência.
Parece que
estamos sem
forças
diante do
rolo
opressor do
sistema
hegemônico,
do
neo-liberalismo,
da
globalização,
das forças
do mercado.
Seria fácil
cairmos na
tentação de
desistir da
luta para
melhorar a
sociedade,
pois os
resultados
parecem
ínfimos. Por
isso urge
cada vez
mais
ficarmos
unidos a
Jesus, na
oração e no
compromisso,
a Ele que
parecia
também um
derrotado,
mas que teve
a vitória
final na
Ressurreição.
Se sem Ele
nada podemos
fazer, o
contrário é
também
verdade -
com Ele tudo
podemos!
Talvez não
da maneira
que
gostaríamos,
mas sem
dúvida como
colaboradores
d’Ele na
construção
do Reino de
Deus.
As
dificuldades
enfrentadas
pelos
movimentos
populares em
favor dos
excluídos e
pelos
setores mais
comprometidos
das Igrejas
- às vezes
dentro da
própria
Igreja - os
sofrimentos
dos mártires
da caminhada
e das suas
famílias,
são podas -
mas podas
que darão
mais fruto
ainda. Como
as forças
opressoras
do Império
Romano,
aliadas às
elites do
judaísmo,
não
conseguiram
matar o
projeto de
Jesus, nem
as forças
opressoras
de hoje
conseguirão
matar o
crescimento
do Reino
entre nós -
uma vez que
fiquemos
unidos a
Ele, e entre
nós, pois
Jesus mesmo
nos disse,
“sem mim,
nada poderão
fazer”!
SEXTO
DOMINGO DA
PÁSCOA
(13.05.12)
Jo 15,
9-17
“Amem-se
uns aos
outros”
Poucos
trechos do
Evangelho de
João são tão
conhecidos
como o de
hoje, pelo
menos pelas
diversas
frases
lapidares
tecidas
dentro dele.
Sobressai o
tema básico
do “amor” -
como a
característica
que deve
distinguir
os/as
discípulos/as
de Jesus.
O amor é um
dos temas
preferidos
da sociedade
atual, como
mostram os
nossos
cantos,
poemas e
novelas -
mesmo que
seja mais na
fala do que
na prática.
Por isso,
torna-se
necessário
recuperar o
sentido
profundo do
amor nos
Evangelhos.
Até um
estudo
rápido
mostra que o
termo tem
outro
sentido do
que aquele
que a nossa
sociedade
liberal e
consumista
lhe atribui.
Na sociedade
atual, o
amor não
passa de um
sentimento
agradável,
uma emoção,
quando não
de um
egoísmo
disfarçado.
Tendo como
base a
emoção,
torna-se
temporário,
volúvel, sem
consistência,
descartável.
Passado o
sentimento,
termina o
amor! Uma
das
consequências
dessa visão
pós-moderna
é o alto
índice de
divórcios,
de
separações,
de
desistências
de tudo que
é
compromisso,
pois a base
é como areia
movediça,
não sustenta
o peso do
dia-a-dia.
O amor ao
qual Jesus
nos conclama
tem outro
sentido - é
o amor “como
eu os amei”.
Como foi que
Ele nos
amou? Dando
a vida d’Ele
por nós. O
amor
torna-se uma
atitude de
vida e não
um
sentimento.
A comunidade
dos
discípulos/as
- a Igreja -
deve ser uma
comunidade
de pessoas
comprometidas
com o
projeto de
Jesus, que
veio “para
que todos
tivessem a
vida e a
vida
plenamente”
(Jo 10, 10).
A comunidade
cristã deve
ser muito
mais do que
um grupo de
amigos e
companheiros
(oxalá fosse
isso também,
pois
frequentemente,
nem isso é!)
- deve ser
uma
comunidade
enraizada no
amor de
Jesus, que é
a Encarnação
do Deus da
vida,
animada pelo
seu Espírito
e dedicada a
criar o
mundo que
Deus quer.
A
pedra-de-toque
de uma
comunidade
cristã então
não será o
sentimento e
a emoção,
mas os
frutos que
ela dá,
frutos que
devem
permanecer
(v. 16) e
que não
devem
evaporar com
a
instabilidade
dos
sentimentos.
Tal
comunidade
vai ser
comunidade
de vida e
partilha, da
justiça e
solidariedade,
da
verdadeira
paz e
dedicação.
Saberá
ultrapassar
os limites
da mera
simpatia e
atração,
para assumir
a vida de
cada irmão e
irmã como
expressão do
amor do Pai.
É
interessante
que, embora
o trecho
situe-se no
contexto da
véspera da
paixão,
Jesus fala
da alegria
completa. É
impressionante
como, em um
mundo que
propõe a
satisfação
imediata
pessoal e a
“felicidade
já” como
metas,
garantidas
pelo consumo
e pelas
posses, há
tanta gente
desanimada,
triste,
insatisfeita
e deprimida.
Quantos
jovens,
mesmo - ou
talvez
especialmente
- nas
classes mais
abastadas,
irrequietos
e perdidos
na vida.
Pois, a
alegria não
vem somente
das posses e
dos bens
materiais, e
uma vida
baseada
sobre eles
vai
necessariamente
elevar à
frustração.
Mas, também
há muita
gente,
muitas vezes
com uma vida
sofrida e
difícil, que
irradia a
verdadeira
alegria e
profunda
paz, pois as
suas vidas
são
alicerçadas
sobre a
rocha - uma
vida de amor
verdadeira,
na doação de
si, na busca
de uma vida
digna para
todos. A
sociedade do
consumo nos
aponta um
caminho para
a felicidade
- sempre ter
mais, em uma
busca
individualista
de
felicidade,
que só pode
nos levar à
alegria
falsa dos
shows de
Faustão ou
Sílvio
Santos.
Jesus nos
aponta o
caminho para
a verdadeira
alegria -
uma vida de
amor-doação,
de busca da
justiça e
solidariedade,
que tem a
alegria não
como meta,
mas que a
traz como
consequência.
Não há
nenhum
mandamento
“simpatizai-vos
uns com os
outros”, mas
há o
mandamento
do amor!
Para isso,
precisamos
de uma vida
fortemente
fundamentada
no Evangelho
e no
seguimento
de Jesus,
pois se não
temos, será
impossível
sustentá-la.
Jesus nos
quer como
“amigos” e
não servos,
ou seja,
pessoas que
livremente
assumem o
seu projeto.
Assim
assinala que
a religião
não deve ser
simplesmente
o
cumprimento
de uma série
de leis e
regulamentos,
mas o
seguimento
de um
projeto de
vida,
continuador
da sua
missão, no
mundo atual.
Um projeto
além das
nossas
forças
humanas,
pelo qual
precisamos
do dom
sempre
renovado do
Espírito
Santo, um
dom que nos
é garantido,
pois, como
diz o texto
“o Pai dará
a vocês
qualquer
coisa que
vocês
pedirem em
meu nome”
(v. 16). É
um projeto
que nos
coloca na
contramão da
sociedade
atual, mas,
que nos
garante uma
vida
realizada e
plena, que
os falsos
ídolos do
consumismo
são
incapazes de
nos dar. “O
que mando é
isso -
amem-se uns
aos outros”.
(v. 17)
FESTA DA
ASCENSÃO DO
SENHOR
(20.05.12)
Mc 16, 15-20
“Vão pelo
mundo
inteiro e
anunciem a
Boa-Notícia
para toda a
humanidade”
O texto e Mc
9-20, que
contém o fim
do Evangelho
de Marcos,
interrompe o
fio da
narração
precedente,
é muito
diferente em
estilo e
vocabulário
do resto do
Evangelho e
está ausente
dos melhores
e mais
antigos
manuscritos.
Por isso,
normalmente
está
designado
nas nossas
bíblias como
“Apêndice”
provavelmente
escrito no
segundo
século, e
baseado
basicamente
no Capítulo
24 de Lucas,
com alguma
adição de
João 20 e
com
referências
de fatos
narrados em
Atos. Embora
não
acrescente
nada de novo
para uma
melhor
compreensão
de Jesus e
dos
acontecimentos
pós-pascais,
traz
elementos
muito
importantes
para a vida
da Igreja
hoje.
Destaca-se
muito o
mandamento
missionário
de Jesus - o
de levar a
Boa-Nova
para toda a
humanidade
(Mt 28,
18-20). A
Igreja é por
sua natureza
missionária,
e uma Igreja
que
descuidasse
desse
mandato
estaria
traindo a
sua
identidade.
Porém,
faz-se
necessário
distinguir
entre
“missão” e
“proselitismo”.
Igrejas
proselitistas
têm como
meta
angariar
fiéis de
outras
Igrejas para
a deles.
Giram ao
redor de si
mesmas,
identificando
a sua Igreja
institucional
com o Reino
de Deus. Uma
Igreja
missionária
tem como
objetivo
levar a
Boa-Nova do
Reino para
todas as
culturas e
religiões,
respeitando-as,
sendo
testemunha
dos valores
do Reino de
Deus e
ajudando a
pessoas de
boa vontade
a
descobrirem
a presença
do Reino - e
do
anti-Reino -
nas suas
próprias
culturas e
tradições
religiosas.
Um
aprofundamento
desse
mandato nos
fará lembrar
que nós não
somos donos
da missão -
a missão é
do próprio
Deus, cujo
Filho Jesus
foi o
primeiro
missionário
da Trindade.
Ele deixou
uma
comunidade
de
discípulos/as
para
continuar a
sua missão
da
implantação
do Reino de
Deus, e nós
somos
herdeiros
dessa
missão. A
serviço dela
existem
diversos
carismas, ou
dons do
Espírito
Santo, para
o bem de
todos. Mas,
ninguém está
dispensado
dessa tarefa
missionária,
fechando-se
na sua
própria
comunidade,
movimento,
ou Igreja -
pelo
contrário,
devemos
sentirmo-nos
unidos aos
irmãos e
irmãs do
mundo todo e
comprometidos
com a
construção
da sociedade
justa e
solidária
que será uma
concretização
da Boa-Nova
do Reino de
Deus. O
objetivo da
missão a
longo prazo
é de reunir
a humanidade
inteira no
Reino de
Deus (que
ultrapassa
as
fronteiras
da Igreja
visível).
Fazemo-lo
através da
proclamação
explícita da
Boa Nova, e
no
estabelecimento
de um
diálogo
respeitoso
com membros
de outras
tradições
religiosas,
convidando
homens e
mulheres a
pertencer a
uma
comunidade
de
testemunho e
serviço e
levando a
cada ser
humano a
missão
divina de
uma salvação
integral.
O texto
explicita
alguns
elementos
importantes
nessa
atividade
missionária:
“expulsão de
demônios”:
expulsando
da
convivência
humana os
sinais do
mal, do
anti-Reino,
que
escraviza e
oprime
milhões de
pessoas,
através de
estruturas
econômicas,
sociais e
até
religiosas,
de exclusão;
“falando
línguas”:
como em
Pentecostes,
criando uma
nova língua
do diálogo e
respeito, a
linguagem do
amor,
justiça e
solidariedade;
“vencendo
veneno”-
superando
tanto veneno
semeado
durante
milênios na
convivência
humana,
expressado
através do
racismo,
machismo,
clericalismo,
e todos os
“ismos” que
excluem e
nos dividem;
“curando
doentes”:
lutando na
prática para
que “todos
tenham a
vida e a
tenham
plenamente”
(Jo 10, 10),
como fez
Jesus, não
somente
fazendo
curas
individuais,
mas,
restaurando
a saúde
integral,
das pessoas
e da
criação,
através da
vivência
comunitária
e individual
do projeto
de Jesus.
Seria
trágico se
esses
elementos
ficassem
reduzidos à
busca de
“milagres”
duvidosos, à
falação de
supostas
“línguas dos
anjos”, e à
satanização
de tudo,
confundindo
expressões
de
desequilíbrio
emocional
com a
presença
diabólica.
Durante
séculos,
muitas vezes
os cristãos
do Brasil -
e de muitas
outras
regiões -
têm se
acomodado
com a
vivência de
uma religião
individualista,
acomodada e
frequentemente
alienada dos
problemas do
mundo.
Vivíamos uma
separação
artificial
entre o
mundo e o
espiritual,
entre a
prática
religiosa e
a
transformação
social. O
mandato de
semearmos a
Boa Nova do
Reino nos
ajuda para
que sejamos
mais fiéis a
Jesus - não
somente à
sua pessoa,
mas também à
sua prática
e mensagem,
levando a
Boa Notícia
do Reino a
toda a
humanidade.
DOMINGO DE
PENTECOSTES
(27.05.12)
At 2, 1-11
“Todos
ficaram
repletos do
Espírito
Santo”
A liturgia
de hoje nos
apresenta a
descida do
Espírito
Santo sobre
a comunidade
dos
discípulos,
em duas
tradições -
a de Lucas
(Atos 2) e
da
Comunidade
do Discípulo
Amado (João
20). Salta
aos olhos
que uma
leitura
fundamentalista
da bíblia -
infelizmente
ainda muito
comum entre
nós - leva a
gente a um
beco sem
saída, pois
em João, a
Ressurreição,
a Ascensão e
a Descida do
Espírito se
deram no
mesmo dia
(Páscoa),
enquanto
Lucas separa
os três
eventos,
durante um
período de
cinquenta
dias. Assim,
devemos ler
os textos
dentro dos
interesses
teológicos
dos diversos
autores - os
40 dias de
Lucas, por
exemplo,
entre a
Ressurreição
e a
Ascensão,
correspondem
aos 40 dias
da
preparação
de Jesus no
deserto,
para a sua
missão.
Pois, como
Jesus ficou
“repleto do
Espírito
Santo” (Lc
4, 1) e se
lançou na
sua missão
“com a força
do Espírito”
(Lc 4, 14),
a comunidade
cristã se
preparou
durante o
mesmo
período, e
na festa
judaica de
Pentecostes
também
experimentou
que “todos
ficaram
repletos do
Espírito
Santo” (At
2, 4).
Uma leitura
superficial
do texto de
Atos dá a
impressão de
um relato
uniforme e
coeso - mas,
isso se deve
à habilidade
literária do
autor. Na
verdade, ele
costurou um
relato só,
tecendo
elementos de
duas
tradições.
Uma leitura
cuidadosa
nos mostra
essas duas
tradições: a
primeira
está nos vv.
1-4, uma
tradição
mais antiga
e
apocalíptica;
a segunda
está nos vv.
5-11, mais
profética e
missionária.
Nos
primeiros
versículos,
estamos no
ambiente de
uma casa,
onde os
discípulos
se reuniram.
Atos nos faz
lembrar que
estavam
reunidos
três grupos
distintos:
os Onze; as
mulheres,
entre as
quais Maria
a mãe de
Jesus; e, os
irmãos do
Senhor.
Embora
talvez
representem
três
tradições
cristológicas
diferentes
no tempo de
Lucas, ele
faz questão
de enfatizar
que todos
estavam
reunidos com
“os mesmos
sentimentos,
e eram
assíduos na
oração” (At
1, 14). Ou
seja, a
descida do
Espírito não
é algo
mágico; mas,
consequência
da unidade
na fé e no
seguimento
do projeto
de Jesus.
O primeiro
relato (vv.
1-4) usa
imagens
apocalípticas,
símbolos da
teofania, ou
da
manifestação
da presença
de Deus - o
som de um
vendaval e
as línguas
de fogo. A
expressão
externa da
descida do
Espírito é o
“falar em
outras
línguas”
(não o
“falar em
línguas”-
glossolalia
- tão
valorizado
por muitos
grupos de
cunho
neo-pentecostal).
A segunda
tradição
muda o
enfoque. O
ambiente
muda, da
casa para um
lugar
público -
provavelmente
o pátio do
Templo. O
sinal
visível da
presença do
Espírito não
é mais o
falar em
outras
línguas, mas
o fato que
todos os
presentes
pudessem
“ouvir, na
sua própria
língua, os
discípulos
falarem” (At
1, 6). O
termo
“ouvir” aqui
implica
também
“compreender”.
Três vezes o
relato
destaca o
fato dos
presentes
poderem
“ouvir” na
sua própria
língua (vv.
6.8.11).
Assim, Lucas
quer
enfatizar
que o dom do
Espírito
Santo tem um
objetivo
missionário
e profético
- de fazer
com que toda
a humanidade
possa ouvir
e
compreender
a nova
linguagem,
que une
todas as
raças e
culturas -
ou seja, a
do amor, da
solidariedade,
do projeto
de Jesus, do
Reino de
Deus.
A lista dos
presentes
tem um
sentido
especial -
estão
mencionadas
raças, áreas
geográficas,
culturas e
religiões.
Todos ouvem
as
maravilhas
do Senhor.
Lucas ensina
que a
aceitação do
Evangelho
não exige
deixar a
identidade
cultural.
Contesta a
dominação
cultural, ou
seja, a
identificação
do Evangelho
com uma
cultura
específica.
Durante
séculos,
este fato
foi
esquecido
nas Igrejas,
e
identificava-se
o Evangelho
com a sua
expressão
cultural
europeia.
Nos últimos
anos, a
Igreja tem
insistido
muito na
necessidade
da
“inculturação”,
de anunciar
e vivenciar
a mensagem
de Jesus
dentro das
expressões
culturais
das diversas
raças e
etnias. O
texto é uma
releitura da
Torre de
Babel, onde
a língua
única era o
instrumento
de um
projeto de
dominação
(uma torre
até o céu)
que foi
destruído
por Deus
pela
diversidade
de línguas.
Nenhuma
cultura ou
etnia pode
identificar
o Evangelho
com a sua
expressão
cultural
dele.
Hoje é uma
grande festa
missionária.
Marca a
transformação
da Igreja de
uma seita
judaica em
uma
comunidade
universal,
missionária,
mas não
proselitista,
comprometida
com a
construção
do Reino de
Deus “até os
confins da
terra”. Mas,
Lucas
insiste que
a
experiência
de
Pentecostes
não se
limita a um
evento - é
uma
experiência
contínua -
por isso
relata novas
descidas do
Espírito
Santo: em
uma
comunidade
em oração em
uma casa (At
4, 31),
sobre os
samaritanos
(At 8, 17),
e, para o
espanto dos
judeu-cristãos
ortodoxos,
sobre os
pagãos na
casa do
Cornélio (At
10, 4).
Pois, o
Espírito
Santo sopra
onde quer,
sobre quem
quer, em
favor do
Reino de
Deus.
Aprendamos
do texto de
Atos, e
celebremos a
nossa
vocação
missionária,
não a de
falar em
línguas, mas
de falar a
língua única
do amor e do
compromisso
com o Reino,
para que a
mensagem do
Evangelho
penetre
todos os
povos,
culturas,
raças e
etnias.
Jo 20, 19-23
No texto
anterior ao
de hoje, a
Maria
Madalena
trouxe a
notícia da
Ressurreição
aos
discípulos
incrédulos.
Agora é o
próprio
Jesus que
aparece a
eles. Não há
reprovação
nem queixa
nas suas
palavras,
apesar da
infidelidade
de todos
eles, mas
somente a
alegria e a
paz, que já
tinha
prometido no
último
discurso.
Duas vezes
Jesus
proclama o
seu desejo
para a
comunidade
dos seus
discípulos -
“A paz
esteja com
vocês”. O
nosso termo
“paz”
procura
traduzir -
embora de
uma maneira
inadequada -
o termo
hebraico “Shalom!”,
que é muito
mais do que
“paz”
conforme o
nosso mundo
a
compreende.
O “Shalom”
é a paz que
vem da
presença de
Deus, da
justiça do
Reino. Como
cantamos,
“da justiça
nascerá a
paz.” Jesus
não promete
a paz do
comodismo;
mas, pelo
contrário,
envia os
seus
discípulos
na missão
árdua em
favor do
Reino,
prometendo o
Shalom,
pois, Ele
nunca
abandonará
quem procura
viver na
fidelidade
ao projeto
de Deus.
Jesus soprou
sobre os
discípulos,
como Deus
fez (é o
mesmo termo)
sobre Adão
quando
infundiu
nele o
espírito de
vida; Jesus
os recria
com o
Espírito
Santo.
Normalmente
imaginamos o
Espírito
Santo
descendo
sobre os
discípulos
em
Pentecostes;
mas, aquilo
era a
descida
oficial e
pública do
Espírito
para dirigir
a missão da
Igreja no
mundo. Para
João, o dom
do Espírito,
que da sua
natureza é
invisível,
flui da
glorificação
de Jesus, da
sua volta ao
Pai. O dom
do Espírito
neste texto
tem a ver
com o perdão
dos pecados.
Que a
celebração
nos anime
para que
busquemos a
criação de
um mundo
onde
realmente
possa reinar
o Shalom,
não a paz
falsa da
opressão e
injustiça,
mas do Reino
de Deus,
fruto de
justiça,
solidariedade
e
fraternidade.
Jesus nos
deu o
Espírito
Santo -
agora
depende de
nós usarmos
essa força
que temos,
na
construção
do mundo que
Deus quer.
- - -
Pe. Tomaz
Hughes, SVD
E-mail:
thughes@netpar.com.br
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