Theresa Catharina de Góes Campos

  HOMILIAS  -  MAIO  2012
 
De: LMAIKOL
Data: 1 de maio de 2012 10:39
Assunto: Homilias - Maio 2012

 
Reflexões Homiléticas para Maio de 2012

Pe. Tomaz Hughes, SVD

E-mail: thughes@netpar.com.br

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QUINTO DOMINGO DE PÁSCOA (06.05.12)

Jo 15, 1-8

“Sem mim, vocês não podem fazer nada”

 

Esse texto inicia a seção do quarto evangelho que tem os trechos que mais se aproximam aos discursos da vida pública de Jesus nos Evangelhos Sinóticos. Aqui temos um exemplo raro de uma parábola em João - a da vinha e dos ramos, uma metáfora que expressa o amor íntimo entre Jesus e os seus discípulos. Em contraste, o segmento seguinte (15, 18-16, 4) vai tratar do ódio do mundo para com os seus seguidores.

            No Antigo Testamento, frequentemente se retrata Israel como a vinha (ou videira) escolhida de Deus, que Ele tem cuidado com muito amor, mas, que deu frutas amargas. Na primeira parte de João vimos como Jesus substitui as instituições e festas judaicas; agora, Ele se manifesta como a vinha do Novo Israel. Se ficarem unidos a Ele, os cristãos darão somente frutos que agradarão ao vinhateiro - o Pai. No Antigo Testamento, Deus muitas vezes ameaçava podar ou até desenraizar a vinha improdutiva. Embora a vinha do Novo Israel não falhará, sempre haverá ramos secos a serem tirados e queimados.

            A Bíblia sempre insiste que o fruto que Deus quer é a prática da justiça e solidariedade. Este tema perpassa a Bíblia toda, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Mas, os cristãos somente poderão dar este fruto agradável se ficarem unidos a Jesus, pois “sem mim, nada poderão fazer”. Mais uma vez volta-se à ideia que é pelos frutos que se conhece a árvore.

Assim, nos leva a refletir sobre os frutos que mais de 500 anos de evangelização têm dado no Brasil e na América Latina, como fez em 2007 a Conferência de Aparecida e o documento que foi publicado por ela. Com uma das piores distribuições de renda no mundo, com uma das maiores concentrações de terras nas mãos de poucos, com indígenas e pobres marginalizados, com tanta gente sofrida, talvez muita coisa tenha que ser podado pelo Pai, para que realmente sejamos a verdadeira videira na vinha do Senhor. Como dizia o mártir salvadorenho Dom Oscar Romero: “Uma religião de Missa Dominical, mas de semanas injustas, não agrada o Deus da vida. Uma religião de muita reza, mas de hipocrisias no coração, não é cristã. Uma Igreja que se instala só para estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade, porém que não ouve o clamor dos injustiçados, não é a verdadeira Igreja do nosso Divino Redentor” (Discurso 04.12.1977).

Sem dúvida, há muita coisa realmente boa acontecendo nas comunidades cristãs do Brasil, bem como na sociedade civil em geral, mas o teste mesmo é a construção de uma sociedade baseada nos princípios de justiça, fraternidade e solidariedade e não no lucro, competitividade e na lei da selva.

Hoje, diante da recessão mundial, um dos sentimentos mais comuns em todas as camadas da sociedade é a da impotência. Parece que estamos sem forças diante do rolo opressor do sistema hegemônico, do neo-liberalismo, da globalização, das forças do mercado. Seria fácil cairmos na tentação de desistir da luta para melhorar a sociedade, pois os resultados parecem ínfimos. Por isso urge cada vez mais ficarmos unidos a Jesus, na oração e no compromisso, a Ele que parecia também um derrotado, mas que teve a vitória final na Ressurreição. Se sem Ele nada podemos fazer, o contrário é também verdade - com Ele tudo podemos! Talvez não da maneira que gostaríamos, mas sem dúvida como colaboradores d’Ele na construção do Reino de Deus.

As dificuldades enfrentadas pelos movimentos populares em favor dos excluídos e pelos setores mais comprometidos das Igrejas - às vezes dentro da própria Igreja - os sofrimentos dos mártires da caminhada e das suas famílias, são podas - mas podas que darão mais fruto ainda. Como as forças opressoras do Império Romano, aliadas às elites do judaísmo, não conseguiram matar o projeto de Jesus, nem as forças opressoras de hoje conseguirão matar o crescimento do Reino entre nós - uma vez que fiquemos unidos a Ele, e entre nós, pois Jesus mesmo nos disse, “sem mim, nada poderão fazer”!

 

SEXTO DOMINGO DA PÁSCOA (13.05.12)

Jo 15, 9-17

“Amem-se uns aos outros”

 

            Poucos trechos do Evangelho de João são tão conhecidos como o de hoje, pelo menos pelas diversas frases lapidares tecidas dentro dele. Sobressai o tema básico do “amor” - como a característica que deve distinguir os/as discípulos/as de Jesus.

O amor é um dos temas preferidos da sociedade atual, como mostram os nossos cantos, poemas e novelas - mesmo que seja mais na fala do que na prática. Por isso, torna-se necessário recuperar o sentido profundo do amor nos Evangelhos. Até um estudo rápido mostra que o termo tem outro sentido do que aquele que a nossa sociedade liberal e consumista lhe atribui. Na sociedade atual, o amor não passa de um sentimento agradável, uma emoção, quando não de um egoísmo disfarçado. Tendo como base a emoção, torna-se temporário, volúvel, sem consistência, descartável. Passado o sentimento, termina o amor! Uma das consequências dessa visão pós-moderna é o alto índice de divórcios, de separações, de desistências de tudo que é compromisso, pois a base é como areia movediça, não sustenta o peso do dia-a-dia.

            O amor ao qual Jesus nos conclama tem outro sentido - é o amor “como eu os amei”. Como foi que Ele nos amou? Dando a vida d’Ele por nós. O amor torna-se uma atitude de vida e não um sentimento. A comunidade dos discípulos/as - a Igreja - deve ser uma comunidade de pessoas comprometidas com o projeto de Jesus, que veio “para que todos tivessem a vida e a vida plenamente” (Jo 10, 10). A comunidade cristã deve ser muito mais do que um grupo de amigos e companheiros (oxalá fosse isso também, pois frequentemente, nem isso é!) - deve ser uma comunidade enraizada no amor de Jesus, que é a Encarnação do Deus da vida, animada pelo seu Espírito e dedicada a criar o mundo que Deus quer.

A pedra-de-toque de uma comunidade cristã então não será o sentimento e a emoção, mas os frutos que ela dá, frutos que devem permanecer (v. 16) e que não devem evaporar com a instabilidade dos sentimentos. Tal comunidade vai ser comunidade de vida e partilha, da justiça e solidariedade, da verdadeira paz e dedicação. Saberá ultrapassar os limites da mera simpatia e atração, para assumir a vida de cada irmão e irmã como expressão do amor do Pai.

É interessante que, embora o trecho situe-se no contexto da véspera da paixão, Jesus fala da alegria completa. É impressionante como, em um mundo que propõe a satisfação imediata pessoal e a “felicidade já” como metas, garantidas pelo consumo e pelas posses, há tanta gente desanimada, triste, insatisfeita e deprimida. Quantos jovens, mesmo - ou talvez especialmente - nas classes mais abastadas, irrequietos e perdidos na vida. Pois, a alegria não vem somente das posses e dos bens materiais, e uma vida baseada sobre eles vai necessariamente elevar à frustração. Mas, também há muita gente, muitas vezes com uma vida sofrida e difícil, que irradia a verdadeira alegria e profunda paz, pois as suas vidas são alicerçadas sobre a rocha - uma vida de amor verdadeira, na doação de si, na busca de uma vida digna para todos. A sociedade do consumo nos aponta um caminho para a felicidade - sempre ter mais, em uma busca individualista de felicidade, que só pode nos levar à alegria falsa dos shows de Faustão ou Sílvio Santos. Jesus nos aponta o caminho para a verdadeira alegria - uma vida de amor-doação, de busca da justiça e solidariedade, que tem a alegria não como meta, mas que a traz como consequência.

Não há nenhum mandamento “simpatizai-vos uns com os outros”, mas há o mandamento do amor! Para isso, precisamos de uma vida fortemente fundamentada no Evangelho e no seguimento de Jesus, pois se não temos, será impossível sustentá-la. Jesus nos quer como “amigos” e não servos, ou seja, pessoas que livremente assumem o seu projeto. Assim assinala que a religião não deve ser simplesmente o cumprimento de uma série de leis e regulamentos, mas o seguimento de um projeto de vida, continuador da sua missão, no mundo atual. Um projeto além das nossas forças humanas, pelo qual precisamos do dom sempre renovado do Espírito Santo, um dom que nos é garantido, pois, como diz o texto “o Pai dará a vocês qualquer coisa que vocês pedirem em meu nome” (v. 16). É um projeto que nos coloca na contramão da sociedade atual, mas, que nos garante uma vida realizada e plena, que os falsos ídolos do consumismo são incapazes de nos dar. “O que mando é isso - amem-se uns aos outros”. (v. 17)

 

FESTA DA ASCENSÃO DO SENHOR (20.05.12)

Mc 16, 15-20

“Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa-Notícia para toda a humanidade”

 

O texto e Mc 9-20, que contém o fim do Evangelho de Marcos, interrompe o fio da narração precedente, é muito diferente em estilo e vocabulário do resto do Evangelho e está ausente dos melhores e mais antigos manuscritos. Por isso, normalmente está designado nas nossas bíblias como “Apêndice” provavelmente escrito no segundo século, e baseado basicamente no Capítulo 24 de Lucas, com alguma adição de João 20 e com referências de fatos narrados em Atos. Embora não acrescente nada de novo para uma melhor compreensão de Jesus e dos acontecimentos pós-pascais, traz elementos muito importantes para a vida da Igreja hoje.

Destaca-se muito o mandamento missionário de Jesus - o de levar a Boa-Nova para toda a humanidade (Mt 28, 18-20). A Igreja é por sua natureza missionária, e uma Igreja que descuidasse desse mandato estaria traindo a sua identidade. Porém, faz-se necessário distinguir entre “missão” e “proselitismo”. Igrejas proselitistas têm como meta angariar fiéis de outras Igrejas para a deles. Giram ao redor de si mesmas, identificando a sua Igreja institucional com o Reino de Deus. Uma Igreja missionária tem como objetivo levar a Boa-Nova do Reino para todas as culturas e religiões, respeitando-as, sendo testemunha dos valores do Reino de Deus e ajudando a pessoas de boa vontade a descobrirem a presença do Reino - e do anti-Reino - nas suas próprias culturas e tradições religiosas. Um aprofundamento desse mandato nos fará lembrar que nós não somos donos da missão - a missão é do próprio Deus, cujo Filho Jesus foi o primeiro missionário da Trindade. Ele deixou uma comunidade de discípulos/as para continuar a sua missão da implantação do Reino de Deus, e nós somos herdeiros dessa missão. A serviço dela existem diversos carismas, ou dons do Espírito Santo, para o bem de todos. Mas, ninguém está dispensado dessa tarefa missionária, fechando-se na sua própria comunidade, movimento, ou Igreja - pelo contrário, devemos sentirmo-nos unidos aos irmãos e irmãs do mundo todo e comprometidos com a construção da sociedade justa e solidária que será uma concretização da Boa-Nova do Reino de Deus. O objetivo da missão a longo prazo é de reunir a humanidade inteira no Reino de Deus (que ultrapassa as fronteiras da Igreja visível). Fazemo-lo através da proclamação explícita da Boa Nova, e no estabelecimento de um diálogo respeitoso com membros de outras tradições religiosas, convidando homens e mulheres a pertencer a uma comunidade de testemunho e serviço e levando a cada ser humano a missão divina de uma salvação integral.

O texto explicita alguns elementos importantes nessa atividade missionária: “expulsão de demônios”: expulsando da convivência humana os sinais do mal, do anti-Reino, que escraviza e oprime milhões de pessoas, através de estruturas econômicas, sociais e até religiosas, de exclusão; “falando línguas”: como em Pentecostes, criando uma nova língua do diálogo e respeito, a linguagem do amor, justiça e solidariedade; “vencendo veneno”- superando tanto veneno semeado durante milênios na convivência humana, expressado através do racismo, machismo, clericalismo, e todos os “ismos” que excluem e nos dividem; “curando doentes”: lutando na prática para que “todos tenham a vida e a tenham plenamente” (Jo 10, 10), como fez Jesus, não somente fazendo curas individuais, mas, restaurando a saúde integral, das pessoas e da criação, através da vivência comunitária e individual do projeto de Jesus. Seria trágico se esses elementos ficassem reduzidos à busca de “milagres” duvidosos, à falação de supostas “línguas dos anjos”, e à satanização de tudo, confundindo expressões de desequilíbrio emocional com a presença diabólica.

Durante séculos, muitas vezes os cristãos do Brasil - e de muitas outras regiões - têm se acomodado com a vivência de uma religião individualista, acomodada e frequentemente alienada dos problemas do mundo. Vivíamos uma separação artificial entre o mundo e o espiritual, entre a prática religiosa e a transformação social. O mandato de semearmos a Boa Nova do Reino nos ajuda para que sejamos mais fiéis a Jesus - não somente à sua pessoa, mas também à sua prática e mensagem, levando a Boa Notícia do Reino a toda a humanidade.

 

DOMINGO DE PENTECOSTES (27.05.12)

At 2, 1-11

“Todos ficaram repletos do Espírito Santo”

 

A liturgia de hoje nos apresenta a descida do Espírito Santo sobre a comunidade dos discípulos, em duas tradições - a de Lucas (Atos 2) e da Comunidade do Discípulo Amado (João 20). Salta aos olhos que uma leitura fundamentalista da bíblia - infelizmente ainda muito comum entre nós - leva a gente a um beco sem saída, pois em João, a Ressurreição, a Ascensão e a Descida do Espírito se deram no mesmo dia (Páscoa), enquanto Lucas separa os três eventos, durante um período de cinquenta dias. Assim, devemos ler os textos dentro dos interesses teológicos dos diversos autores - os 40 dias de Lucas, por exemplo, entre a Ressurreição e a Ascensão, correspondem aos 40 dias da preparação de Jesus no deserto, para a sua missão. Pois, como Jesus ficou “repleto do Espírito Santo” (Lc 4, 1) e se lançou na sua missão “com a força do Espírito” (Lc 4, 14), a comunidade cristã se preparou durante o mesmo período, e na festa judaica de Pentecostes também experimentou que “todos ficaram repletos do Espírito Santo” (At 2, 4).

            Uma leitura superficial do texto de Atos dá a impressão de um relato uniforme e coeso - mas, isso se deve à habilidade literária do autor. Na verdade, ele costurou um relato só, tecendo elementos de duas tradições. Uma leitura cuidadosa nos mostra essas duas tradições: a primeira está nos vv. 1-4, uma tradição mais antiga e apocalíptica; a segunda está nos vv. 5-11, mais profética e missionária.

Nos primeiros versículos, estamos no ambiente de uma casa, onde os discípulos se reuniram. Atos nos faz lembrar que estavam reunidos três grupos distintos: os Onze; as mulheres, entre as quais Maria a mãe de Jesus; e, os irmãos do Senhor. Embora talvez representem três tradições cristológicas diferentes no tempo de Lucas, ele faz questão de enfatizar que todos estavam reunidos com “os mesmos sentimentos, e eram assíduos na oração” (At 1, 14). Ou seja, a descida do Espírito não é algo mágico; mas, consequência da unidade na fé e no seguimento do projeto de Jesus.

            O primeiro relato (vv. 1-4) usa imagens apocalípticas, símbolos da teofania, ou da manifestação da presença de Deus - o som de um vendaval e as línguas de fogo. A expressão externa da descida do Espírito é o “falar em outras línguas” (não o “falar em línguas”- glossolalia - tão valorizado por muitos grupos de cunho neo-pentecostal).

A segunda tradição muda o enfoque. O ambiente muda, da casa para um lugar público - provavelmente o pátio do Templo. O sinal visível da presença do Espírito não é mais o falar em outras línguas, mas o fato que todos os presentes pudessem “ouvir, na sua própria língua, os discípulos falarem” (At 1, 6). O termo “ouvir” aqui implica também “compreender”. Três vezes o relato destaca o fato dos presentes poderem “ouvir” na sua própria língua (vv. 6.8.11). Assim, Lucas quer enfatizar que o dom do Espírito Santo tem um objetivo missionário e profético - de fazer com que toda a humanidade possa ouvir e compreender a nova linguagem, que une todas as raças e culturas - ou seja, a do amor, da solidariedade, do projeto de Jesus, do Reino de Deus.

            A lista dos presentes tem um sentido especial - estão mencionadas raças, áreas geográficas, culturas e religiões. Todos ouvem as maravilhas do Senhor. Lucas ensina que a aceitação do Evangelho não exige deixar a identidade cultural. Contesta a dominação cultural, ou seja, a identificação do Evangelho com uma cultura específica. Durante séculos, este fato foi esquecido nas Igrejas, e identificava-se o Evangelho com a sua expressão cultural europeia. Nos últimos anos, a Igreja tem insistido muito na necessidade da “inculturação”, de anunciar e vivenciar a mensagem de Jesus dentro das expressões culturais das diversas raças e etnias. O texto é uma releitura da Torre de Babel, onde a língua única era o instrumento de um projeto de dominação (uma torre até o céu) que foi destruído por Deus pela diversidade de línguas. Nenhuma cultura ou etnia pode identificar o Evangelho com a sua expressão cultural dele.

Hoje é uma grande festa missionária. Marca a transformação da Igreja de uma seita judaica em uma comunidade universal, missionária, mas não proselitista, comprometida com a construção do Reino de Deus “até os confins da terra”. Mas, Lucas insiste que a experiência de Pentecostes não se limita a um evento - é uma experiência contínua - por isso relata novas descidas do Espírito Santo: em uma comunidade em oração em uma casa (At 4, 31), sobre os samaritanos (At 8, 17), e, para o espanto dos judeu-cristãos ortodoxos, sobre os pagãos na casa do Cornélio (At 10, 4). Pois, o Espírito Santo sopra onde quer, sobre quem quer, em favor do Reino de Deus.

Aprendamos do texto de Atos, e celebremos a nossa vocação missionária, não a de falar em línguas, mas de falar a língua única do amor e do compromisso com o Reino, para que a mensagem do Evangelho penetre todos os povos, culturas, raças e etnias.

 

Jo 20, 19-23

 

            No texto anterior ao de hoje, a Maria Madalena trouxe a notícia da Ressurreição aos discípulos incrédulos. Agora é o próprio Jesus que aparece a eles. Não há reprovação nem queixa nas suas palavras, apesar da infidelidade de todos eles, mas somente a alegria e a paz, que já tinha prometido no último discurso. Duas vezes Jesus proclama o seu desejo para a comunidade dos seus discípulos - “A paz esteja com vocês”. O nosso termo “paz” procura traduzir - embora de uma maneira inadequada - o termo hebraico “Shalom!”, que é muito mais do que “paz” conforme o nosso mundo a compreende. O “Shalom” é a paz que vem da presença de Deus, da justiça do Reino. Como cantamos, “da justiça nascerá a paz.” Jesus não promete a paz do comodismo; mas, pelo contrário, envia os seus discípulos na missão árdua em favor do Reino, prometendo o Shalom, pois, Ele nunca abandonará quem procura viver na fidelidade ao projeto de Deus.

            Jesus soprou sobre os discípulos, como Deus fez (é o mesmo termo) sobre Adão quando infundiu nele o espírito de vida; Jesus os recria com o Espírito Santo.

Normalmente imaginamos o Espírito Santo descendo sobre os discípulos em Pentecostes; mas, aquilo era a descida oficial e pública do Espírito para dirigir a missão da Igreja no mundo. Para João, o dom do Espírito, que da sua natureza é invisível, flui da glorificação de Jesus, da sua volta ao Pai. O dom do Espírito neste texto tem a ver com o perdão dos pecados.

Que a celebração nos anime para que busquemos a criação de um mundo onde realmente possa reinar o Shalom, não a paz falsa da opressão e injustiça, mas do Reino de Deus, fruto de justiça, solidariedade e fraternidade. Jesus nos deu o Espírito Santo - agora depende de nós usarmos essa força que temos, na construção do mundo que Deus quer.

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Pe. Tomaz Hughes, SVD

E-mail: thughes@netpar.com.br

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