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JORNALISMO - UMA QUASE ROTINA DE
EXPERIÊNCIAS
Ao recordar algumas de minhas
experiências como jornalista, pretendo
fazer, desta conversa informal com
estudantes e colegas iniciantes na
profissão, uma oportunidade para
trocarmos idéias e análises de situações
quase rotineiras, mas que, de qualquer
modo, valem a pena ser objeto de uma
reflexão crítica.
CAUTELA POLÍTICO-PARTIDÁRIA
Na década de sessenta, assinei diversos
artigos políticos, publicados em jornais
nordestinos e no Distrito Federal. Foram
matérias informativas, mas escritas com
o coração, ditadas por sinceridade e
emoção: em pouco tempo descobri que a
melhor atitude teria sido deixar aqueles
textos para os que estavam atuando como
assessores das personalidades
envolvidas, motivo pelo qual estariam
cumprindo a sua obrigação, fazendo
conhecidos os projetos e as plataformas
apresentadas aos eleitores. Quanto a
mim, jornalista trabalhando com a
produção e redação de programas
televisivos e radiofônicos de caráter
cultural (Rádio Alvorada, Rádio
Planalto, TV Nacional, TV-Rádio Clube de
Pernambuco, Rádio Tamandaré), teria sido
uma decisão melhor esperar o tempo
passar, enfim aguardar a evolução dos
fatos ou a realização das promessas, ou
fazer uma pesquisa pessoal de maior
profundidade, desenvoldida durante um
período de tempo mais extenso, com a
finalidade de investigar e analisar em
três dimensões: a informação no passado,
presente e futuro; indivíduos,
contextos, hipóteses de conseqüências,
alternativas, efeitos possíveis. Alguém
poderia chamar isso de rigor
desnecessário para os
não-historiadores... Contudo, haveria o
benefício de se revisar a situação, um
tanto sem pressa para a interpretação
dos fatos mais próxima da verdade.
ASSOCIAÇÕES E CENTROS ACADÊMICOS
As recordações incluem atividades nas
lideranças estudantis, participando da
edição de jornais, boletins, elaboração
de folhetos e cartazes, redação de
telegramas, com o objetivo de obter
maior participação dos alunos nas
associações e diretórios (secundários e
universitários). Também nessas
contribuições, comecei a compreender que
nem sempre a pressa – para atender às
supostas urgências – produzia resultados
e atitudes confortáveis para os
responsáveis por palavras e frases de
efeito, verificando que as declarações
precipitadas se tornavam, depois, bem
difíceis de serem defendidas por um
período mais longo. As reuniões e os
debates, antes da divulgação de
opiniões, mostravam-se cada vez mais
essenciais, principalmente quando as
equipes aceitavam se deter um pouco mais
no estudo dos interesses locais,
regionais e nacionais.
Por vezes, foi necessário, ainda, pensar
em termos internacionais. Ainda bem que
os erros, quando visíveis, podiam ser
desculpados com expressões como
“idealismo dos jovens”, “falta de
experiência”, “arroubos da juventude”.
Mesmo assim, os deslizes (individuais ou
do grupo) me causavam aquele conhecido
aperto de coração, um remorso por saber
que não teria mais como revisá-los, para
não citar uma sensação humilhante no
intelecto.
SUCESSO TOTAL OU ANÁLISE FALHA?
Em outras circunstâncias, parece que
tudo saiu melhor do que esperávamos,
como ao recordar, com alegria e
satisfação profissional, o trabalho
desenvolvido com a equipe do Centro de
Comunicação Social do Nordeste – CECOSNE
– uma obra elogiada por organizações de
apoio às comunicações não-comerciais,
sediadas na Europa e na América do
Norte. Relembramos, entre colegas de
jornalismo, também envolvidos com o
CECOSNE, as ações de divulgação e a
execução de cursos para o treinamento
visando à produção de programas de
rádio, TV e a realização de filmes,
assim como no planejamento de eventos
criativos, para despertar a atenção de
leigos e profissionais, num esforço para
atrair o apoio da comunidade e o
interesse dos patrocinadores.
E se não achamos defeito em tantas
campanhas avaliadas como vitoriosas,
isso não é garantia de paz com a
consciência: talvez tenha ocorrido
alguma negligência não-detectada; ou
alguém se calou, por omissão, malícia ou
caridade, nos artigos que assinou; ou
falhamos na interpretação de alguns
acontecimentos. Contudo, o gosto do
sucesso faz bem a todos nós, pobres
mortais, eternamente em busca da
imortalidade pelo mérito de nossas
ações, sempre originalíssimas... Para
não cairmos em tal acomodação,
aconselha-se o que nunca é demais:
refletir nas palavras, e,
principalmente, no conteúdo da matéria,
procurando, mesmo na rotina das
atividades, um contínuo aperfeiçoamento
profissional.
COMUNIDADE ACADÊMICA
Debruçadas sobre exaustivos estudos,
pesquisando com olhos mais para o futuro
do que para o imediatismo do presente
(na maioria dos casos), as universidades
oferecem uma oportunidade especial para
os assessores de comunicação. Minhas
recordações indicam a importância de se
exercer uma permanente "sociabilidade
cultural" no exercício do jornalismo,
com ênfase nas publicações da editora
universitária, na edição dos
informativos, nas promoções do
departamento de assuntos culturais e nas
produções radiofônicas, televisivas e
cinematográficas. A preocupação com a
qualidade acadêmica deve incluir, ao
mesmo tempo, um esforço para tornar
informações e análises mais acessíveis,
em termos interdisciplinares, com o
objetivo de congregar comunidades
diferentes, como, por exemplo, nas
campanhas direcionadas a públicos
externos, inclusive de níveis culturais
diversos.
CINECLUBE DOS EDUCADORES
Para os que vêm acompanhando as minhas
atividades como fundadora responsável
pelo CINECLUBE DOS EDUCADORES, é fácil
compreender que se trata de uma proposta
de formação de um público atento aos
aspectos visuais e ao conteúdo das obras
cinematográficas e de outras
manifestações artísticas e culturais.
A finalidade é apoiar, prestigiar e
recomendar bons filmes (nos cinemas, nas
locadoras de vídeo, na TV e em
cineclubes diversos); os sócios não
pagam taxas ou mensalidades; prestigiam
eventos locais e nacionais; e,
principalmente, fazem intercâmbio de
informações e opiniões. Em sua maioria,
os associados são educadores: pais,
professores, orientadores, psicólogos,
psiquiatras, jornalistas, escritores e
outros profissionais que, conscientes da
importância do cinema, participam e/ou
recomendam filmes e debates sobre essas
obras (na família, na escola, nas
diferentes comunidades).
Para cada membro, existe a opção de
atuar espontaneamente, de acordo com as
suas tendências pessoais e segundo as
suas possibilidades; o material de
leitura, estudo ou divulgação, pode ser
distribuído aos interessados, com
frequência, durante a realização de
mostras (as chamadas de "alternativas"
ou as comerciais); os contatos são
informais (telefônicos/pessoais/via
fax/internet), como a promoção de
reuniões e a elaboração de sugestões. O
diálogo tem um papel muito especial
nesse esquema de admiração pelo cinema e
as artes em geral, nas suas
manifestações culturais através dos
tempos, com a sua estética e sua
evolução, em suas formas de expressão
artística.
O TOQUE MÁGICO DO OLHAR
Neste século do olhar, a imagem nos toca
de várias maneiras; os sentimentos criam
uma face externa; os “travellings” podem
nos arrancar de uma posição estática; as
cenas congeladas talvez tenham o dom de
uma varinha mágica, transformando algo
em nossa vida, no âmbito pessoal ou
profissional. Talvez as superposições
consigam nos fazer visualizar as nuanças
de um personagem, ou nos incentivem um
olhar mais profundo, nos closes
inesquecíveis...
As épocas distantes se aproximam, voltam
a ocupar nosso pensamento, e uma revisão
histórica ocorre, como conseqüência de
um diálogo acentuado pela trilha sonora,
uma paisagem indescritivelmente linda,
uma expressão facial pungente. Eis que
não somos mais indiferentes àqueles
conflitos geograficamente distanciados,
porque contemplamos, com grande emoção,
suas dores universais. Talvez porque nos
determinemos a rejeitar qualquer
explicação ou desculpa para as guerras,
um posicionamento moral consciente,
porque um filme nos fez vivenciar, no
coração, as sucessões de tragédias
causadas por conflitos entre nações,
povos e regiões.
Apesar de tudo, também somos convidados
a rir com situações imaginárias ou de
nosso dia a dia. Que as risadas também
sejam inteligentes, revelando uma
percepção maior, uma compreensão das
situações reproduzidas na tela ou
criadas pelo roteiro.
Com direção e interpretação de
qualidade, mesmo os não-românticos
chegam a vibrar com o lirismo de algumas
obras cinematográficas, descobrindo
sentimentos em si mesmos que se
esforçavam para manter escondidos.
Para surpresa de muitos, a proposta do
CINECLUBE DOS EDUCADORES ousa se definir
como educação dinâmica da sensibilidade:
ver, sentir, refletir criticamente,
perceber, agir!
Theresa Catharina de Góes Campos
Cineclube dos Educadores
Brasília-DF, 1988 |
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