SE É “MEU CHEFINHO”, DEVE SER UM CHEFÃO
Tereza Halliday – Artesã de Textos
A conversa era sobre chefes detestáveis ou amados. Ouvi sobre patrões omissos, arrogantes, especialistas em assédio sexual, praticantes de assédio moral - doutores em técnicas de humilhação e destrato. Caladões que eram hábeis e justos; falastrões que não sabiam orientar nem se fazer respeitar. Houve também depoimentos edificantes sobre aqueles que conseguem tudo com seu jeito persuasivo de propor, incentivar, elogiar. Não precisavam gritar, nem usar de ironias, nem cair no ridículo de proclamar “Quem manda aqui sou eu!”. Quem sabe mandar, não precisa de bravata. De repente, alguém comentou (e, sem saber, inspirou este texto): “se, na ausência dele, a gente o chama carinhosamente “meu chefinho”, é porque é um chefão!”.
Pensei em meu pai, engenheiro da Rede Ferroviária, falecido repentinamente aos 54 anos, em cargo de diretoria. Seus funcionários “choraram de fazer dó”, como na toada de Caymmi. Na sua equipe, ninguém brincava em serviço, nem ele precisava levantar a voz. Faziam tudo para ele e por ele, sensíveis à sua dose equilibrada de firmeza e mansidão. Tive uma colega de trabalho que enchia facilmente os olhos d´água e chorava a cada despedida dos nossos chefes transferidos para outro lugar. Certa vez, um colega descrevia antigo diretor, que eu não conhecera. Para convencer-me de que se tratava de um PP (patrão peste), concluiu: “Basta dizer que, quando ele foi embora, Linda não chorou!”. A maioria dos meus chefes deixou saudades. Somente um foi presença deletéria. Ganhou o apelido secreto “o ogro”. A mim e a minha colega de sala nunca destratou, mas tinha o nariz empinado e era rude com os funcionários mais humildes, criando um clima de revolta e constrangimento que fazia mal a todos nós.
Não é fácil ser chefe. Mas, qual tipo de chefe uma pessoa é, depende de que tipo de pessoa ele/ela já era quando recebeu o cargo de mando. As piores pressões não transformarão uma pessoa boa e educada em chefe mal-educado, desalmado e desamado. É uma arte fomentar entusiasmo, saber corrigir incentivando, impor-se sem ser no grito. Que mágica é essa dos chefes que conseguem respeito, dedicação, produtividade, bem-querer? Meus grandes “chefinhos” sabiam a receita: Gérard Licari, Antonio Camelo, Claude de Hennezel, Ramón Garcés, Jim Sease. Este último, até hoje meu amigo. Bem-aventurados os bons chefes, porque conhecerão sucesso e gratidão.
(Diário de Pernambuco, 07/05/2012)