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AMOR E LIMITES
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Autores e ilustradores de livros de histórias
para crianças, da Editora Bagaço, costumam ser
convidados a visitar escolas, para discutir seu
trabalho com os leitores. Recentemente,
participei de mais uma entrevista em sala de
aula, onde me apraz dar esta dica, em
cumplicidade com a professora, que já bateu na
mesma tecla: tudo o que você escreve precisa ser
lido, relido e reescrito, até ficar bem bom. Em
todos os encontros com meus pequenos leitores,
alguém me pergunta: “Como você se tornou
escritora?” e “Quantos anos você tem?”. Pelos
olhos arregalados com a resposta, os “baixinhos”
devem me achar muito velha. Mas me dão abraços e
desenhos com dedicatórias carinhosas.
É comum não prestarem atenção ao colega que está
com a palavra, nem à minha resposta. Por isto,
repetem a pergunta anterior, quando chega a sua
vez. Alguns se sentam quase colados à autora e
grudam os olhos nela. Outros ficam quietos
“sonhando” bem longe dali; outros precisam ser
repreendidos pela professora para não bagunçar.
Disse-me uma orientadora pedagógica: “a
desatenção vem piorando ano a ano. A dispersão é
muito grande”. Não se concentram, não esperam
sua vez. Se a mãe vem tratar de um assunto, o
filhote interrompe a conversa entre ela e a
diretora e clama por atenção. “E a mãe não faz
nada”. Síndrome dos pais assoberbados de
trabalho e com sentimento de culpa. Exaustos,
também eles desatentos, até mesmo durante o
famoso “tempo de qualidade”, que devem passar
com os filhos. Aí, são frouxos na disciplina,
pensando assim fazer-se amar, redimir-se, fazer
o filho feliz.
O pimpolho é amado, sim. Mas um amor fajuto,
pois a falta de limites desvirtua o amor. É
íngreme a missão de fazer do filho gente -
praticante do respeito, empatia, civilidade e
cooperação que a vida adulta requer. Não adianta
dar inglês, judô, computação, videogames. Se não
der limites como parte do amor, o fofinho vira
um pestinha e cresce pensando que tudo gira em
torno dele e que pode fazer ou comprar, sem
demora, tudo o que deseja. Cresce inapto para
conviver em um mundo onde são cada vez mais
necessários os bons modos, a concentração nas
tarefas, a paciência, a gentileza.
(Diário de Pernambuco, 21/05/2012).
Para: Tereza
Lúcia Halliday
Data: 21 de maio de 2012 21:16
Assunto: Re: Leiam este artigo excelente e
atualíssimo, nota DEZ MIL ! Que final! Parabéns,
Tereza Halliday!
De: Theresa Catharina de Goes Campos
Muito grata pelo endosso. Sua opinião me é muito
valiosa.
Abraços, Tereza Lúcia. |
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