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APENAS UMA NOITE
A temática, em
Apenas Uma Noite (Last
Night), de Massy Tadjedin, não
pode ser mais surrada: a do
adultério, da infidelidade na
vida conjugal. A questão, que
também se levanta, é
lugar-comum: qual dos dois, o
homem ou a mulher, é mais
propenso a trair? E a resposta
final já está deteriorada para
ser repetida, talvez, em todos
os quadrantes do mundo...
Então, o que, na
verdade, importa na película,
escrita e dirigida pela iraniana
Massy Tajdin que, com ela –
depois de ser autora do roteiro
e produtora de alguns filmes,
rodados nos EUA -, estreou, em
2010, há dois anos, portanto, na
direção? O que importa,
considerando ainda que o cinema
é realização coletiva, que
emprega mão-de-obra altamente
especializada, em grande
quantidade?
Importa, em primeiro lugar, o
roteiro que, nessa ocasião,
apesar de ser tecido com várias
improbabilidades, apresenta
diálogos bem elaborados, curtos
e precisos. Em segundo lugar, o
charme da linguagem
cinematográfica, de toque
feminino - isto é, de muita
sensibilidade ( demonstrada
particularmente na cena final),
e não pouca sensualidade -, com
a dinâmica narrativa, baseada
quase exclusivamente em planos
americanos, e pontuada por
adequada e bela trilha sonora de
Clint Mansell.
E importa também, pelas
interpretações, que complementam
não só as indicações do roteiro,
mas ainda as ideias e
insinuações do diretor. Isso se
dá por meio do trabalho
criativo dos atores, nesse caso,
o da inglesa Keira Knightley (Um
Método Perigoso), no papel
de Joanna Reed, e o do
australiano Sam Worthington (Avatar),
como Michael Reed. Sem esquecer,
contudo, a presença de Eva
Mendes (Os Donos da Noite),
como Laura, a estreia, em
Hollywood, do francês, Guillaume
Canet (O Último Voo), que
encarna Alex Mann e, numa ponta
expressiva, o americano Griffin
Dunne (Depois de Horas),
como Truman.
Passemos agora ao argumento –
que muitos não gostam de,
previamente, conhecer, já que só
lhes interessa a emoção que o
cinema lhes proporciona -, peça
muito necessária, entretanto, a
uma análise mais aprofundada de
qualquer filme. Aqui, tem-se de
chamar a atenção, inicialmente,
do espectador, não para o
argumento propriamente dito, mas
para o artifício de linguagem,
usado, ao início, pela diretora
Masssy Tadjedin.
Pois ela combina, paralelamente,
a ida e a volta, de táxi, do
casal Reed a uma festa, numa
casa suntuosa, de gente
relacionada com o trabalho de
Michael, sendo o regresso
diferenciado pelo fato de
estarem ambos, também no banco
traseiro do carro, mas
distanciados um do outro, cada
qual de rosto virado e de olhar
fixado para fora, isto é,
admirando, de faz de conta, o
belo cenário noturno das ruas de
Nova York, que é, da mesma
forma, personagem do filme.
É nessa festa que Joanna percebe
a existência de Laura (Eva
Mendes), fisgadora de seu
marido, que, com a desculpa de
pegar uma bebida, se mostra
muito solícito para com a nova
colega de trabalho. Ao chegar a
casa – um magnífico apartamento
em Manhattan - Joanna começa o
destampatório: - Quem é
aquela sua nova colega? Por que
você nunca me falou dela? Foi
com ela que você viajou e ainda
vai seguir amanhã para a
Filadélfia? Trêmulo, Michael
nega tudo, mas de forma inútil,
pois Joanna decide dormir no
sofá da sala.
No dia seguinte, o pobre
Michael, embora constrangido, se
vê forçado a viajar de trem, em
companhia de Andy (Daniel Eric
Gold) – que mora em seu mesmo
edifício -, e de Laura, que
cobre o percurso de trem de uma
hora, sentada ao seu lado. À
tardinha daquele mesmo dia, em
Nova York, Joanna, ao levar o
cão do vizinho Andy para dar uma
volta, quem ela encontra? Alex
Mann, um escritor igual a ela,
com quem viveu, em Paris, um
tórrido romance. E Joanna
refloresce de novo ao ser
convidada por ele a jantar, com
amigos, num restaurante da
cidade.
Embora a narrativa de Tadjedin
tenha elementos para prender, do
começo ao fim, a atenção do
espectador, seu grande pecado é
o de não extrair mais ironia dos
fatos expostos, que nada são
originais. Ela capricha na
ambientação – as sequências
transcorrem em casas e
apartamentos luxuosos, em finos
restaurantes e bares e, em um
hotel cinco estrelas, que tem
elegante piscina fechada -, na
cobertura fotográfica – da qual
se encarrega Peter Deming – e,
principalmente da marcação dos
atores em cena, de que extrai
excelente resultado.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
APENAS UMA NOITE
LAST NIGHT
EUA – FRANÇA, 2010
Duração -93 minutos
Direção – Massy Tadjedin
Roteiro – Massy Tadjedin
Produção –Christophe Riandee,
Massy Tadjedin e Nick Wechsler
Fotografia – Peter Daming
Trilha Sonora – Clint Mansell
Elenco – Keira Knightley (Joanna
Reed), Sam Wortinghton (Michael
Reed), Eva Mendes (Laura),
Gillaume Canet (Alex Mann),
Daniel Eric Gold (Andy). Griffin
Dunne (Truman)
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