Theresa Catharina de Góes Campos

  OS POLÍTICOS E A BONECA

Tereza Halliday – Artesã de Textos

Coquetel de testosterona com adrenalina só dá coisa boa se for para o amor. Em escalamento de time de pelada na praia, ou em disputa eleitoral , dá bôlôlô, segundo gíria antiga. “Uns hôme véio barbado, mas sem sabiduria”, diria seu Zequiel, acendedor de fogueira de São João na minha infância. Aquilo é que era fogueira bonita! Não esse fogaréu de contendas buscando fazer churrasco do opositor, dentro ou fora do partido. Um bando de afilhados de Zangado, anão de Branca de Neve, aspirantes a Dunga, Mestre ou Feliz.

Recente disputa entre pré-candidatos e candidatos a eleição municipal, fez-me lembrar deste poema de Olavo Bilac, decorado no curso primário (hoje, ensino fundamental): “Deixando a bola e a peteca / com que ainda há pouco brincavam,/ Por causa de uma boneca / duas meninas brigavam./ Dizia a primeira: “É minha” / “É minha!”, a outra gritava./ E nenhuma se continha / Nem a boneca largava. / Quem mais sofria, coitada / era a boneca: já tinha / Toda a roupa estraçalhada / e amarrotada a carinha. / Tanto puxaram por ela / que a pobre rasgou-se ao meio / Perdendo a estopa amarela / que lhe formava o recheio. / E ao fim de tanta fadiga / deixando a bola e a peteca / Ambas, por causa da briga / ficaram sem a boneca.”

Se algum leitor logo perceber em quem caem as carapuças e, se a contenda em questão não for do partido de sua preferência, tire o cavalinho da chuva, porque seu partido de estimação também é capaz de fazer a mesmíssima coisa. Às vezes, apenas com um gingado mais habilidoso nos golpes de capoeira. No final, quem mais sofre não é a boneca, é o eleitor. E acabam nos empurrando goela abaixo as tais alianças de jacaré com cobra d´água, em nome da governabilidade. Taí um aspecto civilizado da política!

Quando vejo candidato a plantonista quadrienal da gestão do município, estado ou país, na briga pelo cobiçado cargo, lembro deste comentário de um líder estudantil dos meus tempos de colégio, primo do governador de então: “A coisa melhor do mundo é ser governo!”. Apesar dos abacaxis e pepinos, das olheiras, do envelhecimento visível ao fim do mandato, governo deve ser mesmo coisa muito boa. Quem não é, quer ser. Quem é, quer continuar sendo. Felizmente existem eleições permitindo seguir o conselho de Eça de Queiroz: mudar os políticos e as fraldas com frequência – pela mesma razão.

(Diário de Pernambuco, 18/06/2012).
 

Jornalismo com ética e solidariedade.