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OS POLÍTICOS E A BONECA
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Coquetel de testosterona com adrenalina só
dá coisa boa se for para o amor. Em
escalamento de time de pelada na praia, ou
em disputa eleitoral , dá bôlôlô, segundo
gíria antiga. “Uns hôme véio barbado, mas
sem sabiduria”, diria seu Zequiel, acendedor
de fogueira de São João na minha infância.
Aquilo é que era fogueira bonita! Não esse
fogaréu de contendas buscando fazer
churrasco do opositor, dentro ou fora do
partido. Um bando de afilhados de Zangado,
anão de Branca de Neve, aspirantes a Dunga,
Mestre ou Feliz.
Recente disputa entre pré-candidatos e
candidatos a eleição municipal, fez-me
lembrar deste poema de Olavo Bilac, decorado
no curso primário (hoje, ensino
fundamental): “Deixando a bola e a peteca /
com que ainda há pouco brincavam,/ Por causa
de uma boneca / duas meninas brigavam./
Dizia a primeira: “É minha” / “É minha!”, a
outra gritava./ E nenhuma se continha / Nem
a boneca largava. / Quem mais sofria,
coitada / era a boneca: já tinha / Toda a
roupa estraçalhada / e amarrotada a carinha.
/ Tanto puxaram por ela / que a pobre
rasgou-se ao meio / Perdendo a estopa
amarela / que lhe formava o recheio. / E ao
fim de tanta fadiga / deixando a bola e a
peteca / Ambas, por causa da briga / ficaram
sem a boneca.”
Se algum leitor logo perceber em quem caem
as carapuças e, se a contenda em questão não
for do partido de sua preferência, tire o
cavalinho da chuva, porque seu partido de
estimação também é capaz de fazer a
mesmíssima coisa. Às vezes, apenas com um
gingado mais habilidoso nos golpes de
capoeira. No final, quem mais sofre não é a
boneca, é o eleitor. E acabam nos empurrando
goela abaixo as tais alianças de jacaré com
cobra d´água, em nome da governabilidade.
Taí um aspecto civilizado da política!
Quando vejo candidato a plantonista
quadrienal da gestão do município, estado ou
país, na briga pelo cobiçado cargo, lembro
deste comentário de um líder estudantil dos
meus tempos de colégio, primo do governador
de então: “A coisa melhor do mundo é ser
governo!”. Apesar dos abacaxis e pepinos,
das olheiras, do envelhecimento visível ao
fim do mandato, governo deve ser mesmo coisa
muito boa. Quem não é, quer ser. Quem é,
quer continuar sendo. Felizmente existem
eleições permitindo seguir o conselho de Eça
de Queiroz: mudar os políticos e as fraldas
com frequência – pela mesma razão.
(Diário de Pernambuco, 18/06/2012). |
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