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REFLEXÕES SOBRE O FILME "À ESPERA DE
TURISTAS"
"À espera de turistas" - um filme que,
na opinião de todos que encontrei,
surpreendeu pela originalidade na
apresentação de um tema tão difícil (não
obstante continuar atualíssimo...), e
por se apresentar como obra bem
despretensiosa na aparência, diz "além"
da imagem, pois as cenas "comuns"
constituem, igualmente, matéria para
reflexão, comentário e análise. Parecem
"quase nada"..., banais,
rotineiras...todavia, urge que nos
detenhamos nelas, procurando o que
revelam, as atitudes, as falas e os
silêncios. O passado não está apenas no
Museu de Auschwitz...faz parte do
presente, encontra-se nos dias atuais...
Como será a presença desse passado, no
futuro? Acredito que cabe a nós decidir
de que forma essa presença continuará.
Penso que a maldade perpetrada, sem
limites de crueldade, no campo de
concentração em Auschwitz, na Polônia,
assim como em outros campos similares,
além de feridas interiores abertas para
sempre, individuais e coletivas, também
deixou marcas visíveis, mesmo quando se
pretende disfarçá-las. Cicatrizes não
devem ser ignoradas... Na cidade próxima
ao campo de lembranças terríveis, onde
agora existe um Museu, para que a
memória daquelas atrocidades se
transforme em repúdio e permanente
denúncia , condições para que jamais
venham a se repetir, o jovem voluntário
não recebe um bom acolhimento. Pessoas
nada cordiais não agem ali como se
dispusessem a aceitá-lo. Esse tratamento
frio, muitas vezes provocador, é a
reação, inclusive, do idoso sobrevivente
do campo de concentração, a quem o
voluntário está servindo, fazendo para
ele várias tarefas, para lhe facilitar a
rotina de vida.
Os gestos, as posturas de rejeição, essa
"violência menor" (ora, qualquer nível
de violência é violência e, portanto,
abominável!...) da agressividade
cotidiana vai se repetindo e,
lamentavelmente, torna-se um indicador
de que poderá se perpetuar... No mínimo,
em se tratando de um jovem que chegou
àquele lugar porque fez uma opção, ao
invés de prestar serviço militar,
representa um exemplo chocante de
omissão junto ao indivíduo que ali se
encontra sozinho, fora de seu ambiente e
longe de seu grupo.
Percebe-se um processo negativo , uma
oportunidade preciosa que se perde , de
sensibilizá-lo desde a juventude.... O
recém-chegado enfrenta uma situação de
isolamento, como se estivesse em
quarentena, porque seria um habitante de
outro planeta que ali desembarcara sem
convite. Alguém diferente, que deve ser
conservado à distância. Sozinho e
solitário. Sem direito a fazer parte, a
se integrar... De qualquer forma, o que
se fala naquela cidade não diz a
verdade. As palavras significam o
contrário da realidade...Ou nada
significam. Não são enigmáticas. São
mentirosas.
O ciclo repetitivo de atitudes
afigura-se por demais assustador. O
potencial para uma existência em
comunidade, a oportunidade para a
conscientização do protagonista (e de
outros personagens) parecem, de fato,
momentos perdidos. Como aceitar essa
ausência de aprendizado para uma vida em
sociedade? Vimos o passado. conhecemos o
presente...já deveríamos começar a nos
amedrontarmos com o que nos acontecerá
no futuro?
Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo-SP, 16 de julho de 2012
Ler também:
http://www.theresacatharinacampos.com/comp4938.htm
Querida irmã Therezita,
Obrigada pelas informações deste filme
premiado no Festival de Munique de 2007
que passou despercebido e não vimos.
Estaremos dia 13 de julho na Polônia e,
no roteiro de nossa viagem de ônibus,
passaremos pela pequena cidade, onde
visitaremos o antigo campo de
concentração cujos pavilhões, agora
transformados em museu, dão testemunho
dos horrores que ali ocorreram. Já li
seus comentários e, após nosso
regresso, poderemos assistir ao filme.
Será um complemento para aumentar nossos
conhecimentos a respeito das cidades na
Europa Oriental que sofreram tanto com
as guerras, mas conseguiram se reerguer
, e hoje, mostram uma lição de vida e
coragem ao mundo. (...) Victoria |
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