Theresa Catharina de Góes Campos

  REFLEXÕES SOBRE O FILME "À ESPERA DE TURISTAS"

"À espera de turistas" - um filme que, na opinião de todos que encontrei, surpreendeu pela originalidade na apresentação de um tema tão difícil (não obstante continuar atualíssimo...), e por se apresentar como obra bem despretensiosa na aparência, diz "além" da imagem, pois as cenas "comuns" constituem, igualmente, matéria para reflexão, comentário e análise. Parecem "quase nada"..., banais, rotineiras...todavia, urge que nos detenhamos nelas, procurando o que revelam, as atitudes, as falas e os silêncios. O passado não está apenas no Museu de Auschwitz...faz parte do presente, encontra-se nos dias atuais... Como será a presença desse passado, no futuro? Acredito que cabe a nós decidir de que forma essa presença continuará.

Penso que a maldade perpetrada, sem limites de crueldade, no campo de concentração em Auschwitz, na Polônia, assim como em outros campos similares, além de feridas interiores abertas para sempre, individuais e coletivas, também deixou marcas visíveis, mesmo quando se pretende disfarçá-las. Cicatrizes não devem ser ignoradas... Na cidade próxima ao campo de lembranças terríveis, onde agora existe um Museu, para que a memória daquelas atrocidades se transforme em repúdio e permanente denúncia , condições para que jamais venham a se repetir, o jovem voluntário não recebe um bom acolhimento. Pessoas nada cordiais não agem ali como se dispusessem a aceitá-lo. Esse tratamento frio, muitas vezes provocador, é a reação, inclusive, do idoso sobrevivente do campo de concentração, a quem o voluntário está servindo, fazendo para ele várias tarefas, para lhe facilitar a rotina de vida.

Os gestos, as posturas de rejeição, essa "violência menor" (ora, qualquer nível de violência é violência e, portanto, abominável!...) da agressividade cotidiana vai se repetindo e, lamentavelmente, torna-se um indicador de que poderá se perpetuar... No mínimo, em se tratando de um jovem que chegou àquele lugar porque fez uma opção, ao invés de prestar serviço militar, representa um exemplo chocante de omissão junto ao indivíduo que ali se encontra sozinho, fora de seu ambiente e longe de seu grupo.

Percebe-se um processo negativo , uma oportunidade preciosa que se perde , de sensibilizá-lo desde a juventude.... O recém-chegado enfrenta uma situação de isolamento, como se estivesse em quarentena, porque seria um habitante de outro planeta que ali desembarcara sem convite. Alguém diferente, que deve ser conservado à distância. Sozinho e solitário. Sem direito a fazer parte, a se integrar... De qualquer forma, o que se fala naquela cidade não diz a verdade. As palavras significam o contrário da realidade...Ou nada significam. Não são enigmáticas. São mentirosas.

O ciclo repetitivo de atitudes afigura-se por demais assustador. O potencial para uma existência em comunidade, a oportunidade para a conscientização do protagonista (e de outros personagens) parecem, de fato, momentos perdidos. Como aceitar essa ausência de aprendizado para uma vida em sociedade? Vimos o passado. conhecemos o presente...já deveríamos começar a nos amedrontarmos com o que nos acontecerá no futuro?

Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo-SP, 16 de julho de 2012
Ler também:
http://www.theresacatharinacampos.com/comp4938.htm
 

Querida irmã Therezita,

Obrigada pelas informações deste filme premiado no Festival de Munique de 2007 que passou despercebido e não vimos. Estaremos dia 13 de julho na Polônia e, no roteiro de nossa viagem de ônibus, passaremos pela pequena cidade, onde visitaremos o antigo campo de concentração cujos pavilhões, agora transformados em museu, dão testemunho dos horrores que ali ocorreram. Já li seus comentários e, após nosso
regresso, poderemos assistir ao filme. Será um complemento para aumentar nossos conhecimentos a respeito das cidades na Europa Oriental que sofreram tanto com as guerras, mas conseguiram se reerguer , e hoje, mostram uma lição de vida e coragem ao mundo. (...) Victoria

 

Jornalismo com ética e solidariedade.