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IRENA SENDLER & JANUSZ KORCZAK
De: artemis coelho
Data: 19 de julho de 2012 19:18
Assunto: Irena Sendler & Janusz Korczak
Para: theresa.files
Aproveito para enviar um pouco mais sobre Irena
Sendler e lembrar também Janusz Korczak - homem
maravilhoso por quem sempre tive a maior
admiração desde o dia em que soube de sua
existência, através de seu livro "Como amar uma
criança". Espero que goste.
Um abraço carinhoso,
Artemis
AQUI ESTÁ A GRANDE OPORTUNIDADE DE TODOS NÓS
PASSARMOS A CONHECER E VALORIZAR ESSE SER HUMANO
ESPECIAL – "IRENA SENDLER"
Janusz Korczak: Como amar uma criança...
Rafael F. Scharf
Vice-Presidente da Associação Internacional
Janusz Korczak da Inglaterra
A vida de Janusz Korczak é tão tocante que, ao
contá-la, é necessário evitar a ênfase patética
que se impõe, a fim de permanecer-se fiel àquele
sobre o qual falamos.
Ele era, na mais profunda acepção do termo, um
homem simples, toda afetação lhe era estranha. É
certo que ele não imaginava que seu nome seria
célebre, e é por isto que cada vez que o
glorificamos publicamente, inaugurando um
monumento em sua homenagem, eu me pergunto qual
seria o seu comentário se sua boca de pedra
pudesse falar.
Sua história foi recontada inúmeras vezes e
continuará sendo, porque ela mostra melhor, sem
dúvida, não importando o caso particular, o
horror inexprimível da última guerra e a
exterminação dos judeus poloneses.
Em 5 de agosto de 1942, durante a liquidação do
gueto de Varsóvia, os hitleristas ordenaram o
agrupamento das crianças do orfanato de Korczak
e o envio das mesmas ao campo de morte de
Treblinka. O ‘Velho Doutor’ reuniu duzentos
pupilos, os fez colocar-se sabiamente em
fileiras e, à sua frente, partiu com eles para o
‘Umschlagplatz’, no cruzamento das ruas Stawki e
Dzika, onde todos foram colocados em vagões de
carga e enviados para os fornos crematórios.
Esta marcha nas ruas do gueto foi vista por
algumas centenas de pessoas, e a silhueta
pequena de Korczak dirigindo-se para seu
calvário, inconsciente de seu heroísmo, fazendo
aquilo que lhe parecia evidente, excitava as
imaginações. A novidade espalhou-se
imediatamente, repetida de boca em boca com a
força de detalhes inventados: que Korczak
carregava nos braços os dois menores, coisa
pouco provável, porque ele mesmo estava doente e
tinha dificuldades em andar; que o ‘Jundenrat’
tinha intervindo no derradeiro momento e tinha
despachado em seguida um mensageiro atrás da
fila, portador de um salvo conduto somente para
Korczak, que foi por ele rejeitado com desprezo;
que para apaziguar as crianças ele tinha lhes
dito que iam em excursão e que eles, confiantes,
o seguiam sem choro e sem protesto. Mas nenhum
embelezamento é necessário diante dessa verdade
nua e crua; não é preciso ajuntar qualquer coisa
para torná-la mais eloqüente. A antítese do
espírito e das dificuldades é clara e
definitiva: um homem sábio por excelência,
desinteressado e bom, opondo-se aos covardes,
bárbaros obtusos, que se mostravam sob seu
aspecto mais satânico.
Entre os milhões de mortes anônimas, a de
Korczak tem um grande significado. Nos campos e
guetos, ele se tornou para muitos, uma
inspiração, pois aí o que mais ajudava a
sobreviver era a convicção obstinada e
indestrutível que a dignidade humana poderia
vencer , embora tudo parecesse provar o
contrário.
A imprensa clandestina dos campos mostra bem o
quanto esta derradeira caminhada sublime do
Velho Doutor foi um reconforto e uma dose de
ânimo para seus contemporâneos. A partir daí sua
glória tem crescido e o mundo fez de Korczak um
símbolo moral.
É preciso que nossa atenção à sua morte não
obscureça o caráter de sua vida. Henryk
Goldszmit (este era o seu verdadeiro nome –
Janusz Korczak foi um pseudônimo tirado de um
romance pouco conhecido de Kra Szewski) nasceu
em Varsóvia há pouco mais de cem anos numa
família abastada. O fato de seu pai ter sido um
advogado conhecido e seu avô um médico mostra
até que ponto o seu meio foi assimilado. Ele
cresceu na solidão, preservado das influências
do exterior, sem se dar conta de que era judeu e
sem saber o que isso significava. Antes de
terminar a escola ele perdeu o seu pai, atingido
por uma doença mental. A miséria sucedeu a
abundância. O jovem Henryk tomou sobre si, da
maneira como pode, o encargo de sua mãe e irmã,
e nos anos seguintes, freqüentemente passando
fome, estudou medicina com enormes dificuldades.
Quando, por fim, obteve seu diploma, as coisas
começaram a melhorar, contribuindo também para
isso sua reputação de escritor que se afirmava.
Mas isto não durou muito tempo. Repentinamente
um tipo de necessidade interior mudou
completamente seu destino.
Com trinta e quatro anos ele abandonou o
exercício da medicina para se ocupar de um
orfanato, que do início ao seu fim, permaneceu
associado ao seu nome. A idéia fixa de consagrar
sua vida às crianças parecia possuí-lo. Ele não
era um idealista ingênuo; o que o caracterizava
era uma compreensão extraordinária da criança e
a convicção da necessidade de lutar pelos seus
direitos no mundo governado pelos adultos. Ele
não tinha confiança no mundo governado pelos
adultos, mas como cada verdadeiro reformador ele
julgava que mesmo uma só pequena vela acesa
valia mais que lamentar-se de escuridão. Sua
intuição não excluía sua sensibilidade e ela
está edificada sobre uma observação constante,
clínica, poder-se-ia dizer, sobre um estudo
minucioso dos fatos. Totalmente absorvido por
sua única idéia, não havia lugar nele para tudo
que os outros davam tanta importância –
dinheiro, a celebridade, um lar, uma família.
Seu orfanato, construído e mantido
exclusivamente graças às doações de pessoas
caridosas, era destinado às crianças dos bairros
pobres de Varsóvia. A obtenção de fundos para
fins de caridade tinha então, como hoje, seu
aspecto desagradável, que freqüentemente irrita
aqueles que dela dependem. Korczak balançava a
cabeça em desaprovação perante o preço do
material gasto para encerar o assoalho antes de
um baile de benemerência e ele se lamentava do
tempo que perdia com quem vinha visitar o
orfanato. Mas a força de sua personalidade fazia
que os doadores considerassem uma honra o
financiamento de seu trabalho.
No domínio da educação e da psicologia da
criança, ele era um pensador pragmático original
e, ao mesmo tempo, um pioneiro de princípios que
serviam de modelos para outros. Ele se esforçava
constantemente de refazer seu sistema baseado
sobre a compreensão das necessidades mais
profundas da criança. Sua influência se exercia
tanto por sua presença direta quanto pelo que
escrevia no jornal do orfanato preparado pelas
crianças e destinados à elas mesmas; a leitura
em comum dessa publicação era um acontecimento
semanal dos mais importantes. Conta-se que ao
longo de 30 anos de seu trabalho intenso, ele
jamais deixou de fornecer um artigo por semana à
redação. As regras do orfanato eram seguidas por
um código, cujo parágrafo 1000 previa como a
pena mais alta, a expulsão pura e simples. Cada
criança que tinha reclamação contra outra tinha
o direito de a fazer comparecer perante um
tribunal composto por seus colegas. Korczak
mesmo, se tivesse sido convocado, teria de se
apresentar perante este tribunal e de se
submeter a sua sentença.
À noite, após uma ronda em todos dormitórios, o
Velho Doutor retornava ao seu quarto no sótão, a
única ‘casa’ que ele teve durante toda a sua
vida adulta, e lá, até tarde da noite, ele
colocava ordem em suas notas e escrevia.
Ele era um escritor fecundo tanto no seu domínio
profissional quanto, e antes de tudo, na sua
criação para as crianças e sobre as crianças.
Seus livros ilusoriamente simples nas suas
formas e conteúdos, impregnados na mesma
proporção de melancolia e humor, refletindo seus
anseios interiores, muitas vezes satiricamente
áspero em relação a sociedade, sempre cheios de
emoção e compreensão, deixavam traços duráveis
na memória de seus leitores jovens e velhos,
destinando-se a ficar gravados na história da
literatura desse gênero.
Lá pelos meados dos anos trinta Korczak
envolveu-se em dois empreendimentos na
Palestina. O que ele aí viu o comoveu e o
refrescou espiritualmente. Sob o encorajamento
de numerosos amigos e antigos discípulos ele
começa então a pensar seriamente em fixar-se lá
para sempre. Mas havia obstáculos. O que o
atormentava sobretudo, era o medo de não
encontrar um sucessor adequado para continuar
seu trabalho em Varsóvia. Ou seja, o pensamento
de se afastar de sua terra natal lhe era
insuportável. Nas cartas que ele escrevia aos
seus amigos para explicar as causas de suas
hesitações ele invocava o ‘seu Vístula’ e ‘sua
Varsóvia bem-amada’, das quais ele jamais se
consolaria se tivesse que deixar. Além do mais,
ele estava sem dinheiro e hesitava em se colocar
dependente de qualquer um.
Quando os hitleristas fecharam os judeus de
Varsóvia dentro do gueto, o orfanato perdeu sua
casa à Rua Kruchmalna, do lado ‘ariano’, e
transportou-se para locais provisórios, no
interior dos muros do gueto. Naquele momento
Korczak já percebia melhor que a maioria das
pessoas que a máquina impiedosa os mataria a
todos. Mas ele pensava em não renunciar ao seu
direito de aliviar os sofrimentos. Alquebrado e
doente, cada dia ele reunia as forças que lhe
restavam e partia à procura de viveres e de
medicamentos para as crianças. Às vezes ele não
trazia nada de suas buscas obstinadas, outras
vezes ele voltava somente com uma ínfima parte
do necessário. Ele não temia solicitar com
impertinência, de mendigar, de envergonhar as
pessoas que se esquivavam de sua nobre ação. Nos
dias em que ele nada encontrava ele não hesitava
em dirigir-se mesmo aos piores especuladores e
opressores judeus. Apesar de fome incessante
cada vez mais insuportável e às doenças sempre
mais freqüentes, ele cuidava para que seu
orfanato funcionasse normalmente, a fim de que
seus alunos pudessem sentir-se bem.
Freqüentemente ele trazia dos locais mais
distantes uma nova criança encontrada na rua, no
fim de suas forças, para quem a bondade do Velho
Doutor significava a salvação durante algum
tempo ainda.
Nestas condições rigorosas levadas ao extremo e
que em tempo normal é difícil de se imaginar,
nós temos em Korczak, no seu trabalho cotidiano,
um exemplo do que pode fazer um genuíno homem
guiado pelo amor.
Sua vida é um modelo e somos tentados a ver
nele, nesta silhueta franzina revestida de
avental de inspetor que ele usava habitualmente,
um exemplo típico de toda uma geração, uma
encarnação da ‘idade da criança’. Sua grandeza,
que consistia nem mais nem menos em fazer seu
dever, podia ser aquela de qualquer um, e mesmo
sua morte trágica foi uma coisa comum, lá onde o
martírio estava na ordem do dia.
Durante o ‘Ano Korczak’, instituído pela UNESCO
para celebrar o centenário de seu nascimento, os
escritores, os sábios, as pessoas de boa vontade
em todas as partes do mundo, procuraram
enriquecer-se com o conhecimento desse homem e
de suas idéias, de sua vida e de sua morte,
através de livros, de artigos e simpósios.
É de se supor que graças a isto, numerosos são
aqueles que tomaram conhecimento do seu nome e
do que ele significa. Sem dúvida é na Polônia e
em Israel que ele é mais conhecido. Mas, nesse
mundo barulhento e apressado de hoje em dia, a
lembrança empalidece rapidamente. A despeito de
todos os esforços ela desaparece
progressivamente, sob uma massa de outros
negócios. Aqueles que amam Korczak e que crêem
na força de seu exemplo sentiam que era
necessário encontrar um modo mais concreto de
imortalizar sua figura e suas idéias. Assim
souberam com alegria que uma obra grandiosa
seria realizada na Polônia com a aprovação e a
sustentação financeira do governo: um Instituto
Científico de Proteção e Educação Janusz
Korczak.
Foi-lhe destinado um espaço deslumbrante de uma
centena de hectares lá onde Vístula – o Vístula
bem-amado de Korczak – contorna a localidade de
Lomianski. O projeto já está pronto.
É um empreendimento magnífico que levará seu
nome. Não uma estátua de bronze ou de mármore,
mas um centro cheio de vida, para onde virão
crianças de perto e de longe, onde elas
crescerão, se instruirão, se divertirão juntas,
próximas à natureza, numa atmosfera de
compreensão e boa vontade para com todos. Os
educadores e os professores aí se reunirão para
aprender observar, para participar das
experiências de trabalho com as crianças e os
adolescentes, para aproximar-se da realização
dos sonhos de Korczak, mesmo que isso seja um
passo apenas para um mundo no qual as crianças
possam viver felizes.
Anexo - Apresentação do powerpoint
IRENA SENDLER
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