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A VIDA DOS PEIXES
"A VIDA DOS PEIXES" (La vida de los peces -
Chile, 2010 - 84 min.,) de Matías Bize, vencedor
do Prêmio Goya, me agradou e comoveu. Além de me
surpreender.
Bastante realista, atual, narra um episódio
exemplificador da "vida que teria sido", mas não
se realizou.
A separação aconteceu quando o rapaz (Andrés),
apesar de manter, durante muitos anos, o
relacionamento amoroso que aparentemente estava
firme, não se mostrou confiante ou decidido a
assumir um compromisso mais sério com a moça
(Beatriz). Disse a ela: "vou dar um tempo de
três meses"... Prometeu um reencontro, ao
término desse período de avaliação à distância,
que seria no café onde costumavam se ver. E
viajou para trabalhar na Alemanha. Lá, fez uma
outra vida, inclusive com novos namoros, como se
tivesse cortado todos os laços com o seu país,
as suas conexões familiares, as amizades
antigas.Tornou-se jornalista, escrevendo sobre
viagens e atrações turísticas, coletando
informações de roteiros, hotéis e fazendo
sugestões.
A moça sofreu demais com o afastamento dele (com
a surpresa traumática do "vou dar um tempo de
três meses...", que se estendeu, na ausência
física e no silêncio, por uma década sem
comunicação!), no entanto, soube reunir forças
para seguir em frente. De acordo com seu relato,
casou com um homem que a amava e teve filhas
gêmeas. Andrés, que se afastara por completo, ao
fazer um breve retorno à terra natal, vai ao
aniversário de um amigo. Andrés encontra-se
diante da existência que todos construíram sem
abandonar as raízes, a vida com esposa e filhos,
o círculo de amizades, antigas e novas, as
gerações mais jovens.
O emigrante Andrés compreendeu que, permanecendo
longe das suas origens, afastado da família e
dos amigos, não se mostrou capaz de fazer uma
vida para si mesmo, um ambiente de convivência e
laços afetivos. Nesse reencontro posterior com o
seu passado, cenário de "A vida dos Peixes",
durante a reunião festiva, embora prosaica, nada
especial, ele interpreta a mensagem da realidade
tão visível quanto inegável. Todos os que
deixara para trás seguiram na convivência e na
construção dos relacionamentos iniciados há
longo tempo, estabelecidos no passar das épocas,
que atravessaram a juventude sem ficarem
esquecidos nas curvas do caminho. Prosseguiram,
com novas fases e características, com algumas
transformações, aceitas com naturalidade.
No desenrolar do filme, repete-se a imagem dos
peixes no aquário, movimentando-se de um lado a
outro, entretanto, como o solitário viajante,
não conseguem sair daquela situação limitada em
que respiram, se alimentam e vivem. Andrés
percebe, sabe que chegou de outros lugares
carregando a solidão de sempre.
No reencontro com a moça deixada para trás,
mostrando ele a permanência da sua indecisão,
Beatriz expressa o sofrimento pelo abandono. Tem
consciência, porém, das circunstâncias
diferentes, ao declarar que, no passado
distante, na sua vida só havia o amor por Andrés
....ao contrário da situação atual, sendo ela
esposa e mãe.
Presenciamos um último diálogo, na tela, entre
os dois. Parece que existe uma possibilidade
nova, uma oportunidade para que se realizem
antigas promessas. Se tomarem essa decisão,
estando Beatriz em outras circunstâncias, ela
lhe faz uma pergunta essencial. Se ele seria
capaz de lhe dar apoio e as forças de que ela
precisará para viver ao lado de Andrés. Contudo,
uma resposta afirmativa não oferece garantia do
que acontecerá...Afinal, as condições são mesmo
diferentes. Porque, no ambiente dos seres
humanos, há nuanças nos sentimentos e no
comportamento exterior das pessoas.
Talvez porque o tempo não volte atrás...porque,
na verdade, mesmo de forma imperceptível, a vida
segue, continua e se transforma... O tempo não
pára, não espera por nós.
(No meu coração, o filme repercute. Pela virtude
teologal da Fé, acredito que Deus espera por
nós, tenho certeza. Aquela graça divina, porém,
que nos foi oferecida por Ele, num momento de
nossa vida, e não a reconhecemos como bênção ou
não a valorizamos, já se afastou de nós. Como
Deus não desiste de nós, espera por nós, vai nos
oferecer,
em outro momento, outra graça, mas diferente da
anterior, por nós ignorada, porque não será
aquele instante que deixamos passar, será em
outro momento, por conseguinte, uma dádiva
diferente. Não haverá um resgate daquele tempo
que passou, nem oportunidade idêntica, nem
semelhante - será um recomeço diferente, uma
nova oportunidade.)
Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo, 28 de julho de 2012
A VIDA DOS PEIXES
FICHA TÉCNICA
Diretor: Matías Bize
Elenco: Santiago Cabrera, Blanca Lewin, Antonia
Zegers, Victor Montero, Sebastián Layseca, Juan
Pablo Miranda, Antonia Zegers, Matías Jara,
Pedro del Carril, María Gracia Omegna
Produção: Adrián Solar
Roteiro: Matías Bize, Julio Rojas
Fotografia: Bárbara Álvarez
Trilha Sonora: Diego Fontecilla
Duração: 84 min.
Ano: 2010
País: Chile
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Estação Filmes
Estúdio: Ceneca Producciones
Classificação: 14 anos
http://www.lavidadelospeces.cl/La_vida_de_los_peces.html |
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