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“VESTIDO DE SIMPLICIDADE E UTOPIA”
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Padre Mário da Lixa é assim conhecido por viver
e trabalhar em Macieira da Lixa, Felgueiras,
distrito do Porto, Portugal. Celebrou
recentemente 75 anos de idade e meio século de
sacerdócio. Em seu currículo, atribulada
história de militância política, prisão,
absolvição, jornalismo profissional e trabalho
pastoral. Atualmente, dinamiza pequenas
comunidades “sororais, fraternas, em cujo seio
nunca chegue a desenvolver-se o mais leve
vestígio de hierarquia ou poder”. Eis sua
autodefinição: “Compreendo-me como um padre
católico longe dos templos e dos altares,
melhor, sem templo nem altar. Não, nem sequer
sou original. O meu mestre, Jesus de Nazaré, foi
historicamente assim”.
Entre suas publicações, destaco: Na Companhia de
Jesus e de Ateus – Livro dos Actos Século XXI
(2006); Com Farpas, mas com Ternura (2003); Em
Memória delas – Livro de Mulheres (2002); Como
fui expulso de Capelão Militar (1995); No
Princípio era o Amor (1980); Evangelho de Jesus,
o camponês artesão de Nazaré, o filho de Maria,
segundo Maria, mãe de João Marcos, e Maria
Madalena (2012, 2ª. Edição). Seu 40º livro está
prestes a ser lançado pela Ediumeditores: Salmos
– Versão Terceiro Milénio”. Foi considerado
“padre irrecuperável” e destituído de seu cargo
de pároco. Mas prossegue evangelizando, mesmo
“sem ofício pastoral atribuído”. Em 1988, fundou
e ainda dirige o semanário “Fraternizar”, hoje
periódico online: www.jornalfraternizar.pt.vu.
Tem e-mail, celular, mural no Facebook, filmes
no YouTube, vive de modesta aposentadoria de
jornalista e doa a renda de seus direitos
autorais ao Barracão de Cultura. Muito amado e
execrado, Pe. Mário de Oliveira gera polêmicas
por suas palavras contundentes e atos
solidários, como discípulo de Jesus – não aquele
dos cristianismos, faz questão de frisar.
De seus escritos, para o leitor matutar: “Nascer
e morrer são só mistério – nenhum terror./ A
ciência, quando se arroga senhora absoluta, fica
ainda pior do que o Papa. Torna-se ainda mais
cruel. / Nada mais perverso do que uma grande
inteligência sem afectos./ Só o olhar feminino
nos faz humanos./ Por que temos tanto tempo para
futilidades e futebóis e nenhum tempo para
Palavras Lidas e Escutadas?/ O mercado deveria
ser um simples instrumento a nosso serviço e não
o nosso dono. /Os seres humanos foram sempre
muito hábeis em esconder seus interesses mais
perversos sob o manto do sagrado”. “Vestido de
simplicidade e utopia”, como a personagem de um
de seus contos, Pe. Mário quer ver implementadas
“práticas económicas, políticas e culturais
feitas de misericórdia e de perdão”. E alerta:
“Sem o amor praticado, a vida é um pesadelo e o
mundo um absurdo”. Sábias palavras.
(Diário de Pernambuco, 27/08/2012)
From: Theresa Catharina de Goes Campos
To: terezahalliday
Sent: Monday, August 27, 2012 5:00 PM
Subject:VESTIDO DE SIMPLICIDADE E UTOPIA -
Tereza Halliday
Parabéns, estimada Tereza Lúcia, por seu
corajoso artigo sobre um evangelizador de
coragem que eu não conhecia. Com certeza por eu
continuar a ser uma católica tradicional e
disciplinada que vive, desde a infância, numa
família igualmente tradicional na prática do
catolicismo. Entretanto, já comecei a divulgar
o texto assinado por você.
Abraços carinhosos de
Therezita
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De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 29 de agosto de 2012 22:49
Assunto: Resposta:VESTIDO DE SIMPLICIDADE E
UTOPIA - Tereza Halliday
Para: Theresa Catharina de Goes Campos
Querida Therezita:
Muito grata por sua largueza e senso
jornalístico, que beneficiam esse meu artigo ao
merecer de você ampla divulgação.
Vim a saber sobre o Pe. Mário porque um leitor
português leu um artigo meu chamado "Propaganda
Religiosa" e enviou-me de presente dois livros
do Pe. Mário, por sentir afinidades entre nós.
Fiquei impressionada com os livros (mesmo não
concordando com alguns aspectos e não entendendo
outros, por falta de embasamento teológico). As
citações que escolhi divulgar parecem-me
enriquecedoras para qualquer leitor.
Ao contrário da sua experiência pessoal, cresci
numa família cristã pouco tradicional: mãe
católica, pai e avó materna espíritas
kardecistas. Fui batizada, crismada e casada no
rito católico.
Quando chegou a hora de fazer primeira comunhão,
Papai impôs uma condição: "Faz primeira
comunhão, sim, mas não vai usar vestido de
ostentação, que não combina com o Jesus dos
pobres". Naquela época, havia competição entre
as mães de Caruaru (onde passei a infância) para
ver quem vestia a filha com mais luxo, para a
ocasião. Mamãe costurou-me um vestidinho
simples, branco e Papai tirou a "foto oficial".
Depois da cerimônia, minha avó espírita disse:
"Agora que você quis fazer primeira comunhão,
deve assistir à missa todos os domingos".
Coerência era com ela.
Um dia lhe conto a história toda.
Carinhoso abraço, Tereza.
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