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A
FILHA DO PAI
Talvez o título em português, A
Filha do Pai (La Fille du Puisatier), não
exprima bem o sentido poético que o renomado
ator Daniel Auteil, em sua estreia como diretor,
desejou extrair da crônica de costumes
interioranos, feita pelo romancista Marcel
Pagnol, responsável também pela primeira versão
cinematográfica (1940) de sua obra literária.
O principal objetivo de Auteil, ao
realizar essa refilmagem de um dos romances mais
populares da literatura francesa, foi certamente
a de prestar homenagem ao seu autor, primeiro
cineasta eleito para a Academia Francesa de
Letras. A ele Auteil deve a oportunidade de se
tornar mundialmente conhecido por suas
inesquecíveis atuações (1986) em Jean de
Florette – como o jovem Ugolin - e,
na sequência, Manon des Sources,
películas, da mesma forma, ambientadas no meio
rural.
O cenário é o da Provence,
reproduzido em imagens de Jean-François Robin.
A história, que se passa antes da I Guerra
Mundial, é a de uma jovem de dezoito anos,
Patricia Amoretti (Astrid Bergès-Frisbey), filha
de um cavador de poços, Pascal Amoretti (Daniel
Auteil), já prometida em casamento ao ajudante
dele, Felipe Rambert (Kad Merad). Vez por outra,
Felipe faz as refeições na casa do patrão que,
abandonado pela mulher, cria, além de Patricia,
mais cinco filhos, um deles ainda de colo.
Certo dia, Patricia, bonita, de
gestos finos, pois foi criada num colégio em
Paris, ao levar ao campo a comida do pai e a de
Felipe, conhece Jacques Mazel (Nicolas
Duvauchelle), um rapaz de vinte e seis anos,
igualmente vistoso e de boas maneiras. A
despeito da recusa dela, ele a sustém em seus
braços para transpor as águas de um riacho, além
do qual Pascal e Felipe trabalham na perfuração
de um poço.
Alguns dias depois, no vilarejo, Patricia vai
saber que Jacques é aviador – com a farda da
Aeronáutica, ele demonstra suas habilidades,
pilotando um monomotor e fazendo, sob o aplauso
da comunidade e ao som de uma banda de música,
“ousadas” piruetas no céu – e filho único do
rico casal M. Mazel (Jean-Pierre Darroussin e
Mme. Mazel (Sabine Azèma). Então tudo acontece.
Ao ser levada para casa por Jacques, de moto, em
noite de luar, Patricia se rende às suas
investidas. Fica grávida, enquanto ele parte
para a guerra. O conflito da honra a ser
reparada se transfere para o âmbito dos pais. Os
de Jacques se mostram irascíveis ante o pedido
de Pascal, que vai procurá-los, acompanhado de
Patricia e dos outros filhos. Eles dizem que não
querem saber da criança que vai nascer.
O
melodrama de Marcel Pagnol está de prazo
vencido, ou en retard ao contexto social
dos dias atuais. Os sessenta anos decorridos
pesaram muito sobre a validade do texto,
problema esse que nem a adaptação, nem a mise
en scène de Daniel Auteil, infelizmente, não
conseguem contornar. O estilo de narrativa do
estreante diretor é, nesse sentido, bastante
antiquado ou de patética alienação a tudo o que
se faz atualmente em termos de reconstituição de
temas já batidos pela ação do tempo.
De qualquer forma, porém, além do paisagismo, a
película tem como atrativos uma trilha sonora
como sempre brilhante de Alexandre Desplat –, em
que se destaca a canção napolitana Cuore
Ingrato - e interpretações de muito bom
nível. Auteil confere dignidade a Pascal
Amoretti, interpretado, na versão original, por
Fernandel. Kad Merad faz de Felipe Rambert uma
figura interiorana muito característica.
Jean-Pierre Darroussin e Sabine Azèma, no
desempenho do casal Mazel, recriam duas
criaturas azedas e cheias de empáfia. Nicolas
Duvauchelle encarna com discrição Jacques Mazel,
que molda suas atitudes pela mesma disciplina
com que atua na vida militar. Astrid
Bergès-Frisbey, como Patricia Amoretti,
parece mais uma boneca de biscuit, frágil e
indefesa ante as surpresas da vida.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
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FICHA TECNICA
A
FILHA DO PAI
LA FILLE DU PUISATIER
França / 2011
Duração – 147 minutos
Direção – Daniel Auteil
Roteiro – Marcel Pagnol e D. Autail
Produção - Alain Sarde
Fotografia – Jean-François Robin
Trilha Sonora – Alexandre Desplat
Elenco – Daniel Auteil (Pascal Amoretti), Kad
Merad (Felipe Rambert), Jean-Pierre Darroussin
(M. Mazel), Sabine Azèma (Mme. Mazel), Astrid
Bergès-Frisbay (Patricia Amoretti), Nicolas
Duvauchelle (Jacques Mazel). |
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