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POLISSIA
Em Polissia (Polisse), a cineasta Maïwenn –
prêmio do Júri do Festival de Cannes – pinta um
quadro estarrecedor da sordidez humana, ao
focalizar o dia a dia de um órgão policial
francês, que cuida de crimes contra menores, com
penas previstas, nos termos do Código Penal, de
até vinte anos de cadeia. Os casos são, às
vezes, tão escabrosos, muitos deles ocorridos no
âmbito da “sagrada família”, que contagiam o
estado de ânimo dos próprios policiais e causam
perturbadores reflexos em suas vidas amorosas e
na atividade profissional.
Tão atordoante quanto Entre Os
Muros da Escola (2008), de Laurent Cantet ,
o filme é, da mesma forma, baseado em fatos
reais, de feição , portanto, documental, mas com
o assumido caráter de ficção. Foi rodado com a
câmara manual de Pierre Aïm, bastante intimista
e quase constantemente trêmula. O roteiro,
escrito por Maïwenn, em colaboração com
Emmanuelle Bercot, fundamenta seu entrecho na
chegada à Brigada de Proteção a Menores (BPM)
da fotógrafa Melissa (Maïwenn) para documentar
a missão dos estressados policiais, integrantes
da corporação, vinculada ao Ministério do
Interior.
O que Melissa vai verificar, mas sem
tomar posição, sequer de narradora – uma das
falhas do roteiro -, é que o sistema de proteção
ao menor está contaminado por uma série de
fatores, que vão desde o exagero da legislação
específica até à maneira torpe, arbitrária, pela
qual os policiais desejam fazê-la cumprir, a
ferro e fogo. Não têm eles noção do que é impor
autoridade. Talvez por isso a grafia do título
seja errada, tomada de empréstimo , por sinal,
de um escrito do filho da diretora, em fase de
alfabetização. Sem conhecer o princípio
universal, de que, a priori (ou até que surja
prova em contrário), todos são inocentes, atuam
os inquiridores aos berros, ofendem os
inquiridos com palavrões e, às vezes, até os
esbofeteiam. O clima é de muita tensão e de
irregularidades.
São duas crianças que questionam,
inicialmente, o sistema: a primeira é filha de
um dos policiais, que, à noite, antes de se
deitar, indaga do pai o significado de
“pedofilia”, palavra por ela frequentemente
ouvida nas conversações em casa. Ao obter a
resposta de que se trata de uma doença que leva
um adulto a abusar de um menor, ela pergunta: -
se for assim, não seria mais apropriado
encaminhar o doente a um hospital?... Não para
a cadeia, acrescenta. Outra criança, molestada
por um professor de educação física, ao saber da
punição que ele poderia sofrer, pede à
autoridade que isso não aconteça sob o argumento
de que é um mestre muito bom e a trata com
afeição. Ao final, essa mesma criança, mais
crescida, demonstra estar apta a se tornar uma
grande ginasta.
Uma das sequências mais tocantes é a
da chegada à BPM de uma africana, que deseja dar
o filho de oito anos aos policiais, pois não
quer que ele continue dormindo com ela ao
relento. Agitados, os agentes procuram em vão
conseguir abrigo para ambos. A solução que
aventam é a mesma sugerida pela pedinte, ou
seja, ela continuará dormindo nas sarjetas,
enfrentando as noites geladas, enquanto a
criança será recolhida a um asilo. Só não
preveem eles a reação discordante do garoto,
que, no desespero, aos gritos, insiste em não
se separar da mãe. É nessa sequência que a
direção de Maïwenn fraqueja para ceder espaço a
certo pieguismo por meio da reação de um dos
policiais, dos mais neuróticos do grupo.
A grande força do filme não está no roteiro,
nem na direção de Maïwenn, que também não se
destaca como intérprete de Melissa, mas na
trilha sonora de Stephen Warbeck e nas
interpretações das demais personagens. O
conjunto é harmonioso e afinadíssimo. No desejo
de Maïwenn de conferir o máximo de autenticidade
ao filme, ela consegue extrair dos atores um
trabalho eficientíssimo, que, apoiado em sábias
improvisações, quase chega à perfeição.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
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FICHA TECNICA
POLISSIA
POLISSE
França -2011
Duração – 127 minutos
Direção – Maïwenn
Roteiro – Maïwenn e Emanuelle Bercot
Produção – Alain Attal, Arnaud Bertrand e
Dominique Boutonat
Fotografia - Pierre Aïm
Trilha Sonora – Stephen Warbeck
Elenco – Karin Viard (Nadine), Joey Stard
(Fred), Marina Foïs (Iris), Nicolas Duvauchelle
(Mathieu), Maïwenn (Melissa), Karole Rocher
(Chris), Emmanuelle Bercot (Sue Ellen),
Riccardo Scarmacio (Francesco). |
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