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De: Tereza
Lúcia
Halliday
Data: 19 de
novembro de
2012 14:49
Assunto:
LB-Artigo
quinzenal
19/11/2012
Aos queridos
leitores não
residentes
no Recife:
O shopping
center
focalizado
se chama
RioMar.
Abraços,
Tereza
VISITA À
CATEDRAL DE
CONSUMO
Tereza
Halliday –
Artesã de
Textos
Minha
cidade toda
se assanhou,
mas não foi
para ver a
Banda
passar, como
na canção
antológica
de Chico
Buarque. Foi
para ver um
novo
shopping
center
inaugurar.
Segundo
matéria
neste jornal
(DP
4/11/2012),
“uma onda de
consumo une
as classes
A, B, C, e
D”. O
evento gerou
rio e mar: o
primeiro, de
carros
paralisados
no trânsito;
o segundo,
de gente
alucinada à
procura das
promoções de
vendas na
esplendorosa
catedral de
consumo. Em
comparação,
os demais
shopping
centers da
área são
meras
capelinhas.
Foi o que
ouvi dizer.
Ainda não
fui lá.
Dizem que o
novo espaço
é magnífico
– o maior e
melhor do
gênero.
Quando
passar o
fuzuê da
novidade,
irei
conferir
calmamente.
Mesmo
porque, nada
do que está
à venda por
lá me é
necessário
para eu ser
feliz.
Os
revoltados
de plantão
não esperem
que eu vá
soltar os
cachorros
contra o
capitalismo.
Seria uma
imensa
hipocrisia,
pois minha
vida é muito
melhor com
os confortos
domésticos
fornecidos
por
indústrias e
lojas “do
sistema”.
Sou
“comprante”,
sim. O que
não consigo
é ser tiete
de
shopping.
Só vou a um
deles com
lista na mão
– uma pauta
de coisas a
procurar ou
resolver. Às
vezes, paro
para almoçar
ou tomar um
cafezinho.
Mas, depois
de duas
horas, vai
me dando um
abatimento,
um cansaço,
que só quero
sair dali.
Um amigo
levanta a
hipótese de
que esse
mal-estar
advém da má
circulação/renovação
do ar nos
shopping
centers em
geral, onde
o
dispendioso
equipamento
de
climatização
nem sempre
está nos
trinques.
Nos
shopping
centers,
desfruto da
limpeza, boa
iluminação e
piso sem
perigos, a
fim de
descansar
das ruas e
calçadas
destrambelhadas
por onde
caminho na
cidade real,
à espera de
que meu IPTU
seja melhor
empregado em
meu
benefício de
pedestre
contumaz.
Gosto de
chegar
quando o
shopping
abre e sair
assim que
noto o
burburinho
subindo de
tom. A
movimentação
crescente me
deixa
exaurida.
Começo a
comprar os
presentinhos
de Natal a
partir de
setembro, a
fim de
poupar-me
idas a
shoppings em
dezembro e
escapar do
inditoso
“clima
natalino” –
tática de
promoção de
vendas.
Estou
deixando a
poeira
baixar, o
rio amainar,
o mar
estabilizar-se.
Aguardo até
que tudo da
nova
edificação
esteja
plenamente
pronto e em
eficaz
funcionamento.
Degusto a
liberdade de
escolher
quando
visitar o
faladíssimo
shopping
center novo:
somente em
janeiro
2013. Com a
sensação
gostosa de
que eu
conduzo o
processo e a
propaganda
não manda em
mim. Sem
pretensões
de consumo,
irei lá
verificar a
arquitetura,
o tipo de
espaço, se
há lojas
novas do meu
interesse.
E, quem
sabe, talvez
até compre
uma
coisinha.
Mas só lá
para o fim
de janeiro.
Tem pressa
não, como
dizemos no
Nordeste.
(Diário
de
Pernambuco,
19/11/2012). |
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