Theresa Catharina de Góes Campos

  CURVAS DA VIDA

Como produtor e ator, o republicano Clint Eastwood está de volta
em Curvas da Vida (Trouble With the Curve), do estreante Robert Lorenz –
seu parceiro de produção em vários filmes -, que retrata as vicissitudes de
um olheiro de baseball já na fase da velhice, ameaçado de cegueira, o
qual insiste, ainda assim, a continuar trabalhando e demonstrando sua
capacidade de descobrir talentos.

Eastwood é Gus Lobel, um octogenário, que há longo tempo presta
serviço ao Atlanta Braves . Apesar de ser considerado, por décadas, um
dos melhores profissionais em sua área de atuação, seus métodos de
trabalho, distantes da informática, vêm sendo questionados pela direção
do clube, cujos integrantes – principalmente o seu amigo mais chegado
Pete Klein (John Godman) – o aconselham a se aposentar.

Mas ele não quer saber disso. Nem mesmo estando consciente,
depois de uma consulta médica, de que sofre de glaucoma, doença que
poderá cegá-lo de uma hora para outra. A filha Mickey (Amy Adams), que
disputa, com outros concorrentes, a vaga de sócia de um escritório de
advocacia em Atlanta, preocupada, deixa seus processos de lado para
forçar o pai a se cuidar. Ou até mesmo a ajudá-lo em sua missão, já que
ele planeja viajar para Carolina do Norte em busca de novos
arremessadores, que ele é capaz de identificar pelo simples ruído da
rebatida.

Os dois, entretanto, se entendem mal. Mickey guarda mágoa de
Gus pelo fato de ele a ter levado aos seis anos para ser criada por
parentes – caso mais ou menos semelhante ao de Gonzaguinha, em
Gonzaga – De Pai Para Filho -, após a morte da mãe num desastre de
carro. Além de viajar muito, Gus, segundo diz, não se sentia apto a tomar
conta da filha, como pai solteiro. De qualquer forma, pelo que ele lembra,
ela estudou em bons colégios e frequentou uma cara universidade.

Enquanto pai e filha assim se atormentam nesse entrevero, surge,
no meio do caminho, conduzindo um calhambeque, Johnny Flanegan
(Justin Timberlake), arremessador descoberto por Gus, que não se deu
bem na carreira por causa de um acidente. Ele procura, no momento, se
firmar também como olheiro, mas aspira a brilhar na cabine de locução.
Logo, como não poderia deixar de ser, ele se encanta com a beleza de
Mickey. E, na verdade, não só pela beleza, pois ela não para de receber
chamadas, pelo celular, do escritório, onde, pelo visto, nada se faz sem
ser ouvida a sua opinião.

Flanegan se impressiona ainda mais ao perceber o quanto Mickey
conhece da história do baseball americano, pois ela lhe faz extensas
dissertações sobre as partidas e as jogadas mais famosas ao longo do
tempo, revelando ser uma verdadeira enciclopédia do esporte. É à noite,
num bar, entretanto, que o espanto dele se torna maior, ao vê-la jogando
bilhar e atiçando os machos, que estão ao seu lado. Um deles, bêbado, se
atreve a tocá-la, recebendo logo um soco na cara de Gus, que a tudo
assistia um pouco mais de longe. Já Flanegan fica, em silêncio,
acomodado no lugar onde estava.

Se o argumento é vazio, o roteiro de Randy Brown não sabe
explorar, como deveria, algumas situações dramáticas mais expressivas. A
par disso, a narrativa de Robert Lorenz é lenta, quase arrastada, beirando
a vulgaridade. As interpretações, à exceção da de Amy Adams – lembram-
se dela contracenando, de igual para igual, com Meryl Streep em Dúvida?
- como Mickey, são pouco inspiradas. Os atores, no geral, se mostram
distantes de suas respectivas personagens. Clint Eastwood não faz
questão de ceder um milímetro de sua forte personalidade a Gus Lobel,
que centraliza em si a ação. E Justin Timberlake, como Johnny Flanegan,
não repete os êxitos de suas participações anteriores, como a de A Rede
Social.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

ROTEIRO, Brasília, Revista

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TROUBLE WITH THE CURVE

Direção – Robert Lorenz

Roteiro – Randy Brown

Produção – Clint Eastwood, Robert Lorenz e Michele Weisler

Fotografia – Tom Stern

Trilha Sonora – Marco Beltrami

Edição – Joel Cox e Gary Roach

Elenco – Clint Eastwood (Gus Lobel), Amy Adams (Mickey) justin
Timberlake (JohnnyFlanegan), John Goodman ( Pete Klein), Scott
Eastwood (Billy Clark).
 

Jornalismo com ética e solidariedade.