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MEU PAI, UMA PESSOA
INESQUECÍVEL*
Como homem, sei que
contentaria
Saint-Exupéry, por ser
uma pessoa de caráter
nobre, sentimentos
retos, honesto, íntegro
e justo.
Jamais humilha ninguém,
daí se dar bem com os
indivíduos simples, com
os seus subordinados, os
humildes. Sua lealdade é
perene; em nenhuma
ocasião age falsamente.
A preocupação em relação
ao conforto dos outros o
impele a entregar o
dinheiro para o ingresso
do motorista, quando vai
ao cinema com mamãe; a
se empenhar para
conseguir uniforme
grátis para o soldado,
quando viu a farda
rasgada. O Cabo Ramos
comentou: - “Se a gente
se atrasa, faz algo
errado, o Coronel se
zanga, repreende a
gente. Entretanto, nada
que se peça e ele possa
atender, deixa de ser
feito.”
Num domingo em que fomos
ao cinema do Quartel
General, observamos um
garoto quase caindo
junto a um ponto de
apoio no prédio baixo,
porque se acomodava em
local precário, na parte
externa, para de algum
modo conseguir assistir,
por uma janela, à
projeção de um filme de
ação. O pobrezinho não
tinha dinheiro para
comprar o ingresso.
Papai foi até o lugar,
junto a uma das
árvores... conseguiu
alcançar o braço do
“molequinho”, obrigando
o menino a descer.
Depois, sempre segurando
o assustado garoto,
levou-o à porta do
cinema e disse ao
bilheteiro que podia
deixá-lo passar, com a
sua autorização pessoal,
para assistir à sessão
cinematográfica lá
dentro, em uma das
cadeiras.
Certa ocasião em que
mamãe saiu para uma
programação oficial das
senhoras e chegou às
17h40min, papai disse a
ela que estava
preocupado por causa da
comida do Cabo
Nascimento, pois o
horário para o jantar se
iniciava, no refeitório
militar, às 17h30min,
ficando para quem
chegasse mais tarde a
alimentação que
restasse, uma sobra já
fria. Papai considera
sagrada a hora da
refeição de todos os
seus subordinados,
inclusive, de seu
motorista. Quando este
regressou, foi buscar um
bombom “Sonho de Valsa”
e chamou meu irmão: -
“Leve para o Cabo
Nascimento, dando como
se fosse coisa sua. Ele
nunca tem sobremesa.”
Admiro meu pai também
como aviador, observando
que é seguro, focado na
questão da segurança, em
todos os aspectos,
consciencioso e
responsável. A aviação
deixou-lhe marcas, no
rosto e na sua
personalidade, que o
tempo, longe de apagar,
só fará ressaltar ainda
mais. Mamãe não se
espanta com o fato dele
perceber tão prontamente
o que está errado, em
qualquer ambiente:
–“Na profissão de seu
pai, o menor erro pode
custar-lhe a vida.”
Está para sempre
guardada no meu coração
uma cena de minha
infância: papai, na sua
cadeira de piloto, na
cabine de um avião B-25,
com paciência e carinho
me dava biscoitos que
eram, metade “chupados”
por mim, a outra metade
jogados no chão, sem
maldade, mas pela minha
falta de jeito. Eu tinha
3 anos de idade; estava
sentada no seu colo, com
uma toalha à volta do
meu pescoço, me servindo
de guardanapo para
recolher os farelos
daqueles saborosos
biscoitos de aveia. Ele
se mostrava solícito,
demonstrando com
espontaneidade, muito
tranquilo e bem à
vontade, o seu afeto
paterno para comigo....
Eu não poderia mesmo
esquecer esses momentos.
Theresa Catharina de
Góes Campos
Recife-PE, 19 de abril
de 1963
*Dedicatória escrita nos
originais: A meu adorado
pai, com o amor de sua
filha Therezita
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