Theresa Catharina de Góes Campos

  SANGUINAIRES – A Ilha do Fim do Milênio
Theresa Catharina

"Sanguinaires – A Ilha do Fim do Milênio" (Les Sanguinaires – França, 1998 – 68 min.

Dirigido e co-escrito por Laurent Cantet, "Sanguinaires – A Ilha do Fim do Milênio" (Les Sanguinaires – França, 1998 – 68 min. – cor – 35 mm –dolby) se destaca pelo roteiro ( Gilles Marchand foi o co-roteirista), por seu tema e seus personagens, locações externas na Córsega (belas paisagens) e sua fotografia (de Pierre Milon). Outros destaques do filme, que integra a série "2000 visto por...": produção, direção, interpretação, apresentação dos créditos iniciais.

Lembramos que aquela proposta cinematográfica reuniu dez jovens cineastas de diferentes países que, com total liberdade e baixo orçamento, produziram obras sobre o dia 31 de dezembro de 1999.
Os principais nomes do elenco são: Frédéric Pierrot (François), Catherine Baugué (Catherine), Djallil Lespert (Stéphane), Marc Adjadj, Nathalie Bensard e Vincent Simonelli.

Drama existencialista contemporâneo, a ser apreciado por adolescentes e adultos, tem uma trama de suspense psicológico que envolve um grupo de crianças e jovens, levados por seus pais a uma ilha afastada com o objetivo explícito das famílias fugirem da agitação de Paris, poucos dias antes do ano 2000.

Em 7 de dezembro de 1999, François constata que "Todos querem ir para Nova York" . Ele propõe aos amigos uma viagem diferente, para a qual sairiam no dia de Natal, ficando todos os preparativos sob a sua responsabilidade.

"Encontrei o Paraíso – só paz e ar puro – sem estresse , sem coisas extraordinárias, sem TV nem rádio, nem contagem regressiva, nem fogos de artifício."

Na ilha onde vão se isolar voluntariamente, não há telefone nem computador - e a combinação com François foi que as comodidades tecnológicas não seriam trazidas nem usadas pelos amigos.
Quando chega o jovem vigia, Stéphane, com cinco horas de atraso, para abrir as portas do local onde se instalariam, todos já se mostravam apreensivos.

"Não há calefação! Ele não disse? Em geral, as pessoas vêm no verão."
Enquanto os adultos aparentemente desejam escapar dos ruídos e problemas urbanos, os jovens, pelo contrário, desde o início se mostram entediados, pois gostariam de participar da agitação própria da época festiva...As crianças, todavia, estão bem à vontade, se comunicando sem dificuldade com o rapaz desconhecido.

Vivendo situações para as quais, talvez, não estivessem na verdade preparados, os adultos divergem quanto às regras sociais a serem observadas naquela circunstância de intimidade forçada. Tentando impor a sua vontade, François discute muitas vezes e se indispõe com os companheiros de feriado.

"(...) perde-se em suas idiossincrasias e se afasta de todos."(Christian Petermann)

Catherine, sua mulher, reage às suas demonstrações de ciúme com relação ao vigia local.

A história de "Sanguinaires – A Ilha do Fim do Milênio " demonstra que existe uma realidade estressante, dentro ou longe das cidades - o estresse permanente, criado/renovado/alimentado sem trégua pelas relações humanas.

Mesmo sem os relógios que Catherine recolheu, o grupo se alegra com a visão longínqua dos fogos de artifício da cidade mais próxima, anunciando com luzes coloridas e ruídos que o Ano Novo chegou. Festejam de imediato, se abraçam e se beijam carinhosamente.

Mas onde estariam François, Catherine e seu filho Bruno? E o burro que Stéphane procurou, tão preocupado - o que acontecera, de fato, com o animal? François estaria sofrendo por estar deprimido, além de atormentado pelo ciúme da esposa e até por não estar liderando – como gostaria – o grupo de amigos para os quais preparou uma viagem tão especial?

Perguntas por demais pungentes, que o filme tem o mérito de levantar...embora não se curve (acertadamente) a qualquer obrigação de respondê-las.

Theresa Catharina de Góes Campos
 

Jornalismo com ética e solidariedade.