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COMO EU
GOSTO DE
NADAR?
(Aos meus
professores
de natação,
Juliana
Emiko Taroda
Gomes e
Emerson
Corona - São
Paulo-SP)
Como eu
gosto de
nadar?
Tranqüilamente...
Lanço-me de
peito na
água-espelho,
com o rosto
mergulhado e
os braços
como asas
impulsionadas,
ritmadas.
Como eu
gosto de
nadar, é bem
devagar,
lentamente,
tranqüilamente
reconquistando
o silêncio
que chega
bem devagar,
harmoniosamente,
em sintonia
com a água
que recebe
meu corpo
por inteiro.
Recebe, mas
não retém,
nem
aprisiona.
Abraça-me,
beija-me...
Sustenta e
acolhe e
logo me
liberta
docemente,
com
suavidade,
tranqüilamente.
Quando eu
nado sem
parar,
tranqüila e
calmamente,
é como se,
dentro de
mim, eu
alçasse vôo!
E nadar
deixa de ser
exercício,
porque
braços e
pernas
magicamente,
lentamente,
transformam-se
em asas,
emprestadas
pelos anjos,
permitindo a
contemplação
individual,
escondida,
de paisagens
íntimas,
interiores.
São asas e
olhos,
impulsos e
batidas do
coração e da
alma
pulsando
juntos!
Como eu
gosto de
nadar? Vou
repetir:
lentamente,
para ver
melhor as
paisagens
interiores
de minha
alma e me
reconciliar
com o mundo.
Para me
perdoar e
perdoar ao
próximo.
Porque só
nadando
lentamente,
suavemente,
harmoniosamente,
com o
sorriso que
ninguém vê,
enxergo a
harmonia
íntima de
meu corpo,
no seu
potencial de
comunicação.
Porque só
então eu me
aceito
(ainda que
temporariamente)
como sou...
nas
imperfeições
e limitações
que devo
corrigir.
Recebendo em
troca dessa
minha
aceitação,
que é ponto
de partida,
poder
enxergar na
água, que
acolhe o meu
corpo, sem
me prender,
as asas dos
anjos e das
borboletas
que recebi
emprestadas.
Enxergo
também o
rosto
invisível de
Deus, na
beleza
indescritível
da água,
fonte e
caminho,
embarcação e
porto, oásis
e viagem,
berço e
canção de
ninar,
espelho e
reflexo de
luz.
Como eu
gosto de
nadar?
Lentamente,
suavemente.
Porque a
velocidade
confunde a
minha mente,
desconecta-me
do corpo,
arranca de
mim as asas
que os anjos
me
emprestaram!
Faz-me cair
das mãos de
Deus, embora
eu saiba:
continuo sob
o Seu olhar.
A velocidade
me torna
ansiosa e
sobressaltada,
prisioneira
de objetivos
que não são
meus, de
pensamentos
que rejeito.
Fico
buscando,
como louca,
sem foco nem
rumo, onde
está meu
coração!
Como nadar
bem, se meu
coração saiu
pela boca?
Como gostar
de nadar, se
não encontro
minha
respiração?
Onde estão
as asas a
mim
emprestadas
pelos anjos?
Bem, se não
foram os
anjos, foram
as
borboletas...
Onde estão,
pergunto,
ansiosa,
essas asas
emprestadas?
Subitamente
rebelde,
intimamente
não aceito
essa
dicotomia
entre o
corpo e
minha alma.
Nadar assim,
não posso!
Nem gosto!
Sim, é
verdade que
eu devo e
posso
aprender...
exercitando
uma análise
mental, até
mesmo em
contexto de
dicotomia...
desde que
seja
temporária...
como se
fosse a
busca da
utopia a
permitir meu
crescimento
como pessoa,
mesmo
rebelde,
pesada e
limitada.
Envolvida,
embalada
pela água,
posso me
acalmar,
para
fragmentar e
decupar os
movimentos
da natação.
O melhor
pode vir
depois,
realizando a
montagem
final dos
movimentos.
Perceber que
a água é
comunhão e
livre
arbítrio, e
comunicação
do corpo com
a água que
recebe,
acolhe, sem
reter, nem
prender. Ao
invés de
aprisionar,
a água
liberta,
emprestando
as asas de
anjos e
borboletas.
Lá vou eu,
consciente,
singrando,
vencendo as
águas, sem
ser navio
nem barco,
praticando
silenciosamente
a maiêutica
das
perguntas
fundamentais.
Perguntando
para
aprender,
avançar e
crescer,
chego ao
porto da
hermenêutica,
ainda que
resmungando
íntima e
silenciosamente,
fotogramas
de rebeldia.
Afinal, para
que serve
essa
velocidade
toda nos
exercícios
de natação?
Eu nem vou
competir!
Nem sou
atleta...
Porque meu
exercício do
coração é a
leitura, é
escrever com
a inspiração
dos
"travellings"
cinematográficos
e as lentes
anamórficas
da alma.
Mesmo assim,
aprisionada
em rebeldia
pouco
inteligente,
procuro
raciocinar
tranqüilamente,
lentamente -
devo
reconhecer o
indiscutível...
Toda essa
velocidade,
que eu
preciso
praticar, é
para fugir
do excesso
de peso,
escapar das
doenças,
ficar bem
distante dos
hospitais. E
fugir também
(quem sabe,
no futuro,
nas
possíveis
aventuras),
de tubarões
velozes,
famintos e
das baleias
assassinas.
Em paz com a
verdade -
irrefutável
porque
racional –
volto ao
lirismo da
natação.
Inegável ser
a água
libertadora.
Não
aprisiona,
acolhe,
sustenta e
liberta!
Empresta-nos
os
movimentos
mais belos
que
expressam,
na lentidão
e na
velocidade,
as asas
invisíveis
de anjos e
borboletas.
Theresa
Catharina de
Góes Campos
São
Paulo-SP, 28
de fevereiro
de 2006
(Terça-feira
de Carnaval) |
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