Pe. Tomaz Hughes, SVD
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TERCEIRO DOMINGO DA QUARESMA (03.03.13)
“Se vocês não se converterem, vão morrer todos do mesmo modo”
Lucas 13, 1-9
Essa passagem somente se encontra no Evangelho de Lucas; e, ensina os discípulos que Jesus é compassivo com as falhas, fraquezas e limitações humanas, mas que também tem exigências para quem quer segui-Lo. Ele nos convida à conversão, antes que seja tarde demais!
O trecho começa com o relato feito por algumas pessoas, referente a um fato ocorrido em Jerusalém, quando Pilatos matou um grupo de galileus durante o sacrifício no Templo (não temos informações sobre esse acontecimento de outras fontes). Na época, sofrer desgraças como doença, pobreza ou morte prematura, era visto como castigo de Deus por ser pecador. Podemos lembrar a pergunta feita a Jesus, sobre o homem cego de nascença, no Evangelho de João: “Os discípulos perguntaram: Mestre, quem foi que pecou, para que ele nascesse cego? Foi ele ou os pais dele?” (Jo 9, 2). É a “Teologia da Retribuição”, onde Deus premia ou castiga segundo os méritos da pessoa, ou melhor, segundo o que o sistema vigente entende por mérito. Assim, se anula a gratuidade e a bondade misericordiosa de Deus, e os excluídos da sociedade são vistos como culpados do seu próprio sofrimento. Infelizmente, essa teologia, tão anti-evangélica, está muito presente hoje, por exemplo quando a prática religiosa, ou o dízimo, se entendem como “investimento” para receber retornos de Deus. É claro que também essa teologia funcionava, e funciona, em favor da elite dominante, pois a sua riqueza é explicada como proveniente da bênção de Deus, e não como resultado da exploração e/ou de um sistema econômico injusto, como nos demonstram muitos documentos do ensino social da Igreja. Jesus não autoriza tal interpretação, e, falando também de um outro acidente em Jerusalém que matou dezoito (v. 4), mostra que Deus não castiga assim. Esses acontecimentos trágicos podem servir para que todos pensem na insegurança da vida, e na urgência de conversão, enquanto ainda há tempo! Todos nós precisamos estar preparados para enfrentar o julgamento de Deus, através de uma vida digna de discípulos.
Os versículos 6-9 formam a parábola da figueira. Muitas vezes, as parábolas podem ter mais do que uma explicação. A parábola de hoje tem dois lados - como parábola de compaixão e como parábola de crise! Na primeira interpretação, Deus sempre dá ao pecador (simbolizado no texto pela figueira que não dava fruto) mais uma chance; assim, toca em um tema central de Lucas, que é a misericórdia e a compaixão de Deus. Na segunda interpretação, mexe com os acomodados e desligados entre os discípulos, que só “esgotam a terra” (v.7), ou seja, estão na comunidade como peso morto, sem contribuir nada a ela. Tais pessoas (nós, muitas vezes), devem converter-se para dar os frutos de uma vida do discipulado, ou correr o risco de serem cortados da vinha do Senhor!
Quaresma é um tempo oportuno para uma reflexão sobre a nossa vida cristã, como indivíduos e como participantes de uma sociedade cujas estruturas muitas vezes também não estão de acordo com a vontade de Deus. É claro que todos nós somos pecadores, e então, em permanente necessidade de conversão. A parábola nos anima diante das nossas fraquezas, pecados e tropeços na caminhada, pois Deus é compassivo, e Jesus sempre nos convida a voltar ao bom caminho. Do outro lado, a Quaresma também deve nos estimular para que busquemos na verdade os caminhos de conversão, descobrindo onde e como somos “figueiras sem frutos”, buscando o “adubo” (v. 8) da oração, da Palavra de Deus, dos sacramentos, da Campanha da Fraternidade, para que voltemos a produzir os frutos devidos a verdadeiros/as discípulos/as de Jesus.
QUARTO DOMINGO DA QUARESMA (10.03.13)
“Seu irmão estava morto e tornou a viver”
Lucas 15, 1-3; 11-32
O Evangelho de Lucas prima pela sua ênfase sobre a misericórdia de Deus. Se fosse para classificar em uma só palavra o rosto de Deus em Lucas, poderíamos sem hesitação assinalar “misericórdia”. Talvez nenhum capítulo salienta essa convicção tanto como o capítulo 15. A parábola aqui relatada está entre as mais conhecidas da Bíblia - geralmente chamada “O Filho Pródigo” (‘pródigo’ significa ‘esbanjador’). Devemos ter um pouco de cuidado com esse título, pois já sugere que a figura central da parábola é o Filho Pródigo, o que não necessariamente é a interpretação mais adequada!
Para sermos fiéis ao evangelho, devemos interpretá-lo dentro do seu esquema teológico e literário. Para isso, temos que dar muita atenção aos primeiros três versículos; pois, nos dão o motivo pelo qual Jesus contou as três parábolas do capítulo, uma chave valiosa de interpretação. São como um gancho sobre qual se pendura o resto do capítulo: “Todos os cobradores de impostos e pecadores se aproximavam de Jesus para escutá-lo. Mas, os fariseus e os doutores da Lei criticavam a Jesus, dizendo: “Esse homem acolhe pecadores, e come com eles!” (vv. 1-2). Depois vem a chave de interpretação: “Então Jesus contou-lhes esta parábola” (v. 3). Ou seja, Jesus contou as parábolas deste capítulo porque os chefes religiosos o criticavam por associar-se com gente de má fama! Então, a chave de interpretação é a atitude dos fariseus e doutores, contestada pelo ensinamento de Jesus. O problema de fundo não é só a prática de Jesus, mas a experiência de Deus. Para os oponentes de Jesus, Ele não pode ser de Deus, agindo assim, pois Deus não acolhe pecadores. Para Jesus, Deus é exatamente o oposto – Ele é compaixão e misericórdia, e, por isso, corre atrás dos pecadores. Quantas vezes, falando de Deus, nós cristãos demonstramos um Deus como o Deus dos escribas e não o Deus de Jesus! Assim também a parábola nos interpela hoje!
Podemos ler este texto a partir do “filho perdido”, ou do “pai”, ou do “irmão mais velho”. O título tradicional implica uma leitura a partir do “pródigo” (Pródigo significa “esbanjador”). Assim, ressaltaria o processo de conversão - sentir a situação perdida, decidir a pedir reconciliação, ser aceito pelo Pai, reativar os relacionamentos perdidos e estragados. Sem dúvida, uma leitura válida do texto como tal - mas diante dos primeiros dois versículos do capítulo, talvez não a interpretação primária que Lucas quisesse dar.
Outra possibilidade é de ler a história a partir do pai. Sem dúvida, também válido. Assim, o pai representa o próprio Deus, que em primeiro lugar, respeita a liberdade de decisão do filho, não impedindo que ele seja “sujeito” da sua vida; depois, não espera a volta do “pródigo”, mas corre ao seu encontro, numa atitude não “digna” de um fidalgo oriental idoso, pois o pai está preocupado mais com a reconciliação do que com o prejuízo, e se alegra com a volta de quem estava morto! Mais uma vez, uma leitura mais do que aceitável!
Mas, o contexto do capítulo, à luz dos primeiros versículos, sugere uma leitura diferente - a partir do irmão mais velho. Pois, Jesus conta a parábola para contestar a atitude dos fariseus e doutores da Lei, que o reprovam, porque Ele acolhe os pecadores! Então, o filho mais velho é a imagem dos fariseus - “gente boa”, fiel na observância da Lei, mas, cujos corações estão fechados, ao ponto de serem incapazes de alegrar-se com a volta de um irmão perdido. Assim, embora observem minuciosamente todas as prescrições da Lei, a atitude deles contradiz claramente a atitude de Deus, demonstrada pela ação do pai misericordioso! Essa diferença de atitude se resume claramente nos termos que ambos usam, referindo-se ao filho mais moço. Enquanto o filho mais velho o chama de “este teu filho” (v. 30), o pai fala “este teu irmão” (v. 32).
Aqui Jesus quer questionar todos nós que somos “praticantes”. Somos capazes de reconhecer a nossa própria fraqueza e miséria espiritual, como fez o “pródigo”? Somos capazes de correr ao encontro de um irmão perdido, como fez o pai? Ou somos como o irmão mais velho - “gente boa”, gente de “observância”; mas, gente incapaz de ter um coração de misericórdia, de alegrar-nos com a volta ao estado original, de um irmão ou uma irmã perdidos?
Podemos até dizer que este capítulo de Lucas é o coração do Evangelho. Pois Deus, o Deus de Jesus e o de Lucas, é o Deus que não se alegra com a perda de quem quer que seja, mas com a volta do pecador. É o Deus que se encarnou em Jesus de Nazaré, para salvar quem estava perdido. É o Deus da misericórdia e do perdão. Como traduzimos esta visão de Deus em nossa vida?
QUINTO DOMINGO DA QUARESMA (17.03.13)
“Quem não tiver pecado, atire nela a primeira pedra”
Jo 8, 1-11
Essa história parece muito mais semelhante aos temas do Evangelho de Lucas do que do o Evangelho do Discípulo Amado. De fato, não aparece nos manuscritos mais antigos de Lucas, e só aparece pela primeira vez em versões do século terceiro. Por isso, a maioria dos estudiosos acha que originalmente esta história circulava nas comunidades como uma tradição independente. O copista que a inseriu talvez fizesse por achar que ilustrasse duas frases do Quarto Evangelho: “Eu julgo a ninguém” (Jo 8, 15) e “Quem de vocês pode me acusar de pecado?” (Jo 8, 46). O tema do perdão de uma mulher pecadora é tipicamente lucano (Lucas). Alguns manuscritos situam esse texto no Evangelho de Lucas durante as controvérsias da Semana Santa - o que parece ser um contexto mais adequado.
O problema apresentado a Jesus pelos fariseus é semelhante àquele do imposto em Lc 21, 27-38. A Lei judaica prescreveu a pena de morte para uma mulher casada pega em adultério (Dt 22, 23-24). Mas, segundo João 18, 31, os romanos tinham retirado dos judeus o direito de condenar alguém à morte. Portanto, se Jesus dissesse que ela deveria ser apedrejada, ele contrariaria a lei civil dos romanos; se ele negasse esta pena, estaria contra a lei religiosa mosaica. É uma cilada semelhante ao dilema sobre o imposto a César, ou a questão sobre o divórcio em Mt 19, 3-9. Que os seus interlocutores não se interessam pela Lei se manifesta pelo fato de só acusarem a mulher e não o seu parceiro! Uma atitude machista tão comum ainda na nossa sociedade.
Não se esclarece o que foi que Jesus escreveu no chão. Alguns autores veem uma referência a uma frase em Jeremias: “Aqueles que se afastam de ti terão seus nomes inscritos na poeira, porque abandonaram Javé, a fonte de água viva” (Jr 17, 13). Assim, seria uma indicação que os verdadeiros culpados são aqueles que se davam o direito de condenar a mulher.
Perguntando da mulher se os seus acusadores não a tinham condenado, Jesus deixa claro que Ele não se identifica com eles. Ele não veio para condenar, mas para salvar! Por isso, a mulher está livre para ir - mas não para pecar de novo!
O texto ilustra mais uma vez o recado central que vimos no Evangelho do último Domingo - Deus é um Deus de misericórdia, e não de condenação. Ele condena o pecado, o mal, mas não a pessoa. Como em Lucas 15, 1-2, também no texto de hoje, as pessoas que mais deviam se preocupar em manifestar o rosto misericordioso do Pai, se preocupavam mais em condenar, a partir de um legalismo que desconhecia a misericórdia. Jesus, do outro lado, valoriza a Lei (pede que a mulher não continue a pecar), mas tem compaixão diante da fraqueza humana. Aliás, é notável que, nos Evangelhos, Jesus nunca é duro ou rígido com as pessoas que manifestam na sua vida sinais da fraqueza humana, mas é contundente com os que não têm compaixão nem misericórdia, e que escondem o verdadeiro rosto de Deus através do seu legalismo e auto-suficiência.
Quantas vezes nas Igrejas - até hoje - se manifesta muito mais a dureza de uma mentalidade legalista do que a compaixão de um Deus que é “rico em misericórdia?” Neste tempo quaresmal, preocupemo-nos em sermos manifestação do Deus verdadeiro, misericordioso e compassivo, a exemplo de Jesus, que soube distinguir bem entre o pecado e o pecador. “Nem eu te condeno, vá e não peques mais!” Lembremos das palavras sábias e profundas do Documento da Aparecida no seu número 147:
“O/A discípulo/a-missionário/a há de ser um homem ou uma mulher que torna visível o amor misericordioso do Pai, especialmente para os pobres e pecadores”. Jesus nos dá o exemplo no texto de hoje.
DOMINGO DE RAMOS (24.03.13)
“Bendito aquele que vem em nome do Senhor!”
Lucas 19,29-40
* Como seria impossível fazer jus ao Evangelho da Paixão em uma reflexão tão curta, refletiremos sobre o Evangelho da procissão.
Quase não há comunidade católica no Brasil que não comemore hoje, com muita alegria, a entrada de Jesus em Jerusalém. São organizadas procissões, o povo abana ramos, se celebram encenações do evento. Pessoas que dificilmente pisam em uma igreja nos domingos comuns, hoje fazem questão de não perder a procissão. Porém, para não reduzirmos a comemoração a mero folclore, é importante estudar o que significava este evento para Jesus, e para o evangelista.
Dificulta o nosso entendimento da passagem a nossa pouca familiaridade com o Antigo Testamento. Cumpre relembrar um trecho do profeta Zacarias: “Dance de alegria, cidade de Sião; grite de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho duma jumenta... Anunciará a paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar a mar, do rio Eufrates até os confins da terra” (Zc 9, 9-10). Esse era um trecho muito importante na espiritualidade do grupo conhecido como “os pobres de Javé”, que esperavam a chegada do Messias libertador. Nesse grupo encontravam-se Maria e José, e os discípulos de Jesus. Foi dentro desta espiritualidade que Jesus foi criado. Zacarias traçava as características do messias - seria um rei, “justo e pobre”, não de guerra, mas de paz! Viria estabelecer uma sociedade diferente da sociedade opressora do tempo de Zacarias (e de Jesus, e de nós) - onde os poderosos e violentos oprimiam os pobres e pacíficos! Seria uma sociedade onde, entre outros elementos, a economia estaria a serviço da vida! Um rei jamais entraria numa cidade montado em um jumento - o animal do pobre camponês, mas num cavalo branco de raça! Jesus, fazendo a sua entrada assim, faz uma releitura de Zacarias, e se identificou com o rei pobre, da paz, da esperança dos pobres e oprimidos!
Por isso, muitas vezes perdemos totalmente o sentido da entrada de Jesus em Jerusalém. Celebramos o evento como se fosse a entrada de um Governante dos nossos tempos - com pompa, imponência, e demonstração de poder e força. Na verdade, houve uma procissão assim em Jerusalém no mesmo dia da entrada de Jesus – a entrada do Procurador romano, Pôncio Pilatos, chegando com toda a pompa de Cesaréia Marítima, com uns cinco mil soldados, para ostentar o poder repressor do Império. À tarde, pelo porta oriental, Jesus fez o contrário! Entrou como o servo de Javé, na simplicidade que é própria de Deus e dos seus enviados. Chamamos o evento da “entrada triunfal de Jesus” - e realmente foi, mas como triunfo do Deus que se encarnou entre nós como o Servo Sofredor! Nada mais longe do sentido original desse evento do que manifestações de poderio e pompa, mesmo - ou especialmente - quando feitas em nome da Igreja e do Evangelho de Jesus! O poder e a pompa seduzem – devemos ficar eternamente gratos ao Papa Bento XVI pelo desapego que ele demonstrou em renunciar, pelo bem da Igreja. Uma atitude digna de um verdadeiro discípulo do Mestre do Domingo de Ramos!
O texto convida a todos nós a revermos as nossas atitudes. Seguimos Jesus - mas, será que é o Jesus real, o Jesus de Nazaré, o Jesus rei dos pobres e humildes, o Jesus cumpridor da profecia de Zacarias? Ou inventamos um outro Jesus - poderoso nos moldes da nossa sociedade, com força, poder e prestígio, conforme o mundo entende esses termos? Essa semana foi o ponto culminante de toda a vida e missão de Jesus - das suas opções concretas em favor dos oprimidos, do seu desafio à religião oficial que escondia o verdadeiro rosto de Deus, das consequências políticas e econômicas da sua proposta de uma sociedade justa e igualitária, manifestação concreta da chegada do Reino de Deus. Tudo isso levou os poderosos, romanos e judeus, a tramarem a sua morte. É importante lembrar que a paixão e morte de Jesus foram consequência da sua vida - é impossível entender o que significa a Semana Santa sem ligá-la com o resto da vida de Jesus e com a sua proposta para a sociedade e para os seus seguidores. Jesus não morreu - foi morto porque incomodava, como continua a incomodar ainda hoje os que continuam com o sistema opressor que é a expressão do anti-Reino, mesmo quando disfarçado com discurso religioso, como se fazia no Templo.
Nos adverte um canto usado nas celebrações de hoje: “Eles queriam um grande rei, que fosse forte, dominador. E por isso não creram n’Ele e mataram o salvador!” Realmente acreditamos no rei dos pobres e oprimidos, ou só fazemos um folclore no Dia de Ramos, bonito, mas totalmente desvinculado da mensagem verídica e profunda do profeta Zacarias e do evangelho de hoje?
DOMINGO DE PÁSCOA (31.04.13)
Jo 20, 1-9
“Ele viu e acreditou”
Os quatro evangelhos relatam os acontecimentos do Dia da Ressurreição, cada um de acordo com as suas tradições e visão teológica. Mas, certos elementos são comuns a todos: o fato do túmulo vazio, que as primeiras testemunhas eram as mulheres (embora divirjam quanto ao seu número e identidade e o motivo da sua ida ao túmulo - para ungir o corpo, ou para vigiar e lamentar), e que uma delas era Maria Madalena. Podemos tirar disso a conclusão que as mulheres tinham lugar muito importante entre o grupo dos discípulos de Jesus, e que elas eram mais fiéis do que os homens, seguindo Jesus até a Cruz e além dela! Infelizmente, outras gerações fizeram questão de diminuir a importância das discípulas na Tradição - e a Igreja sofre até hoje as consequências.
Fica claro que ninguém esperava a Ressurreição. Para os Doze, especialmente, a Cruz era o fim da esperança, a maior desilusão possível. Se somarmos a isso o fato de que todos eles traíram Jesus (por revolta, por dinheiro, ou por covardia), podemos imaginar o ambiente pesado entre eles na manhã do Domingo. Nesse meio, chegou Maria Madalena com a notícia de que o túmulo estava vazio - e ela, naturalmente, pensava que o corpo tivesse sido roubado. Ressurreição - nem pensar!
No nosso texto, Pedro (que tem um papel importante nos textos pós-ressurrecionais) e o Discípulo Amado (anônimo, mas quase certamente não um dos Doze, conforme os maiores exegetas) correm até o túmulo. O texto deixa entrever a tensão histórica que existia entre a comunidade do Discípulo Amado e a comunidade apostólica (representada por Pedro). Pois, o Discípulo Amado espera por Pedro (reconhece a sua primazia), mas enquanto Pedro vê sem acreditar, o Discípulo Amado acredita. No Quarto Evangelho, Pedro só realmente vai conseguir amar Jesus no Capítulo 21, enquanto o Discípulo Amado é o tal desde Capítulo 13. Só quem olha com os olhos do coração, do amor, penetra além das aparências!
Como na história dos Discípulos de Emaús (Lc 24, 13-36), o texto demonstra que a nossa fé não pode estar baseada em um túmulo vazio! Não é o túmulo vazio que fundamenta a nossa fé na Ressurreição, mas o contrário - é a experiência da presença de Jesus Ressuscitado que explica porque o túmulo está vazio! Cuidemos de não procurar bases falsas para a nossa fé no Ressuscitado!
Hoje em dia, quando olhamos para o mundo ao nosso redor, é fácil não acreditar na vitória da vida sobre a morte. Há tanto sofrimento e injustiça - guerra, violência, corrupção endêmica, pobreza exagerada, terremotos, desastres e tragédias como a de Santa Maria (RS) poucas semanas atrás, etc! Só uma experiência profunda da presença de Jesus libertador no meio da comunidade poderá nos sustentar na luta por um mundo melhor, com fé na vitória final do bem sobre o mal, da luz sobre as trevas, da graça sobre o pecado! Nós todos somos “discípulos amados”, pois “nada nos separa do amor e Deus em Jesus Cristo” (Rm 8), mas será que somos “discípulos amantes”? Será que amamos a Jesus e ao próximo? Lembramos que o amor proposto pelo Evangelho, não é um sentimento, mas uma atitude de vida, de solidariedade, de partilha, de justiça. “O amor consiste no seguinte: não fomos nós que amamos a Deus; mas, foi Ele que nos amou, e nos enviou o seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados. Se Deus nos amou a tal ponto, também nós devemos amar-nos uns aos outros” (1Jo 4, 10-11).
Que a mensagem da Ressurreição, da vitória da vida sobre a morte, nos anime e dê força, especialmente quando a Cruz pesar muito em nossas vidas! Aleluia!
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Pe. Tomaz Hughes, SVD
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