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CELEBRANDO O PRINCIPEZINHO
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Em abril de 1943, foi lançada em New York, a
primeira edição do futuro best-seller “O Pequeno
Príncipe” – 500 exemplares em inglês, 250 em
francês, língua na qual foi escrito. O
autor-ilustrador e piloto Antoine de
Saint-Exupéry (1900-1944) desapareceu com seu
avião, em missão de reconhecimento, pouco antes
do fim da Segunda Guerra Mundial. Traduzido em
250 idiomas e dialetos, está entre os três
livros mais vendidos do mundo: um bilhão de
exemplares. Virou filme e disco (no Brasil,
narrado por Paulo Autran). Na França, foi eleito
o melhor livro do século XX.
Estas cifras são para impressionar “as pessoas
grandes”, que não dariam valor ao livro se eu
apenas dissesse que se trata de uma comovente
história para todas as idades, abordando a
ternura, laços de afeto, despedidas, solidão e
desmantelos humanos – o rei que vê em todo mundo
um súdito, o vaidoso para quem todos são
admiradores, o bêbado que bebe para esquecer, o
homem de negócios que contabiliza as estrelas
como propriedade sua. Segundo o autor, “Se
dizemos às pessoas grandes: vi uma bela casa de
tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas
no telhado... elas não conseguem fazer uma ideia
da casa. É preciso dizer-lhes: Vi uma casa de
600 mil reais. Então elas exclamam: Que
beleza!”. Com todas estas estatísticas sobre O
Pequeno Príncipe, elas vão dizer “que beleza!”.
Mas escrevo esta celebração, sobretudo para
aqueles que visitaram e curtiram o asteroide
B612, conheceram a rosa, a raposa, o poço e o
piloto em pane no deserto, a desenhar um
carneiro invisível dentro de uma caixa; que
gostam de assistir ao pôr do sol para
consolar-se ou enlevar-se. E lembram destas
palavras do principezinho: “Os homens do teu
planeta cultivam cinco mil rosas num mesmo
jardim... e não encontram o que procuram... E,
no entanto, o que eles buscam pode ser achado
numa só rosa, ou num pouquinho d´agua”.
Talvez, minha ojeriza ao uso da palavra “amigo”
como genérico para cinco mil contatos no
Facebook e Twitter, seja efeito colateral da
marca deixada por esse livro simples e profundo,
muito cedo em minha trajetória de terráquea.
Mais tarde, quando “juntei os possuídos” com
aquele que viria a ser meu companheiro de vida,
somamos dois birôs que não combinavam, dois
discos iguais das Quatro Estações de Vivaldi e
dois exemplares de O Pequeno Príncipe.
Esta homenagem aos 70 anos da obra-prima de
Saint-Éxupéry é dedicada aos meus primeiros
amigos Zé Luiz e Maria Laura (que já se evadiu
numa revoada de pássaros). Foram eles que me
apresentaram ao Pequeno Príncipe e enriqueceram
meu vocabulário de vida ensinando, como a
raposa, o que significa o verbo “cativar”.
(Diário de Pernambuco, 22/4/2013)
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