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Homilias Junho/Julho/2013 e Terra Santa
Reflexões Homiléticas
para Junho de 2013
Pe. Tomaz Hughes, SVD
E-mail: thughes@netpar.com.br
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NONO DOMINGO COMUM
(02.06.13)
Lucas 7, 1-10
“Senhor, eu não sou
digno...”
A
nossa leitura de hoje inspirou a frase
tão conhecida que usamos na Missa antes
da Comunhão: “Senhor, eu não sou digno
de que entres na minha casa, mas diga
uma só palavra e serei salvo” (v. 6). A
profissão de fé em Jesus, feita por um
desconhecido oficial romano, à beira do
Mar da Galiléia, tornou-se a expressão
da realidade de quem ousa aproximar-se
da mesa eucarística. É na mesma hora um
reconhecimento da nossa fraqueza e
também da grandeza e gratuidade de Deus,
que supera qualquer falha nossa.
A
história situa-se bem dentro da política
lucana (Lucas) de nunca falar mal dos
romanos (uma visão bem diferente da
política de João no Apocalipse). Lucas é
um grego, e tem outra experiência do
Império Romano do que os oprimidos
judeus da Palestina - uma experiência de
opressão e exploração que os levaria a
duas guerras sangrentas e desastrosas,
de 66/72 d.C e de 132/135 d.C. Também, o
autor quer respeitar os seus
destinatários - nas comunidades das
cidades gregas do Império - muitos dos
quais ligados às instituições romanas e
imperiais.
O
oficial na história era pagão, não
judeu, mas pertencia ao grupo conhecido
como “tementes a Deus”. Isso é,
simpatizantes do judaísmo, crentes no
Deus único, mas não pertencentes
oficialmente à religião judaica. No
Império Romano muitos pagãos estavam
cansados da idolatria e da imoralidade
que marcavam a sociedade, e admiravam o
monoteísmo e a seriedade ética do
judaísmo. Mas, se recusavam a assumir a
prática da circuncisão e outros ritos. O
oficial em questão deve ser visto nesse
contexto.
Mas,
ele, embora sendo pagão, manifesta mais
fé do que os próprios judeus - a ponto
de causar a exclamação de Jesus:
“Ouvindo
isso, Jesus ficou admirado. Voltou-se
para a multidão que o seguia, e disse:
“Eu declaro a vocês que nem mesmo em
Israel encontrei tamanha fé!” (v. 9).
Com profundo respeito,
ele nem pede que Jesus entre na sua casa
- pois tal ação deixaria Jesus
ritualmente impuro! Tem confiança
absoluta em Jesus - basta a palavra
d’Ele para que a cura se concretize!
Aqui temos mais um exemplo do interesse
de Lucas em enfatizar o poder da Palavra
de Jesus (por exemplo, na versão lucana
da cura da sogra do Pedro, Jesus não
toca nela, como em Marcos, mas só ameaça
a febre, e com a sua palavra, essa deixa
a mulher - Lc 4, 39).
Um
pagão serve de exemplo para a multidão!
Na boca de alguém considerado “impuro”
se expressa a mais profunda fé! Quantas
vezes a mesma coisa acontece hoje -
pessoas consideradas impuras, ou tolas,
ou ignorantes, dão lição de fé a nós, às
vezes formados na teologia, praticantes
dos sacramentos, estudiosos da religião?
A fé não depende do grau do estudo - é
uma atitude profunda que brota da
intimidade com Deus.
É
de notar também a prontidão com que
Jesus atende o pedido para ajudar o
oficial. Embora esteja consciente que o
homem é estrangeiro e pagão, a compaixão
faz com que Jesus não se amarra aos
limites costumeiros da prática religiosa
do seu tempo, mas se prontifica até a
entrar na casa de um “impuro”, pois para
Jesus, ninguém pode ser taxado de
impuro.
“Senhor,
dê-nos a fé do oficial romano, e de
muita gente simples e humilde. Diga uma
só palavra e a nossa falta de fé será
curada! Ajude-nos também a cultivar a
compaixão que derruba as barreiras
artificialmente criadas por causa da
etnia, cultura, religião ou condição de
vida.”
DÉCIMO DOMINGO COMUM
(09.06.13)
Lucas 7,11-18
Novamente
nos deparamos com um dos temas centrais
de Lucas: a compaixão de Jesus, ou
melhor, a compaixão de Deus manifestada
em Jesus. Em qualquer sociedade, em
qualquer época, a morte do filho único
de uma viúva seria trágica. Mas, na
sociedade patriarcal do tempo de Jesus,
mais ainda. Pois uma mulher, sem marido
e sem filho, seria totalmente
desamparada, sem segurança qualquer. “Ao
vê-la, o Senhor teve compaixão dela” (v.
13).
Ele
nem a conhecia, não sabia se era ‘gente
boa”, “gente de fé”, ou não. Bastava ver
o seu sofrimento para que Jesus sentisse
compaixão dela. Lucas aqui desafia a
todos nós para que superemos o moralismo
e a mania de julgar, para simplesmente
ver as pessoas com os seus sofrimentos,
como Jesus as vê; para termos “coração
de carne e não coração de pedra” (Ez 36,
26). Peçamos este dom - pois realmente é
uma graça de Deus!
Jesus
disse-lhe “Não chore!” Quantas vezes
ouvimos estas palavras de “pano quente”
dirigidas às pessoas sofridas, para que
escondam o seu pranto e parem de nos
incomodar. Mas, na boca de Jesus, não
são meras palavras paliativas; mas,
garantia de esperança! Ele não conforta
com palavras vazias, mas faz o que pode.
Tais palavras só têm sentido quando
pronunciadas por pessoas solidárias, que
tomam passos concretos para aliviar as
dores alheias.
“E
Jesus o entregou à sua mãe” (v. 15b).
Com essa frase, Lucas evoca a figura do
Profeta Elias, que devolveu o filho
único morto à viúva de Sarepta (1Rs 17,
23). Nesse gesto de Jesus, feito em
solidariedade e com compaixão, a
multidão vê a presença do Deus
misericordioso e amoroso: “Glorificavam
a Deus dizendo: “Um grande profeta
apareceu entre nós, e Deus veio visitar
o seu povo” (v. 16).
É
certo que nós não temos poder de
ressuscitar fisicamente os defuntos –
mas, podemos lutar pela vida, pela
saúde, contra a morte prematura, em
favor de um sistema social adequado de
saúde! Podemos ressuscitar pessoas
desanimadas, com palavras de coragem e
ânimo: “O Senhor Javé me deu a
capacidade de falar como discípulo, para
que eu saiba ajudar os desanimados com
uma palavra de coragem.” (Is 50, 4)
Podemos sentir e
manifestar compaixão, ser solidários,
ser sinal da presença do Deus de vida.
Lucas nos desafia mais uma vez, para que
a nossa vivência cristã leve os sofridos
a dizer: “Realmente Deus visitou o seu
povo!”
DÉCIMO PRIMEIRO
DOMINGO COMUM (16.06.13)
Lucas 7, 36 - 8, 3
“A quem foi perdoado
pouco, demonstra pouco amor”
O
trecho de Lucas de hoje - por sinal
riquíssimo - trata de três temas
característicos desse Evangelho:
-
a misericórdia de Deus;
-
o relacionamento de Jesus com as
mulheres;
-
o perigo que todos nós corremos de nos
considerarmos “justos”, desprezando os
outros.
Lucas
é um verdadeiro artista de palavras.
Seria quase impossível ler ou ouvir esse
trecho sem imaginar a cena. Jesus e os
convidados, não sentados à mesa, como
nós no Ocidente, mas reclinados sobre
almofadas; a chegada da mulher,
desprezada na vila por todos, com
certeza sentindo-se humilhada, mas
movida por uma força maior que a faz
enfrentar corajosamente o desprezo dos
outros e penetrar por dentro da casa de
um fariseu - coisa inédita! Mas quem é
impulsionado pelo amor e pela
experiência de Deus não mede esforços.
Depois, as lágrimas - não de tristeza,
mas de gratidão, de alívio, de uma
profunda alegria do ser - o enxugar dos
pés, o perfume.
E
a reação de Simão, o fariseu! Ele, que
se julga “justo” e não “pecador” - com
razão, segundo os critérios da sociedade
e da religião oficial do tempo - se dá o
direito de julgar tanto a mulher, como a
Jesus. Para ele, como para muitos de
nós, ser justo é cumprir as leis, e
assim deixar de ser pecador. Cumprir as
leis, Simão faz com afinco! Assim, ele
se justifica (se torna justo),
dispensando, na realidade, a graça e o
perdão de Deus. Quem considera que não
esteja necessitado de perdão, jamais
será capaz de entender a sua força
transformadora, que nos capacita para o
amor.
Jesus,
porém, reage de uma maneira bem
diferente. Através da parábola dos dois
devedores, ensina que é a experiência de
ser perdoado que leva ao amor. Não o
contrário! A mulher na história não foi
perdoada porque ela antes muito amou,
mas muito amou porque ela foi antes
perdoada! O amor é a consequência da
ação do perdão de Deus. Quem nunca foi
perdoado, dificilmente vai perdoar; quem
nunca foi amado, terá dificuldade em
amar. O perdão de Deus não é a reação
d’Ele à nossa iniciativa de amar - pelo
contrário, é Deus quem toma a iniciativa
de perdoar, e essa experiência de sermos
perdoados nos capacitará para que
possamos amar. O nosso amor é a nossa
resposta à iniciativa gratuita e amorosa
do Pai - não temos que conquistar este
amor e este perdão, nem merecê-los, mas
aceitá-los, assumi-los e responder a
eles. Com certeza, esta mulher deve ter
se encontrado antes com Jesus na vila e,
talvez pela primeira vez sentiu-se amada
e perdoada por Deus. Assim, transborda
de alegria e emoção, fazendo o que fez
na casa do fariseu.
Todos
nós corremos o risco de agirmos como
Simão! A formação dele, rígida e
legalista, o impediu de acolher a mulher
e também de reconhecer em Jesus a
compaixão e misericórdia de Deus. Muitas
vezes, temos recebido uma formação
espiritual que na verdade era em grande
parte “farisaica”, baseada no
cumprimento de leis e práticas externas
de piedade, que são importantes, como se
nós pudéssemos nos justificar diante de
Deus. Temos de refazer a experiência de
Paulo, fariseu ferrenho, que descobriu
que nenhuma prática religiosa - por mais
importante que seja - pode nos
justificar. A vida de Paulo mudou quando
ele fez a experiência da gratuidade do
amor de Deus, e o resto da vida dele foi
uma resposta a este amor gratuito. Mas,
a consequência de uma formação errada
pode ser de nos darmos o luxo de julgar,
classificar e desprezar os outros, que
são “pecadores”, conforme os nossos
critérios. Cuidemos com o fermento dos
fariseus!
Esse trecho dá grande
destaque às mulheres. Jesus rompeu com
as tradições patriarcais e machistas do
Seu tempo. Não só se deixou tocar por
mulheres “pecadoras” - assim, se
tornando impuro conforme as leis do
tempo - como se fez acompanhar nas suas
andanças pela Galiléia por várias
mulheres, que faziam parte do seu grupo
de seguidores/as. Não é claro se Lucas
salienta este ponto para refletir a
grande liderança de mulheres nas suas
comunidades, ou, pelo contrário, para
contestar uma tendência machista de
cortar esta liderança, lembrando aos
seus leitores que Jesus não aceitava
nenhuma discriminação baseada em gênero.
Durante séculos, a Igreja, em grande
parte, perdeu esta novidade de Jesus,
assumindo os padrões patriarcais e
machistas da sociedade dominante.
Devemos voltar a esta visão de
fraternidade e igualdade entre homens e
mulheres, como pede o Papa João Paulo II
na sua Exortação Apostólica “Vita
Consacrata”, quando ele conclama as
mulheres a serem protagonistas de um
“novo feminismo” (VC 58): “Por certo,
não se pode deixar de reconhecer o
fundamento de muitas reivindicações
relativas à posição da mulher nos
diversos âmbitos sociais e eclesiais. Do
mesmo modo, é forçoso assinalar que a
nova consciência feminina ajuda também
os homens a reverem os seus esquemas
mentais, o modo de se autocompreenderem,
de se colocarem na história e de a
interpretarem, de organizarem a vida
social, política, econômica, religiosa,
eclesial.” (VC 57).
Que o Evangelho de Lucas
nos ajude a recuperarmos as atitudes de
Jesus, para que as nossas comunidades
sejam realmente comunidades de
fraternidade, igualdade, perdão,
misericórdia e amor!
DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO
COMUM (23.06.13)
Lucas 9, 18-24
“Se alguém quer me
seguir, renuncie a si mesmo, tome cada
dia a sua cruz e me siga”
Aqui
temos a versão lucana (Lucas) da
profissão de fé de Pedro, que Marcos põe
no caminho de Cesaréia de Filipe (Mc 8,
27-35) e coloca como pivô de todo o seu
evangelho. Este trecho levanta as duas
perguntas fundamentais de todos os
evangelhos:
-
quem é Jesus?
-
o que é ser discípulo d’Ele?
São duas perguntas
interligadas, pois a segunda resposta
depende muito da primeira. A minha visão
de Jesus determina a maneira do meu
seguimento d’Ele.
O
Evangelho de Lucas situa o texto em um
contexto diferente dos outros dois
Evangelhos Sinóticos - diz que Jesus
“estava rezando em um lugar retirado, e
os discípulos estavam com ele”, enquanto
em Marcos e Mateus o evento se dá na
estrada de Cesaréia de Filipe. Uma
atitude típica de Jesus em Lucas. Muitas
vezes no Terceiro Evangelho,
especialmente antes de momentos
importantes na sua vida, Jesus se acha
em oração. Pois Ele não faz nada por
vontade própria, mas escutando a vontade
do Pai.
O
diálogo começa com uma pergunta um tanto
inócua: “Quem dizem as multidões que eu
sou?” É inócua, pois não compromete - o
“diz que” não compromete ninguém, pois
expressa a opinião dos outros. Por isso,
chovem respostas da parte dos
discípulos: “João Batista, Elias, um dos
antigos profetas que ressuscitou!” Mas,
Jesus não quer parar aqui, - esta
pergunta foi só uma introdução. Depois
vem a facada!:
“E
vocês, quem dizem que eu sou?” Agora,
não chovem respostas, pois quem responde
vai se comprometer - não será a opinião
dos outros, mas a opinião pessoal! Esta
opinião traz consequências práticas para
a vida. Finalmente, Pedro se arrisca: “O
Messias de Deus”. (Os termos “Messias”
em hebraico e “Cristo” em grego têm o
mesmo sentido = o Ungido de Deus.)
Mas, a reação de Jesus é
no mínimo estranha!: “Ele proibiu
severamente que eles contassem isso a
alguém”. Que coisa esquisita! Jesus
proíbe que se fale a verdade sobre ele!
Como é que ele espera angariar
discípulos deste jeito? O assunto merece
mais atenção.
Realmente,
Pedro acertou em termos de teologia, de
“ortodoxia”, conforme diríamos hoje. Ele
usou o termo certo para descrever Jesus.
Mas, Jesus quer esclarecer o que
significa ser “O Messias de Deus”. Pois,
cada um pode entender este termo
conforme a sua cabeça, conforme os seus
desejos. Jesus quer deixar bem claro que
ser “messias”, para ele, é ser o “Servo
Sofredor” de Javé. É vivenciar o projeto
do Pai, que necessariamente vai levá-lo
a um choque com as autoridades
políticas, religiosas, e econômicas,
enfim, com a classe dominante do seu
tempo:
“O
Filho do Homem deve sofrer muito, ser
rejeitado pelos anciãos, pelos chefes
dos sacerdotes e doutores da Lei, deve
ser morto, e ressuscitar no terceiro
dia” (v 22). Essa visão que Jesus tinha
do Messias, não era a comum - em geral o
pessoal esperava um messias triunfante,
glorioso e guerreiro. O relato em Marcos
(mas não a versão em Lucas) nos mostra
que Pedro partilhava essa visão errada,
ao ponto de tentar corrigir Jesus, e de
ganhar de Jesus uma correção dura:
“Fique atrás de mim, Satanás! Você não
pensa as coisas de Deus, mas as coisas
dos homens” (Mc 8, 33).
Não basta ter os termos e
títulos certos - temos que ter o
conteúdo certo. Normalmente, todos nós
temos os títulos certos para descrever
Jesus e a sua missão - aprendemos desde
a infância, desde a catequese para a
Primeira Comunhão. Mas, o que significam
esses títulos para nós na nossa vivência
diária? Professamos que Jesus é o
Cristo, o Salvador, o Redentor, o Filho
de Deus - mas como ‘de quê a minha vida
é diferente porque tenho essa crença?
Ele realmente é o meu Senhor, o meu
Salvador, da maneira que procuro
reproduzir e atualizar as suas opções
e atitudes na minha vida, não somente no
que creio, mas nas minhas atitudes na
vida pública, profissional, familiar e
social? A Bíblia nos conta que Deus
criou o homem e a mulher na sua imagem e
semelhança; mas, na verdade, nós criamos
Deus em nossa imagem, e semelhança, para
que ele não nos incomode. A nossa
tendência é de seguir um messias
triunfante, e não o Servo Sofredor. Mas,
para Jesus, não há meio-termo. O
discípulo tem que andar
nas pegadas do seu mestre: “Se alguém
quer me seguir, renuncie a si mesmo,
tome cada dia a sua cruz, e me siga” (Lc
9, 23).
O
seguimento de Jesus leva à cruz, pois a
vivência das atitudes e opções d’Ele vai
nos colocar em conflito com os poderes
contrários ao Evangelho. Carregar a
cruz, não é aguentar qualquer
sofrimento, não. Assim, a religião seria
masoquismo! Carregar a cruz é viver as
consequências de uma vida coerente com o
projeto do Pai, manifestado em Jesus.
Segui-Lo não é tanto fazer o que Jesus
fazia, mas o que Ele faria, se estivesse
aqui hoje. Como Ele foi morto, não pelo
povo, mas por grupos de interesse bem
claros “os anciãos, os chefes dos
sacerdotes e os doutores da Lei” (a
elite dominante em termos econômicos,
religiosos e ideológicos), os seus
seguidores entrarão em conflito com os
grupos que hoje representam os mesmos
interesses. Por isso, sempre haverá a
tentação de criarmos um Jesus “light”,
sem grandes exigências, limitado a uma
religião intimista e individualista, sem
consequências políticas, econômicas ou
ideológicas. Seria cair na tentação de
Pedro, conforme o relato de Marcos.
O
texto faz ressoar para cada um de nós as
duas perguntas de Jesus. É fácil
responder o que os homens dizem d’Ele -
o que dizem o Papa, o Bispo, o
catequista, os teólogos, a TV. Mas esta
pergunta não é tão importante. É a
segunda que cada um tem que responder:
“Quem é Jesus para mim?” E a resposta se
dará não tanto com os lábios, mas com as
mãos e os pés. Respondemos quem é Jesus
para nós, pela nossa maneira de viver,
pelas nossas opções concretas, pela
nossa maneira de ler os acontecimentos
da vida e da história. Tenhamos cuidado
com qualquer Jesus que não seja
exigente, que não traz consequências
sociais, que não nos engaja na luta por
uma sociedade mais justa. Pois, o Jesus
real, o Jesus de Nazaré, o Jesus do
Evangelho, não foi assim, e deixou bem
claro: “Se alguém quer me seguir,
renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua
cruz, e me siga. Pois, quem quiser
salvar a sua vida, vai perdê-la; mas
quem perde a sua vida por causa de mim,
esse a salvará” (Lc 9, 24)
FESTA de SÃO PEDRO e SÃO
PAULO (30.06.13)
Mt 16, 13-20
“E vocês,
quem dizem que eu sou?”
Aqui temos a versão
mateana (Mateus) da profissão de fé de
Pedro, que Marcos (Mc 8, 27-35) coloca
como pivô de todo o seu evangelho. Este
trecho levanta as duas perguntas
fundamentais de todos os evangelhos:
quem é Jesus? O que é ser discípulo
d’Ele? São duas perguntas interligadas,
pois a segunda resposta depende muito da
primeira. A minha visão de Jesus
determinará a maneira do meu seguimento
d’Ele.
Como refletimos domingo
passado sobre a versão lucana desse
texto (Lc 9, 18-24), remetemo-nos àquela
reflexão e aqui somente assinalaremos
alguns poucos pontos a mais, já levando
e conta o que foi escrito para dia 23 de
junho.
Depois de Jesus
interrogar duas vezes os discípulos, o
texto de Mateus acrescenta vv. 17-19,
pois quer destacar o papel de Pedro (e,
por conseguinte, dos líderes da sua
própria comunidade), na função de ligar
e desligar da comunidade, que nos
Evangelhos somente aqui e em Cap. 18 é
chamada de “Igreja”. “As chaves do
Reino” não se refere aqui ao poder de
perdoar pecados, mas de integrar e
desligar pessoas da comunidade dos
discípulos.
O
fundamento, o alicerce, a pedra
fundamental dessa comunidade é o
conteúdo da profissão de Pedro “Tu és o
Messias, o Filho de Deus vivo”. Mas
continuam no ar as duas perguntas que
são o cerne do Evangelho: “Quem é
Jesus?”, e “o que significa segui-Lo?”
Pois os termos que Pedro usa são
ambíguos, porque cada um os interpreta
conforme a sua cabeça. Por isso, Jesus
toma uma atitude, aparentemente
estranha: “Ele ordenou os discípulos que
não dissessem a ninguém que ele era o
Messias!”
Que coisa esquisita!
Jesus proíbe que se fale a verdade sobre
ele! Como é que Ele espera angariar
discípulos deste jeito? O assunto merece
mais atenção.
Realmente,
Pedro acertou em termos de teologia, de
“ortodoxia”, conforme diríamos hoje. Ele
usou o termo certo para descrever Jesus.
Mas, Jesus quer esclarecer o que
significa ser “O Messias de Deus”. Pois
cada um pode entender este termo
conforme os seus desejos. Jesus quer
deixar bem claro que ser “messias” para
Ele é ser o “Servo de Javé”. É vivenciar
o projeto do Pai, que necessariamente
vai levá-lo a um choque com as
autoridades políticas, religiosas, e
econômicas, enfim, com a classe
dominante do seu tempo, e não o Messias
nacionalista e triunfalista das
expectativas de então. Pedro teve que
aprender essa exigência do discipulado,
de uma maneira lenta e dolorosa,
passando até pela negação de Jesus na
noite da sua prisão. Aprendeu tão bem
que chegou a dar a sua vida como mártir,
também morrendo, conforme a tradição, em
uma cruz, no Circo de Nero em Roma, onde
atualmente se localiza a Basílica que
traz o seu nome. Aprendeu a duras penas
ser discípulo de verdade e cumprir a
missão que recebeu de Jesus na Última
Ceia: “Eu rezei por você, para que a sua
fé não desfaleça. E você, quando tiver
voltado para mim, fortaleça os seus
irmãos” (Lc 22, 32). Aqui temos o
essencial do ministério petrino (Pedro),
continuado no Papa - confirmar e
fortalecer a fé dos irmãos e irmãs. A
Igreja sempre deve zelar que acréscimos
históricos, mais adequados a monarcas do
que a discípulos, não escondem essa
missão essencial.
Paulo, que durante os
seus primeiros anos da vida adulta,
perseguia os discípulos, também teve a
graça da conversão, chegando a afirmar
que não queria saber nada a não ser
Jesus Cristo e Jesus Cristo Crucificado!
(1Cor 1, 2). Ele também pagou com a sua
vida essa decisão pelo discipulado.
No nosso tempo, quando é
moda apresentar um Jesus “light”,
sem exigências, sem paixão, sem Cruz,
sem compromisso com a transformação
social, o texto nos desafia para que
clarifiquemos em qual Jesus acreditamos.
O Jesus quebra-galho, que existe para
resolver os meus problemas pessoais, tão
propagado por setores da mídia e por
diversos movimentos e pregadores, ou o
Jesus bíblico, o Servo de Javé, que veio
para dar a vida em favor de todos?
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Pe. Tomaz Hughes, SVD
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Reflexões
Homiléticas para Julho de 2013
Pe. Tomaz Hughes, SVD
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DÉCIMO QUARTO
DOMINGO COMUM (07.07.13)
Lucas 10,
1-12.17-20
“O
Senhor os enviou dois a dois”
O discípulo existe para a
missão, e não se entende fora dela.
Jesus não cogitava levar adiante a sua
missão sem a colaboração, não só dos
Apóstolos, mas de muitos discípulos e
discípulas. É assim ainda hoje - a
missão de evangelização não compete
somente aos que são constituídos
oficialmente como pastores da Igreja,
mas a todos, em virtude do nosso
batismo. É uma tarefa comunitária -
simbolizada pelo fato que Jesus não
mandou os setenta e dois discípulos
individualmente, mas de dois a dois.
Se
naquela época a colheita já era grande,
o que dizer de hoje? O que diria Jesus
das massas enormes dos conglomerados
urbanos, as selvas de pedra que são as
nossas grandes áreas metropolitanas, com
os seus bolsões de miséria, as suas
massas sobrantes, a seu anonimato? Mais
do que nunca, torna-se urgente o pedido
do Senhor: “Peçam ao dono da colheita
que mande trabalhadores para a colheita”
(v. 2).
Não devemos reduzir este
pedido à oração pelas vocações
sacerdotais e religiosas, por tão
necessárias que sejam; mas, peçamos que
todos os cristãos assumam a sua missão
de ser continuadores da missão de Jesus,
no mundo de hoje. Pois, é possível que o
“dono da colheita” mande operários, e
que eles se recusem de ir!
Jesus
disse que estava mandando-os como
“cordeiros entre lobos”- uma missão
aparentemente impossível! Continua a
fazê-lo - pois quem vive a mensagem
evangélica humanamente falando é
cordeiro diante dos lobos vorazes do
“evangelho” de competitividade e lucro,
os violentos partidários da concentração
das terras e da renda! Mas, esta
fraqueza é a fraqueza de Deus que, mais
tarde, Paulo descreveria como “mais
forte do que os homens”(1Cor 1, 26)!
Os
discípulos evangelizadores não iam como
conquistadores ou dominadores, não iam
com a força das armas, como infelizmente
aconteceu tanto na história do Brasil e
da América Latina. Trouxeram a mensagem
da “paz” - não a paz como “o mundo a
dá”, mas o “Shalom”, a paz que só
pode vir da presença de Deus, a paz que
pode existir no meio de sofrimento, a
paz que ninguém pode tirar. Eles deviam
assumir a condição dos seus ouvintes,
não ir de casa em casa em busca de
“coisa melhor”. Pois, a missão e o
discipulado exigem desprendimento e
encarnação.
A
proclamação deles, onde eram bem
recebidos, era “O Reino de Deus está
próximo”! Pois, onde existe qualquer
gesto de amor, de fraternidade, de
solidariedade, existe já o Reinado de
Deus. Só o fato de alguém abrir-se para
o Evangelho traz a presença do Reino; só
o fato de alguém se dispor a levar o
Evangelho, faz presente o Reino! Pois, o
Reino não se constrói de coisas
extraordinárias, mas de pequenos gestos.
As armas do evangelizador não são
“qualidade total”, eficiência, eficácia
humana, razão instrumental, - mas amor,
solidariedade, acolhida. Evangelizar não
é em primeiro lugar propagar uma
doutrina, mas tornar presente a pessoa e
o projeto de Jesus de Nazaré.
Mesmo
rejeitados, os discípulos deviam
proclamar: “Apesar disso, saibam que o
Reino de Deus está próximo”. Pois, nada
pode impedir o crescimento do Reino, que
é como “a semente que o agricultor
semeia. Ele dorme e ela cresce sem que
ele saiba como”. Isso nos deve animar
muito como evangelizadores. É preciso
que nós semeemos, sem nos preocuparmos
com os resultados, pois “Paulo é quem
planta, Apolo rega, mas é Deus que faz
crescer” (1Cor 3, 6).
Quem
se esforça na evangelização pode cansar,
pode sofrer, mas terá uma alegria
profunda: “E os setenta e dois voltaram
muito alegres, dizendo: “Senhor, até os
demônios obedeçam a nós por causa do teu
nome” (v. 17). Porém, o motivo da
alegria não deve ser por causa dos
prodígios feitos, mesmo quando podemos
“pisar em cima de cobras e escorpiões”
(v. 19), mas porque, pela força do
Evangelho, conseguimos expulsar os
demônios do mal, da opressão, da
divisão, do ciúme, que destroem o
relacionamento humano. Devemos sentir
alegria porque o Reino está crescendo
inexoravelmente, - e somos instrumentos
deste Reino. Sejamos, seja qual for a
nossa vocação, situação ou profissão,
“trabalhadores da colheita”! Pois não há
cristão que seja dispensado deste
desafio, nem lugar ou situação que não
possam ser evangelizados!
DÉCIMO QUINTO
DOMINGO COMUM (14.07.13)
Lucas 10, 25-37
“Vá, e faça a
mesma coisa”
A
parábola do “Bom Samaritano” talvez
seja, junto com a parábola do “Filho
Pródigo”, a mais conhecida de todas as
parábolas de Jesus. Por isso mesmo,
corre o risco de ser banalizada, de não
ser levada muito a sério, de ser
relegada quase ao nível de folclore
religioso. Merece uma atenção mais
minuciosa.
A
parábola situa-se logo após Jesus ter
louvado o Pai por ter “escondido essas
coisas aos sábios e inteligentes e
revelado aos pequeninos” (Lc 10, 21).
Realmente, o primeiro a tentar
atrapalhar Jesus é um “sábio e
inteligente” - um especialista em leis.
Lucas salienta que ele fez a pergunta:
“O que devo fazer para receber em
herança a vida eterna” (v.25), não
porque ele se interessava pela verdade,
mas “para tentar Jesus”. Devolvendo a
pergunta a ele, Jesus deixa claro que o
legista já sabia a resposta: “Ame o
Senhor, seu Deus, como todo o seu
coração, com toda a sua alma, como toda
a sua força e com toda a sua mente; e ao
seu próximo como a si mesmo.” Jesus
simplesmente diz: “Você respondeu certo.
Faça isso e viverá” (v. 28).
Mas,
com a petulância típica do
pseudo-intelectual, ele insiste, “para
se justificar”, com uma segunda
pergunta: “E quem é o meu próximo?” (v.
29). Mas, Jesus não cai na cilada de
fazer uma discussão teórica e estéril
sobre quem seja o próximo - ele logo
traz o debate para o nível prático da
vivência. Ele conta a parábola do “Bom
Samaritano”. Vejamos:
Depois
do assalto, passou pela vítima um
sacerdote que “viu o homem e passou
adiante pelo outro lado” (v. 31). A
mesma coisa aconteceu com um levita. Por
quê será que esses homens - ligados ao
culto judaico - agiram assim? A resposta
está nas leis de pureza daquela época. O
contato com um defunto, ou com sangue,
deixava a pessoa ritualmente impura,
isso é, inapta para participar do culto.
Como o homem estava coberto de sangue, e
talvez morto, os dois não se arriscavam
a tocar nele, pois, para eles o culto
religioso era mais importante do que a
misericórdia para com uma pessoa
sofrida. Não era, em si, uma atitude
somente pessoal de duas pessoas
maldosas, mas demonstra uma tentação
permanente de pessoas ligadas ao culto e
o mundo tido como “sagrado” - o perigo
de viver alienadas do mundo real, onde
as pessoas vivem, sofrem, e lutam todos
os dias.
Entra
em cena um samaritano. A religião dele
era considerada como cheia de
deformações e ignorância pelo judaísmo
oficial, pois desde a invasão da Assíria
em 721 a.C, a prática religiosa do povo
samaritano tinha sido contaminada por
religiões pagãs (2Rs 17, 24-31). Mas,
quando ele vê o sofrimento alheio, ele
não pensa em discussões teológicas sobre
pureza, mas parte para uma ajuda
prática, com misericórdia.
Terminando
a história, Jesus devolve a pergunta
ao especialista em leis - mas faz
uma mudança fundamental! Não faz a
pergunta teórica “quem é o meu
próximo”, mas uma pergunta prática
“quem se fez próximo do homem que
caiu nas mãos dos assaltantes?” A
primeira pergunta só levaria a uma
discussão vazia; a de Jesus leva a
uma mudança de prática vivencial.
Forçado
a reconhecer que quem se fez próximo do
sofredor era o samaritano, o legista
ouviu da boca de Jesus a conclusão: “Vá
e faça a mesma coisa” (v. 37).
Com essa parábola, Jesus
quer ensinar que nada, nem o culto, tem
prioridade sobre a ajuda a uma pessoa
necessitada. A religião de Jesus não é
teoria, é prática de misericórdia, pois,
Deus é misericordioso. Como diz o
Evangelho de Mateus, baseando-se em
Oséias 6, 6: “Aprendam, pois, o que
significa: “Eu quero a misericórdia e
não o sacrifício”. Porque, eu não vim
chamar justos, e sim pecadores”(Mt 9,
13). O legista já sabia a orientação da
Escritura, mas tentava escapar das suas
consequências, criando discussões
inúteis. Nós também sabemos o que diz a
Bíblia, - não tentemos esvaziá-la com
debates estéreis sobre quem é “o pobre”,
“o aflito”, “o próximo”, “o bom”.
Façamos o que Jesus ensina nessa
parábola “e viveremos”.
DÉCIMO SEXTO
DOMINGO COMUM (21.07.13)
Lucas 10, 38-42
“Uma só coisa é
necessária”
Mais
uma vez, o Evangelho de Lucas destaca o
fato que Jesus e os seus discípulos
“caminhavam”. É caminhando que se faz
caminho, e é no caminho que se aprende o
que é ser discípulo de Jesus. Todos nós
estamos “no caminho”, como Jesus e os
outros, só que a nossa caminhada não se
mede em quilômetros, mas em anos!
O
Evangelho de hoje frisa muito o lado
afetivo de Jesus e dos seus discípulos e
discípulas. Jesus se dirige à casa de
uma família em Betânia, perto de
Jerusalém. Era o lugar predileto onde
Jesus procurava - e recebia - aconchego
humano, carinho, afeto, amizade,
acolhimento; onde podia refazer as suas
forças nas suas caminhadas
evangelizadoras. Do Evangelho do
Discípulo Amado aprendemos que: “Jesus
amava Marta, a irmã dela e Lázaro” (Jo
11, 5). Este tipo de relacionamento
humano é necessário para que formemos
verdadeiras comunidades cristãs - e
quantas vezes dispensamos esse elemento
fundamental!
É
gritante a diferença de gênio das duas
irmãs! Marta, provavelmente a mais
velha, preocupada com os seus afazeres -
afinal tinham chegado hóspedes para uma
refeição, e tinham que ser bem tratados;
Maria, calma, senta-se aos pés do
Senhor, para escutar a Palavra. De
repente, ressoa o desabafo de Marta:
“Senhor, não te importas que minha irmã
me deixe sozinha com todo o serviço?
Manda que ela venha ajudar-me!” (v. 40).
Instintivamente, a nossa simpatia fica
com a Marta. Qual é a mãe da família, a
dona de casa ou o anfitrião de visita
que não sentiria o que Marta sentia? Por
isso mesmo, chama a atenção a resposta
do Senhor: “Marta, Marta! Você se
preocupa e anda agitada com muitas
coisas; porém, uma só coisa é
necessária. Maria escolheu a melhor
parte, e esta não lhe será tirada.” (v.
41s).
Uma
coisa é óbvia - Jesus não está
defendendo a preguiça, a omissão, a
exploração do trabalho dos outros! Num
mundo agitado como é o nosso, que não
nos deixa tempo para cultivar o
relacionamento humano, a amizade, a
oração, o nosso próprio ser, esta
resposta nos faz lembrar a importância
de viver de uma maneira que prioriza as
coisas. É óbvio que nós temos que
preocuparmo-nos com os afazeres, os
trabalhos, - mas na verdade, quantas
vezes nós enchemos os nossos dias com
ativismo, atividades fúteis, agitação, -
e assim não conseguimos escutar nem nós
mesmos, nem os irmãos, nem o próprio
Deus!
Jesus
aqui questiona a agitação e o ativismo -
que não se mede pelo número de
atividades. O ativismo é uma fuga, uma
fuga de um encontro com os anseios mais
profundos do nosso ser, dos apelos de
Deus, refugiando-nos em um número sem
fim de atividades sem objetivos claros,
sem organização, sem rumo. A atitude de
Maria é a de uma discípula, que aprende
viver de maneira nova, ouvindo e
ruminando a Palavra de Deus, uma palavra
que pode levar à muita atividade, mas
nunca ao ativismo.
Jesus
de forma alguma quer menosprezar a
Marta. Aliás, diversas vezes os
evangelhos põem Marta em mais relevo do
que Maria. O próprio Lucas diz que foi
Marta que recebeu Jesus na sua casa (v.
38). Em João, é Marta que faz a
profissão de fé em Jesus, que nos
Sinóticos é feita por Pedro: “Sim,
Senhor. Eu acredito que tu és o Messias,
o Filho de Deus que devia vir a este
mundo” (Jo 11, 27). Na realidade, todos
nós temos que ser “Marta e Maria”. Temos
necessidade de dedicarmo-nos aos nossos
afazeres, mas também é preciso achar
tempo para ficarmos aos pés do Senhor. O
desafio é de conseguir o equilíbrio
entre os dois aspectos de vida, entre
“lançar as redes” e “consertar as redes”
(Mc 1, 16-20), entre “atividade” e
“oração”, entre “missão” e
“interiorização”. Pois, os dois lados
são tão intimamente ligados que o
desequilíbrio, do lado que for, trará
consequências negativas para a nossa
vida de discípulos e discípulas. Também
aqui nos traz um alerta – com uma certa
frequência: corremos o risco de
sobrecarregar as pessoas leigas tão
dedicadas às comunidades! Devemos sempre
lembrar que elas também precisam de
tempo para cultivar os seus laços
familiares, de aprofundar a sua própria
experiência de Deus, de descanso. Não é
a vontade de Deus que alguém “se queime”
de tanto serviço, mesmo na
evangelização. Precisamos ser sempre
“Marta e Maria”.
DÉCIMO SÉTIMO
DOMINGO COMUM (28.07.13)
Lucas 11,1-13
“Ensina-nos a
rezar!”
O
nosso texto de hoje nos traz o
ensinamento da Oração do Senhor, na
versão Lucana (Lucas). O Novo Testamento
nos traz duas versões desta oração - por
sinal a única oração que o Senhor nos
ensinou: Lucas 11, 2-4 e Mateus 6, 9-13.
Normalmente os cristãos rezam na forma
mateana (Mateus), com sete petições e
sem doxologia (oração de louvor). A
versão lucana só tem cinco petições. A
forma usada na Missa acrescenta a
doxologia “porque Vosso é o Reino, o
Poder e a Glória para sempre”, baseada
no texto trazido pela Didaché -
um documento cristão do início do
segundo século. Alguns estudiosos
explicam as duas formas pelo fato que
Lucas e Mateus estavam se dirigindo a
comunidades diferentes, com tradições
diferentes. Mateus se dirigia a pessoas
que tinham o costume de rezar, mas que
estavam correndo o risco de orar de uma
maneira muita formal e rotineira
(judeu-cristãos), enquanto Lucas estava
escrevendo para pessoas
recém-convertidas (gentio-cristãos) e
que precisavam aprender, talvez pela
primeira vez, a rezar continuamente.
Embora
não haja unanimidade entre exegetas
sobre qual é a forma mais original,
parece que o consenso tende em favor da
versão Lucana. A versão mateana
apresenta a forma mais litúrgica do seu
uso (p. ex. “Pai Nosso” em lugar do
simples “Pai”), mas na verdade não há
diferença essencial entre as duas
versões. Baseando-nos no trabalho de um
exegeta alemão, Joaquim Jeremias,
propomos a seguinte versão como a mais
aproximada às palavras aramaicas de
Jesus (devemos sempre lembrar que Jesus
falava em aramaico, os evangelhos foram
escritos em grego, e nós os lemos em
português!):
“Querido
Pai, santificado seja o Teu nome; venha
o Teu Reino; o pão nosso de amanhã nos
dá hoje; perdoa-nos as nossas dívidas,
como queremos perdoar os nossos
devedores, e não nos deixes sucumbir à
Tentação”.
Seguindo
este autor, tratamos a oração como uma
“oração escatalógica”, ou seja a oração
da comunidade cristã que experimenta o
Reino como uma realidade já presente,
mas que espera e pede a sua consumação
final.
Uma
chave para a compreensão lucana da
Oração do Senhor, nós encontramos no
primeiro versículo do texto: “Um dia,
Jesus estava rezando num certo lugar.
Quando terminou, um dos discípulos
pediu: “Senhor, ensina-nos a rezar, como
também João ensinou os discípulos dele”
(Lc 11, 1). Essa frase nos faz lembrar
que muitos grupos religiosos do tempo de
Jesus tinham uma oração que
identificasse os seus discípulos, como
por exemplo, os Essênios, os Fariseus e
os Batistas. Então, o discípulo de Jesus
pede uma oração que pudesse identificar
o seu programa de vida, como discípulos
de Jesus. Aí, podemos ver a Oração do
Senhor como mais do que uma oração -
como um “manifesto” da nossa proposta de
vivência da nossa fé. Vejamos mais de
perto o texto:
1.
“Querido Pai” (ABBÁ):
É
possível que muita gente tenha
dificuldade em rezar o “Pai Nosso” por
causa da sua experiência com o seu
próprio pai. Se nós tivemos um pai
carinhoso, com quem desde criança nós
nos sentíamos bem, então teremos
facilidade de rezar a Deus como “Pai”.
Mas se o nosso pai era pessoa dura,
ameaçadora, sem expressão de carinho,
então podemos ter mais dificuldade em
poder nos relacionar com Deus como “Pai
Nosso”. Outras pessoas - especialmente
feministas - talvez achem que o título
“Pai” para Deus traz conotações
demasiadamente masculinizantes, quando
não machistas. Por isso, é importante
aprofundar o sentido bíblico do termo, e
o que significava na boca de Jesus.
Quando
o Antigo Testamento descreve Deus como
Pai, implica muito de que a nossa
cultura atribui à mãe. O Antigo
Testamento se refere a Deus como Pai
quinze vezes e enfatiza a ternura, a
misericórdia, o carinho e o amor de Deus
para o seu povo. Isso fica especialmente
claro nos Profetas. Vejamos alguns
textos: “Serei um pai para Israel, e
Efraim será o meu primogênito” (Jr 31,
9); “Será que Efraim não é o meu filho
predileto? Será que não é um filho
querido? Quanto mais o repreendo, mais
me lembro dele. Por isso minhas
entranhas se comovem, e eu cedo à
compaixão - oráculo de Javé” (Jr 31,
20); “Eu tinha pensado contar você entre
os meus filhos, dar-lhe uma terra
invejável... esperando que você me
chamasse de “Meu Pai”, e não se
afastasse de mim (Jr 3, 19); “Quando
Israel era menino, eu o amei; do Egito
chamei o meu filho... fui eu que ensinei
Efraim a andar, segurando-o pela mão...
Eu os atraí com laços de bondade, com
cordas de amor. Fazia com eles como quem
levanta até seu rosto uma criança; para
dar-lhes de comer, eu me abaixava até
eles (Os 11, 1ss).
Nestes textos podemos
sentir muitas das características que a
nossa cultura ocidental atribui à mãe -
portanto o termo “Pai” no Antigo
Testamento não traz qualquer conotação
machista.
Embora
o Antigo Testamento fale de Deus como
“Pai” 15 vezes,
jamais alguém invoca Deus como “meu
Pai”, ou “nosso Pai”. O respeito do
judeu diante da transcendência de Deus
não permitia. Mas, nos Evangelhos nós
achamos o termo “Pai” para Deus na boca
de Jesus 170 vezes. Isso era coisa tão
inédita que podemos ter certeza que se
trata de uma palavra autêntica de Jesus
e não somente proveniente da Igreja
primitiva. Marcos a usa 4 vezes, Lucas
15 vezes, Mateus 42 vezes e João 109
vezes! Na comunidade do Discípulo Amado,
pelo fim do primeiro século, “Pai” é o
termo para Deus.
A
expressão que Jesus mesmo usava era “Abbá”,
uma palavra aramaica sem sinônimo em
português. Fazia parte da linguagem da
intimidade do lar, um termo carinhoso
usado tanto por crianças como por
adultos, para o seu pai. Então,
ultrapasse o sentido da palavra nossa
“papai”. Devemos dar muito peso a este
ensinamento de Jesus, pois embora não
exista na literatura rabínica um exemplo
sequer do uso do termo “Abbá” para Deus,
Jesus sempre se dirigia a Deus deste
jeito, exceto em Mc 15, 34 (quando na
cruz, citando um salmo, ele chama Deus
de “Eloí”, meu Deus). Jesus, então
conversava com Deus com a segurança,
intimidade e carinho com quem se
conversa na ternura do seio familiar. E
mais, ele autorizou os seus discípulos a
usar o mesmo termo. Isso indica o novo
relacionamento com Deus, que Jesus nos
trouxe. É algo além do normal poder
reivindicar tal relacionamento com Deus.
São Paulo mantinha o termo aramaico,
mesmo escrevendo em grego em Gálatas 4,
6 e Romanos 8, 15, quando ele diz: “A
prova de que vocês são filhos é o fato
de que Deus enviou aos nossos corações o
Espírito do seu Filho que clama: Abbá
Pai!” (Gl 4, 6); “...receberam um
Espírito de filhos adotivos, por meio do
qual clamamos: Abbá, Pai!” (Rm 8, 15)
O “endereço” da oração
determina não somente o nosso
relacionamento com Deus, mas, com os
nossos irmãos e irmãs. Pois, se Deus é o
“Abbá” de todos nós, então somos todos
iguais, e rezar esta oração exige que
nós não nos compactuemos com qualquer
coisa que nos discrimine - racismo,
machismo, clericalismo, exploração etc.
Todas
as petições seguintes da oração dependem
deste endereço. Pois, não estamos nos
dirigindo a um Espírito perfeitíssimo,
criador do céu e da terra, onipresente,
onipotente e onisciente! Estamos nos
dirigindo ao nosso “Querido Pai”, e é
este novo relacionamento, um dom
incrível do próprio Deus, que faz
possível as petições. Por isso, na
liturgia, a Igreja pede que se faça uma
introdução à oração, como “Orientados
pela Palavra de Jesus, ousamos rezar”,
para que nós tomemos consciência da
enormidade do dom de filiação que
recebemos por Jesus.
2.
“Santificado seja o Teu nome”
Na
forma atual, esta petição pode expressar
tanto um louvor (“Santificado seja o teu
nome”), como uma petição (“Que o Teu
Nome se torne santificado”). No
contexto, devemos entendê-la como
pedido. Podemos entender melhor a frase
se voltamos de novo para um profeta do
Antigo Testamento, Ezequiel: “Vou
santificar o meu nome grandioso, que foi
profanado entre as nações, porque vocês
o profanaram entre elas. Então as nações
ficarão sabendo que eu sou Javé. quando
eu mostrar a minha santidade em vocês
diante deles” (Ez 36, 23).
Então, com este pedido
rezamos que o mundo chegue a conhecer o
nome (isto é, a realidade íntima) de
Deus (que Ele é o nosso “querido pai”)
através da nossa vivência. Se torna uma
oração missionária, com três elementos:
-
primeiro, que nós cheguemos a conhecer
cada vez mais quem é Deus.
-
segundo, que o mundo chegue a este
conhecimento através do nosso
testemunho;
-
terceiro, que a plenitude da revelação
da realidade de Deus venha logo; este é
o aspecto escatológico.
3.
“Venha o Teu Reino”
O
tema central da pregação de Jesus era a
iminência do Reino de Deus. Se o “nome”
de Deus se refere à sua natureza íntima,
o “Reino” se refere à sua atividade.
Pedimos aqui a consumação final do
Reino. É a oração da comunidade que
reconhece a presença do Reino, mas sente
que ainda não é estabelecido
definitivamente entre nós. Temos outros
trechos do Novo Testamento que expressam
este desejo com a palavra aramaica
“Maranathá”, (Vem, Senhor Jesus!), por
exemplo 1Cor 16, 22 e Ap 22, 20.
A
versão mateana que nós costumamos rezar,
acrescenta “Seja feita a vossa vontade,
assim na terra como no céu”. Isso é
outra maneira de expressar a mesma
ideia, pois, quando a vontade de Deus é
feita na terra como já se faz no céu,
então o Reino estará plenamente
realizado entre nós.
4.
“O pão nosso de amanhã nos dá hoje”
Os
primeiros dois pedidos almejam a chegada
do Reino na sua plenitude, mas as duas
petições seguintes põem a ênfase sobre o
“agora”, o “hoje”!
A
primeira dificuldade que enfrentamos é
com a tradução, pois aqui se usa uma
palavra grega “epiousios” que não
é usada em outro lugar no Novo
Testamento. Há quatro sentidos básicos
possíveis para este termo:
-
necessário para a nossa existência;
-
para hoje;
-
para o dia que virá;
-
para o futuro.
As várias traduções
usadas nas nossas bíblias (e seria bom
verificar) refletem a dificuldade em ter
certeza sobre o que significa o termo no
contexto desta oração. Muitos exegetas
concluem, com São Jerônimo, que a
palavra quer dizer “dá-nos hoje o nosso
pão de amanhã”.
Aqui,
“amanhã” significaria o “grande amanhã”
da parusia, da consumação final do Reino
de Deus. Assim estamos pedindo que nós
possamos experimentar hoje o que
pertence à plenitude do Reino.
E
isso tem implicações muito concretas
para a nossa vivência. Pois, jamais será
possível experimentar a plenitude do
Reino enquanto falta o pão material na
mesa dos nossos irmãos e irmãs. Quem faz
este pedido se compromete com a luta por
uma sociedade mais justa, mais fraterna,
onde todos possam ter uma vida digna.
Quando
Jesus e os seus discípulos faziam a
refeição, era muito mais do que
simplesmente tirar a fome. Significava o
banquete messiânico, desejado pelos
profetas, onde todos teriam vida plena.
Quem reza esta petição, se compromete
com a concretização de uma sociedade
onde “todos tenham a vida e a vida em
abundância” (Jo 10, 10), coisa
impossível sem o pão material nas mesas.
Não
é possível participar do banquete
eucarístico, sem este compromisso
concreto com a construção de um mundo
sem empobrecidos, onde todos terão “o
pão nosso de cada dia”.
5.
“E perdoa-nos as nossas dívidas, assim
como nós queremos perdoar os nossos
devedores”
Um
dos grandes dons da era escatológica é o
perdão. Já vimos em outros trechos como
Jesus manifestava esse dom gratuito do
Pai. Aqui pedimos que nós possamos
experimentar esse grande dom, aqui e
agora. Mas, o trecho levanta a questão
da relação entre o perdão de Deus e o
nosso perdão.
A
maneira que nós rezamos o “Pai Nosso” -
“perdoai-nos as nossas ofensas, assim
como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido” - pode dar a impressão que
estamos pedindo que Deus nos perdoe na
medida em que perdoamos os outros! Se
Deus vai nos perdoar conforme os
critérios humanos, estamos em maus
lençóis! Aqui é necessário que olhemos
melhor o que significa “assim como”.
Quase
todos os estudiosos estão de acordo que
esta frase não deve ser entendida como
uma comparação entre o perdão de Deus e
o nosso. Diversas parábolas sugerem que
o perdão de Deus precede o perdão humano
(Mt. 18, 23-25; Lc 7, 41-47). O nosso
perdão é consequência e resposta ao
perdão de Deus. Sendo perdoados, não
temos desculpa para não perdoar! Mas
qual é então o papel do perdão humano?
(Mt 6, 14s). É que o perdão de Deus só
se torna real para mim quando eu o
assumo na minha vida ao ponto que
procuro perdoar quem me ofendeu. O nosso
perdão mútuo então é a prova de até onde
temos aceito o perdão de Deus. Devemos
então lembrar três pontos:
-
O perdão de Deus sempre precede o perdão
humano;
-
O perdão humano é reação ao perdão
divino;
-
O perdão divino só se torna eficaz para
nós quando nós temos vontade de perdoar
o outro.
Joaquim
Jeremias, teólogo, explica a frase
assim: “Nós estamos prontos a repassar a
outros o perdão que nós recebemos.
Dá-nos, querido Pai, o dom da era da
salvação, o teu perdão, para que, na
força do perdão recebido, possamos
perdoar os que têm nos ofendido”. (J.
Jeremias, A
Oração do Senhor).
E
o grande exemplo desta realidade
continua sendo a mulher “pecadora” de Lc
7, 36-50), cujo grande amor foi
consequência do grande perdão recebido
de Deus.
6.
“E não nos deixes sucumbir à tentação”
Esse
é o único pedido formulado em termos
negativos. Aqui não somente pedimos para
não cair nas pequenas ou grandes
tentações que nós enfrentamos no
dia-a-dia, mas que não caiamos na Grande
Tentação, de não acreditar na realidade
da presença do Reino, de perder a fé na
ação transformadora de Deus, de não
acreditar mais na concretização da
vontade de Deus. E este “sucumbir” não
vem normalmente “de vez” - é um processo
lento, que pode acontecer sem que nós
demos conta. É o perder do élan, da
vibração com a causa do Reino, que reduz
a religião a um mer “cumprir tabela”,
sem alegria, sem esperança, - enfim uma
frustração. Esse pedido ecoa uma
mensagem e advertência clara dos
evangelhos - a necessidade de
vigilância! Estamos na luta escatológica
entre o bem e o mal, onde até Jesus foi
tentado. Aqui reconhecemos a nossa
fraqueza, a nossa tendência para o
desânimo, e pedimos a força de Deus para
que não sucumbamos à Grande Tentação.
Assim
a Oração do Senhor resume o projeto de
vida dos seus seguidores e discípulos. É
uma oração que traz consequências bem
concretas para o nosso relacionamento
com os irmãos e com a sociedade. É uma
oração que desinstala e desacomoda.
Pois, nós estamos nos comprometendo com
a construção diária do Reino, através do
seguimento de Jesus.
A
segunda parte do trecho de hoje insiste
na necessidade de perseverança na
oração. Faz contraste (e não
comparação!) entre Deus e o amigo
humano. Pois, se o “amigo” só atende o
pedido para não ser amolado, Deus é bem
diferente. Ele dará o mais importante -
o Espírito Santo, com todos os seu dons,
àqueles que o pedirem! Peçamos as coisas
pequenas - mas importantes - necessárias
para a nossa vivência diária, mas
saibamos também pedir os grandes dons do
Reino, o perdão, o pão da vida, a
misericórdia sem limites, que Deus
jamais negará!
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Pe. Tomaz Hughes, SVD
E-mail: thughes@netpar.com.br
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Grande Retiro
sobre Rodas: Terra Santa e Itália:
- Data:
8 a 22 de agosto de 2013.
- Roteiro
na Terra Santa: Nazaré, Belém,
Ain Karin, Canaã, Monte Tabor, Monte das
Bem-Aventuranças, Cafarnaum, Jericó,
Qumran, Mar Morto, Eilat, Jerusalém,
Monte das Oliveiras, Getsêmani, Muro das
Lamentações, Via Dolorosa, Santo
Sepulcro, Túmulo de Maria, Emaús...
- Roteiro
de Roma: Basílica de São Pedro
e outras, Vaticano, Coliseu, Catacumbas,
visita a locais turísticos, compras...
- Retiro:
Missa diária, breves meditações,
explicações bíblicas, arqueologia,
história da Igreja...
- Investimento:
US$ 4,950.00.
- Informações: www.sanpiotur.com.br -
Fone ( 41 ) 3233-5884.
* Viagem
para Terra Santa se decide ao longo de
vários anos; Sanpiotur organiza 4
viagens por ano. Prepare-se e venha
viajar conosco. Pe. Máikol.
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