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DOMINGO TERAPÊUTICO
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Alguns médicos e psicoterapeutas “descobriram a
pólvora”: recomendam
reservar um dia por semana, sem trabalho nem
perturbações, como
terapia para os exauridos e estressados. Uma
prática de higiene da
alma, embutida há milhares de anos na
observância religiosa do shabbat
judaico e do domingo cristão. “Santificar” um
dia para recuperar
energias físicas e espirituais tornou-se
recomendação de saúde.
Infelizmente, estamos habituados a tratar o
domingo como um contêiner
que tem de ser enchido até a borda com
atividades, diversões,
convivência barulhosa. Esta prática distorce um
das funções
terapêuticas do dia de descanso: desacelerar.
Curtir o dia, mas sem
ceder às pressões do marketing de
entretenimento, ou do grupo de
amigos para participar do que quer que seja, a
não ser que você esteja
realmente “a fim”. Desfazer-se da noção
deletéria de que não fazer
nada, uma vez por semana, é uma perda de tempo.
É legal preguiçar.
Precisamos desse tempo de qualidade para tratar
feridas e calos
provocados pelas cobranças diárias no desempenho
de tantas funções.
Nem que seja por apenas 12 horas semanais –
metade de um dia para
restaurar a força interior, no silêncio e na
atenção às pequenas
coisas que desaprendemos a curtir: cheiros,
cores, sabores, texturas,
sons naturais, música - violão, flauta,
pandeiro, sem microfone,
pode! Tomar banho sentindo a água e o sabonete,
dançar no meio da
casa, atentar para o vapor emitido pela
chaleira, os dedos das mãos se
mexendo, o ritmo da respiração.
O domingo deveria ser dia de recolhimento para
religiosos e não
religiosos. Pausa para desintoxicar-se das
tecnologias do trabalho e
do lazer: TV, computador, sistemas de som,
pluguezinhos de ouvido,
telinhas diversas que respondem ao toque dos
dedos. Os pais se
desprendam da compulsão de levar os filhos a
algum lugar para
distrai-los, porque durante a semana não houve
tempo para sair com
eles. Fiquem com eles! Somente isto. Façam
coisas juntos em casa,
deem uma volta a pé, leiam um livro de papel.
Conversem, joguem,
brinquem, sem i-pads, i-phones, mouses e
controles remotos de permeio
- olho no olho, voz ao vivo, abraços. Nem que
seja apenas uma vez por
semana!
O domingo terapêutico nos chama a prestar
atenção à mudança de formato
das nuvens, os tons da água do mar, lagoa ou
rio, acompanhar com o
olhar uma fileira de formigas, deter-se nos
detalhes das folhas de
plantas e árvores ao redor. A Natureza
acontecendo e nós nem-nem...
justamente por estarmos assoberbados, dispersos,
de cabeça entulhada e
reféns das expectativas dos outros, inclusive
dos promotores de
eventos. Não admira que sejamos adoecidos pela
falta de contato com a
Natureza e conosco mesmos. Entre as
reivindicações, um dia de
descanso sossegado, para higienização da mente,
alma e espírito. Tão
simples, tão nutritivo e reparador!
(Diário de Pernambuco, 26/8/2013)
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"Se avexe não, amanhã pode acontecer tudo,
inclusive nada.
(Accioly Neto)
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Avexar-se - forma popular nordestina de
vexar-se: apressar-se. afligir-se. |
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