Theresa Catharina de Góes Campos

  NÃO FOI CELEBRIDADE, MAS...

Maria da Paz Santiago evolou-se para asteroide desconhecido, no dia
29/8/2013, aos 83 anos. Não foi nenhuma celebridade, mas fez parte da
nosssa família, por mais de 50 anos e construiu fortes laços de afeto
e lealdade comigo e meus irmãos..
Trabalhou em casa de meus pais por 30 anos, esteve conosco nas
alegrias e perdas, ganhou de Mamãe, como presente de aposentadoria,
pequeno apartamento construído ao lado da casa de um de seus três
filhos. Filhos que foi impelida a entregar, ainda crianças, porque o
marido lhe negava dinheiro para sustentá-los. O pai assumiu os filhos
e ela sumiu do casamento. Mais crescidinhos, encontravam-se com a
mãe, escondido. Na idade adulta, aproximaram-se e estavam presentes no
sepultamento.
Depois de aposentada, Maria passou a ser dama de companhia e
“cúmplice” das circuladas de Mamãe, nos fins de semana, até que a
saúde, debilitada por cardiopatia e problemas renais (de tanto remédio
que tomou, dizem), limitou-a a ser visitante regular, apenas. Sempre
esteve presente nos aniversários, natais, são-joões (ajudando na
canjica) e Ano Novo. Nos últimos tempos (até a entrada de Mamãe no
processo de Alzheimer), as duas sempre rompiam ano comigo e Henrique,
em nosso apartamento. Mesmo com a saúde frágil, não perdia excursões,
piqueniques e festas do Clube da Terceira Idade ao qual pertencia.
Inteligente, habilidosa em costuras, remendos e solução de problemas,
com senso de humor e de iniciativa, contávamos com ela para muitas
coisas.
De Mamãe sempre teve o elogio de ser da mais absoluta confiança em
matéria de dinheiro e discrição. Eu a apresentava, com justiça, como
“a terceira avó de Daniel”. Em sua casa, ela exibia foto dele,
apontando-o orgulhosamente como “meu neto mais velho”.
Nos idos da infância, Daniel aborreceu-se com os pais, não me lembro
mais por quê. Arrumou uma malinha e saiu calçada afora, na direção da
casa de Mamãe, dois quarteirões adiante: “Vou morar com Mariazinha”.
Temos foto da “fuga” e da chegada dele junto à sua protetora.
Quando ela já não podia mais morar sozinha, demos-lhe guarida em casa
de Mamãe. Na sua ficha do IMIP, onde se hospitalizou nos últimos dias
de vida, constava o nome de Helena, minha irmã caçula, como “filha
afetiva”. E assim nos sentíamos também meu irmão Rômulo e eu. Por
isto, bateu uma saudade... Seremos sempre gratos por sua quieta e
luminosa presença em nossas vidas.

Carinhoso abraço, Tereza.

Tereza Halliday
data: 5 de setembro de 2013 21:55

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"Se avexe não, amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada.
(Accioly Neto)
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Avexar-se - forma popular nordestina de vexar-se: apressar-se. afligir-se.
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De: Theresa Catharina de Goes Campos
Data: 5 de setembro de 2013 23:56
Assunto: Aos familiares e amigos, o meu abraço carinhoso de
pêsames.Fwd: Compartilhando um momento
Para: terezahalliday

Querida Tereza Lúcia:

Aos familiares e amigos, o meu abraço carinhoso de pêsames.
Maria da Paz Santiago foi de encontro à paz eterna, como fez por
merecer durante a sua vida neste nosso mundo imperfeito e turbulento.
Aqui viveu a sua dedicação amorosa na prestação de serviços. Soube ser
amiga. Deixou a luz da saudade, o que diz tudo sobre a pessoa que
foi, apesar dos sofrimentos no âmbito da própria família.
As recordações dela testemunham as suas ações.

Muito obrigada pelo envio do belo texto sobre Maria da Paz Santiago.
(...)
Um beijo de
Therezita

 

Jornalismo com ética e solidariedade.