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AGIMOS COM A
BOCA
Tereza Halliday – Artesã de
Textos
Para o pesquisador do uso
das palavras, “todo dizer é
fazer”. Assim o atestam
teóricos famosos como
Habermas, Bahktin,
Beveniste, Austin, Searle,
Hannah Arendt e Burke (o
Kenneth, não o Edmund). Na
Linguística, usa-se os
termos atos de fala, atos de
discurso, atos de linguagem.
Em Crítica Retórica, tipo de
análise de discurso que
estudei por cinco anos e
ainda pratico, trabalha-se
com o conceito de atos
retóricos, isto é, atos de
compartilhamento da nossa
visão da realidade, usando
palavras e outros símbolos.
Somos seres retóricos,
buscando influenciar pela
comunicação. Assim que
aprende a falar, a criança
já sabe apresentar razões.
Apesar de sua conotação
negativa, retórica não é
palavrão. É termo técnico
para designar o uso
circunstanciado de palavras
e outros símbolos como ato
potencialmente influenciador
de atitudes, sentimentos,
situações. “Encontrar
palavras adequadas ao
momento certo,
independentemente da
comunicação ou informação
que transmitem, constitui
uma ação.” (Hannah Arendt).
Pertencem ao domínio da ação
retórica os atos de
anunciar, explicar,
tranquilizar, advertir,
autorizar, predizer,
elogiar, criticar, admitir,
propor, recusar, aceitar,
negar, agradecer, confirmar,
defender, acusar, prometer,
acolher, apoiar, repudiar,
encorajar, sugerir, exortar
e assim por diante. Com
esses atos, definimos as
coisas da maneira como
desejamos que os outros as
vejam. É necessidade humana
e prerrogativa do espaço
democrático. Construir a
realidade com palavras e
outros símbolos é uma forma
de resolver conflitos e
fomentar cooperação sem o
uso da força. Assim se faz
na propaganda comercial e
política e nas redes
sociais, quando bem usadas.
Mas, se esta ação for “só
retórica” (para usar o
significado popular negativo
do termo), é disfunção
comportamental que costuma
atacar políticos, portadores
de certos distúrbios mentais
e pessoas cuja formação
falhou em ensiná-las a ser
responsáveis por seus atos
de fala ou escrita.
Todo ato de comunicação
precisa ser tratado e
cobrado como ação. Não
existe diferença entre
discurso e ação –
falar/escrever é um tipo de
ação. Se alguém diz uma
coisa e faz outra, há um
descompasso entre dois atos
da mesma pessoa – um, verbal
(a declaração, a promessa, a
justificativa), outro, com
os demais instrumentos de
ação - decisões,
providências, ajuda,
agressões físicas,
empulhação, omissão. O autor
deve ser responsabilizado
por seus atos verbais.
Falou, está agindo. Ao agir
com palavras, as pessoas
precisam ter a mesma cautela
e senso de responsabilidade
com que devem dirigir um
veículo ou manejar uma faca,
porque carro/moto, faca,
palavras, tanto podem ser
bons e úteis como causar
danos. Nestes tempos
pré-eleitorais em que os
aspirantes ao bem-bom de ser
governo já começam a soltar
o verbo e agir com a boca,
muita atenção à congruência
de seus atos verbais com os
demais atos. (Diário de
Pernambuco, 18/11/2013) |
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