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PERSONAL TRAINER DIGITAL
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Eis um nicho de mercado para gente capaz de dar
orientação eletrônica: tornar-se personal
trainer digital. A demanda provém de usuários de
computadores de mesa, colo e dedo, telonas e
telinhas pelas quais nos conectamos ao mundo
virtual visando melhorar a vida no mundo real.
Gente que precisa usar a telefonia móvel, a web,
e-books, mapas online. Gente decepcionada com
manuais mal-escritos, que mais atrapalham do que
esclarecem sobre o uso do tablet, DVD player,
i-phone, i-pad, i-pod, i-pud - este último não
existe, mas vai existir.
O personal trainer digital pode treinar seus
clientes no uso de polegares e indicadores
tamanho adulto em teclas projetadas para dedo de
bebê; reorientá-los, toda vez que um
web-designer desvairado recria um caminho para
chegar a alguma operação no computador, quando o
procedimento anterior funcionava perfeitamente,
no e-mail, blog ou site de busca; dar apoio
moral e técnico ao sujeito cujo computador
passou pelas mãos do competente e apressado
expert em broncas computacionais grandes e a
máquina volta consertada, mas com tudo fora do
lugar.
Eis alguns requisitos para ser personal trainer
digital de alta qualidade: paciência, paciência,
paciência, empatia - a capacidade de se colocar
no lugar do outro. É preciso compreender as
dificuldades do aluno, geralmente muito sabido
em sua própria área de atuação, mas confuso
quando apresentado aos instrumentos eletrônicos
que precisa acionar. O orientador digital
paciente pode infundir-lhe confiança e levá-lo à
competência, que sempre precisará de mais uma
capacitação quando as “novas novidades”
eletrônicas aparecerem.
O personal trainer digital jamais deve
espantar-se com o desconhecimento de seu
orientando, que pode até parecer abestalhado por
não saber baixar um aplicativo ou, talvez, nem
saiba o que é um aplicativo. Muitos dos
necessitados de orientação eletrônica têm
habilidades ímpares: cirurgiões, juízes de
Direito, empresários, compositores, gente que
fala dois ou três idiomas estrangeiros,
aposentados experientes e, até mesmo, adultos
mais jovens que, até então, usavam seu precioso
tempo para outros aprendizados e competências.
Seu problema é serem imigrantes digitais:
nasceram e se educaram numa terra onde os
instrumentos de comunicação eram outros e foram
forçados a emigrar para o país do mouse, teclas
e toques, cliques, downloads e upgrades. Alguns
não curtirão o novo aprendizado, apenas precisam
dele para funcionar melhor em sua vida
profissional e pessoal, assim como gente avessa
a exercícios físicos recorre a um personal
trainer corporal para melhorar a saúde.São
embananados de Internet, deficientes
eletrônicos. Carecem de apoio para inserir-se no
novo “país” no qual são imigrantes, forçados a
aprender novas linguagens. Buscam no personal
trainer digital um instrutor, orientador
paciente, quebra-galhos que lhes alivie o
estresse e aumente sua inserção no mundo novo
onde precisam adquirir cidadania.
(Diário de Pernambuco, 2/12/2013)
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