Escola Naval recebe primeira
turma de Aspirantes femininas.
Imagem: Ministério da Defesa
Doze mulheres acabam de
ingressar na Escola Naval,
integrando o primeiro grupo
feminino a pisar, como
Aspirantes, o solo sagrado
de Villegagnon.
Ao ver a foto da jovem Aspirante
já com o uniforme branco, a tia
de uma delas escreveu um dos
textos mais belos e atuais, não
apenas sobre a Marinha, mas sim
sobre o Brasil e os dias que
vivemos.
Com a devida permissão da
autora, Sra. Carla Andrade,
segue abaixo o que ela escreveu:
De todas as transformações
que o nosso país enfrenta,
não tenho dúvida que a pior
delas é inversão de valores.
Não estou falando dos atores,
mas da plateia.
Quem determina o sucesso de um
espetáculo é o público. Por
melhor que sejam os atores e o
enredo, se o público não
aplaudir, a turnê acaba.
Nós somos a sociedade, nós somos
a plateia, nós dizemos qual o
espetáculo deve acabar e qual
precisa continuar.
Se nós estamos aplaudindo coisas
erradas, se damos ibope a
pessoas erradas, de que estamos
reclamando afinal?
Somos nós que continuamos
consumindo notícias de bandidos
presos e condenados.
Somos nós que consumimos
notícias de arruaceiros que
ganham mesada para depredar o
nosso patrimônio.
Somos nós que damos trela para
beijaços, toplessaços, marcha de
vadiaças, dos maconheiraços, dos
super-heróis que batem ponto em
“manifestações” (e que gostam de
cozinhar-se dentro de uma
fantasia num sol de 45 graus), e
todos os tipos de histéricos
performáticos que querem seus 15
minutos de fama.
Quando fazemos isso, estamos
dando-lhes valores que não têm.
Estamos dando-lhes atenção.
Estamos dedicando-lhes o nosso
precioso tempo.
Passou da hora de dar um basta
nisso!
Por que os nossos jornais estão
recheados de funkeiros ao invés
de medalhistas olímpicos do
conhecimento?
Por que vende-se mais jornal com
notícia de um funkeiro que
largou a escola por já estar
milionário, do que de um aluno
brilhante que supera até seus
professores?
Por que sabemos os nomes dos
BBBs e não sabemos os nomes dos
nossos cientistas que
palestraram no TED?
Por que muitos não sabem nem o
que é o TED? Ou Campus Party?
Por que um evento histórico para
o Brasil como o ingresso da
primeira turma feminina da
Escola Naval não é noticiado?
Por que um monte de alienadas
com peitos de fora, merecem mais
as manchetes do que as
brilhantes alunas, que
conquistaram as primeiras 12
vagas, da mais antiga
instituição de ensino superior
do Brasil?
Por que nós continuamos
aplaudindo a barbárie, se ainda
temos valores?
O país não mudará se nós não
mudarmos o foco!
Os políticos não mudarão se nós
não refletirmos a sociedade que
queremos!
Já passou da hora de nos
posicionarmos!
Ostracismo a quem não merece a
nossa atenção e aplausos para
quem faz por merecer.
Merecer! Precisamos devolver
essa palavra para o nosso
dicionário cotidiano.
Meu coração ao olhar essa foto
hoje, se divide em vários
sentimentos distintos.
Muito orgulho de ser mulher e me
ver representada por essas
guerreiras.
Elas não estão fazendo arruaça
pleiteando igualdade. Elas
conquistaram a igualdade
estudando e ralando muito.
Elas tiveram que carregar na mão
as suas malas pesadas no dia que
entraram na Escola Naval. Não
puderam puxar na rodinha não!
Tiveram que carregar na mão
igual aos aspirantes masculinos.
Elas foram e fizeram.
Mas ao contrário das feministas
de toddynho, não estarão nas
manchetes dos jornais de hoje. E
isso me evoca outros
sentimentos.
Sentimentos de revolta, de
vergonha, e de constrangimento
frente a essas mulheres, que não
serão chamadas de heroínas por
apresentadores de televisão. Mas
estão dispostas a morrer como
heroínas por nosso país.
Parabéns, Primeira Turma
Feminina da Escola Naval de
2014. Vocês são a dúzia que vale
muito mais que milhares!