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CAMINHOS DA FEMEAZINHA
Tereza Halliday – Artesã de Textos
O bebê fêmea já sai da maternidade usando
brincos. Mesmo estes tendo se tornado adornos
adultos unissex, ainda são indicadores do sexo
feminino entre bebês. Eu mesma procuro guiar-me
por este detalhe, quando encontro um bebê, a fim
de acertar no elogio “fofinho” ou “fofinha”.
Pouco depois, a fofinha recebe fita no cabelo -
tipo diadema, para diferenciá-la dos bebês
machos. Até aí tudo bem. Que seria das mamães
recém-empossadas no cargo se não pudessem
brincar de boneca um pouco? Talvez o
embonecamento do bebê de carne e osso ajude a
aliviar a baita responsabilidade do papel de
mãe, que todo mundo festeja, minimizando as
canseiras, preocupações, plantão permanente que
estão por vir.
Lá pelos dois aninhos, começa a capacitação para
seduzir. Mães bem intencionadas, mas sem noção,
vão nas águas do marketing de moda infantil e
aceitam que a filha pequerrucha use sandálias de
salto - pelas quais os ortopedistas terão muitos
lucros em seus consultórios; batom, unhas
pintadas, blush, bolsinhas de grife ou não;
biquínis onde ainda não há seios para encobrir
minimamente. É bom cultivar a autoestima da
garota, incentivar pequenas vaidades que
incrementarão sua aparência feminina. Mas, não
travesti-la de mulher quando ainda é apenas
criança. Aliás, ela é mais que isto. É pessoa -
isto mesmo, pessoa, mais que fêmea. Precisa
desenvolver, primeiro, outros talentos e esperar
o amadurecimento natural. Por sua vez, o menino
vai absorvendo, desde pirralho, o valor segundo
o qual é motivo de orgulho ser “galinha” – termo
hoje aplicado tanto à mulher quanto ao homem
afeito(a) uma vida sexual intensa e variada.
(Ver Dicionário Houaiss). Seduzir e ser
seduzida(o) torna-se troféu de masculinidade e
feminilidade.
Estão roubando a infância dos machinhos e das
femeazinhas. Estas, precocemente emperiquitadas
para parecer mulheres adultas sedutoras.
Pediatras e psicólogos têm alertado para a
insalubridade do excesso de estímulos sexuais
captados por mentes infantis, passando a atuar
num corpo que ainda não completou o crescimento.
Mais cedo do que os pais desejariam, a ex-menina
estará apta, sim, a atrair um macho, jovem,
fogoso, com superprodução de hormônios e
estimulado pela gatinha que mães e tias
fantasiaram de gatona desde quando era apenas um
filhote. Não precisa empurrá-la, a Natureza tem
seu próprio cronograma e a criança fêmea se
transformará em moça, ansiosa para “ficar”. E da
ficância, puff! Nasce um pimpolho ou pimpolha,
de pais adolescentes ou jovens adultos sem eira
nem beira. Grande transtorno para eles,
genitores não habilitados, que têm apenas a
capacidade biológica de procriar. Transtorno
para os avós que adquiriram, de supetão, o novo
status, com nova carga de preocupações,
despesas, trabalheira, sacrifícios. Certo, a
babação geral se seguirá, com montes de fotos no
Facebook , Instagram e o amor de que o bebê
tanto precisa. Mas, não apaga o fato, sabiamente
reconhecido por uma jovenzinha grávida de
“ficância”: “Fomos irresponsáveis”. Toda uma
cultura tem parte nessa irresponsabilidade.
(Diário de Pernambuco, 24/2/2014)
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