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EUFEMISMOS E EXAGEROS
Tereza Halliday – Artesã de Textos
O título do meu artigo de 10/3/2014 nesta página
foi “Palavras de marqueteiro político”. Alguns
do ramo reagiram com desconforto ante a suposta
conotação derrogatória do termo “marqueteiro”.
Um preferia ser chamado marquetólogo, outro
disse que é melhor usar a expressão
“especialista em marketing”. Se a terminação
“eiro” para o nome de algumas profissões soa
maldita a certos ouvidos supersensíveis na área
do marquetingue (grafia usada por Luiz Fernando
Veríssimo), então chamemos engenheiro de
especialista em engenharia, ou talvez
engenhólogo. O prurido terminológico quanto a
“marqueteiro” talvez se origine no fato de
algumas profissões terminadas em “eiro” terem
menor status: bombeiro, pedreiro, marceneiro,
faxineiro... Como todos os profissionais da
comunicação, o marqueteiro político pode ser
sério ou chicaneiro. É fácil trapacear, no
escorregadio terreno da argumentação, no qual
todos temos um lote, como usuários de
palavras... Mas, não é a terminação em “eiro”
que vai denegrir uma profissão. Felizmente
recebi também e-mails bem-humorados de
marquetistas (outro sinônimo possível) políticos
sem melindres.
A bem intencionada onda do politicamente correto
ignora nuances de significados. “Vem cá,
neguinha”, sempre foi uso carinhoso. Já ouvi a
expressão “meu preto” aplicada carinhosamente a
um namorado de pele alvíssima . Mas, usar o
termo “negro” para alguém de pele escura virou
crime racial. Depende do contexto e da
entonação. “Negro sem-vergonha” e “galego
sem-vergonha”são agressões verbais. E devem ser
evitadas, pelo respeito a todos. Mas, usar
eufemismos exageradamente na ânsia de não
ofender ninguém, desagua em enrolação. Chamar
empregada doméstica de “secretária” não aumenta
nem encobre o status da babá ou cozinheira, que
dignamente ganha a vida com estas ocupações.
Lamentavelmente, há preconceito no próprio grupo
social de faxineiras e afins, que são vítimas de
comentários de vizinhas mais jovens: “Eu, hein,
trabalhar na casa dos outros? Deus me livre”.
Podem se esfalfar como comerciárias, mas acham
indigno ganhar a vida no serviço doméstico.
Felizmente, um grupo vítima do excesso de
escrúpulos verbais recusou a designação
“portador de deficiência auditiva”. Querem ser
chamados de “surdos” mesmo. Sem panos mornos nem
ofensa. Também há um contingente de pessoas mais
velhas que recusa os eufemismos “melhor idade” e
“idoso” (este, sacramentado pela terminologia
oficial). Primeiro, porque, os últimos anos de
uma longa vida, com as mudanças de vigor,
dificilmente podem ser chamadas de “melhor
idade”. Segundo, porque os longevos de bem com a
vida, mesmo enfrentando limitações, sabem que
são velhos e não se ofendem com isto. Mas ainda
há quem prefira eufemismos para adocicar o
envelhecer. É prudente perguntar “Como você
prefere ser chamado?” O território semântico é
um pisar em ovos.
(Diário de Pernambuco, 7/4/2014)
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