AGONIA E
ÊXTASE
AGONIA E ÊXTASE (The
Agony and the Ecstasy)
Gênero: Épico,
Biográfico, Histórico, Drama.
Duração: 138
minutos
Lançamento: 1965
País: EUA
FICHA TÉCNICA
Direção: Carol
Reed
Roteiro: Philip
Dunne
Produção: Carol
Reed
Edição: Samuel
E. Beetley
Música Original: Alex
North
Fotografia: Leon
Shamroy
Direção de Arte: Jack
Martin Smith
Figurino: Vittorio
Nino Novarese
Maquiagem: Amato
Garbini
Efeitos Sonoros: James
Corcoran, Carlton W. Faulkner, Douglas O.
Williams
Efeitos Especiais: L.
B. Abbott, Emil Kosa Jr.
ELENCO
Charlton
Heston….Michelangelo Buonarroti
Rex Harrison….Papa Júlio
II
Diane Cilento….Condessa de
Médici
Harry Andrews….Donato
Bramante
Alberto Lupo….Duque de
Urbino
Adolfo Celi….Cardeal João
de Médici
John Stacy….Sangallo
Fausto Tozzi….Contramestre
Tomas Milian….Raphael
SINOPSE
Charlton Heston e Rex
Harrison interpretam duas das personalidades
mais marcantes da Renascença, neste drama
histórico baseado no bestseller de Irving
Stone, ambientado no início do Século XVI.
Quando o Papa Júlio II (Harrison) encomenda
a Michelangelo (Heston) a pintura do teto da
Capela Sistina, o artista recusa, a
princípio. Virtualmente forçado pelo
Pontífice a fazer o trabalho, ele acaba por
destruir sua obra e foge de Roma. Quando
recomeça a pintura, o projeto se torna uma
batalha de vontades alimentada pelas
diferenças artísticas e de temperamento que
são o ponto central deste filme.
TEMA
Renascimento; Séc. XVI;
Michelangelo;
PRÊMIOS
Prêmios David di
Donatello, Itália
- Prêmio de Melhor
Produção de um Filme Estrangeiro
Prêmios Globo de Ouro,
EUA
-Prêmio de Melhor Roteiro
-Prêmio de Melhor Ator em
um Drama (Rex Harrison)
Indicações
Academia de Artes
Cinematográficas de Hollywood, EUA
-Oscar de Melhor
Fotografia
-Oscar de Melhor Direção
de Arte
-Oscar de Melhor Figurino
-Oscar de Melhor Trilha
Sonora
-Oscar de Melhores Efeitos
Sonoros
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Agonia e Êxtase (1965)
é um filme clássico, extremamente bem feito,
no qual figuram dois grandes e premiados
atores, Charlton Heston ( que fez também o
papel de Ben-Hur e de El-Cid) e Rex Harrison
(o que representou o Professor Higgins, em My
Fair Lady). Em Agonia e Êxtase, Heston
fez o papel de Michelangelo, e Harrison, o
do Papa Júlio II. O choque das fortes
mentalidades dos dois homens é
magnificamente bem interpretado no filme,
com um cenário e um figurino de
primeiríssimo nível.
Quanto aos cenários, ao
figurino, à ambientação, é sem dúvida um
filme grandioso, se bem que alguns pequenos
anacronismos nele aparecem de permeio.
Exemplo de anacronismo: pareceu-me um tanto
deslocado o escândalo provocado por certas
figuras nuas ou quase tanto na pintura da
Capela Sistina, realçado no filme. Pelos
costumes da época, a utilização de nus
artísticos era então generalizadíssima e não
poderia provocar o escândalo da forma
apontada pelo filme.
Agonia e Êxtase retrata muito
bem aquela fase de inegável decadência
religiosa, na qual o elemento humano e
pecador da Igreja Católica adquiriu um
realce desmedido, fazendo sombra a seu
elemento divino, espiritual e santo.
Como diria, séculos depois, o
historiador Ludwig von Pastor, autor de uma
monumental História dos Papas da Renascença,
a Igreja Católica provou ser realmente de
instituição divina, pois nem os Papas
conseguiram destruí-la, por mais que
tentassem...
Quem não toma em consideração
esse duplo aspecto da Igreja Católica - de
um lado sua natureza espiritual e divina,
pura e santa, de outro seu elemento humano,
cheio de misérias, defeitos e até crimes -
muito facilmente perde a perspectiva
adequada para julgá-la na História.
Na Idade Média, entendia-se a
arte como a expressão da beleza, e o belo se
definia como o esplendor do bem, ou da
bondade (splendor bonitatis). Tudo isso,
numa ótica teocêntrica, em que o homem se
postava numa posição secundária. Deus era o
sumo Bem e a suma Beleza. Todas as formas de
representação de belezas artísticas se
ordenavam a Deus. Nesse contexto, o belo era
um fim em si, pois remetia diretamente a
Deus, que era a suma Beleza.
Como o elemento humano era
deixado em segundo plano na Idade Média,
muitas obras-primas eram anônimas. Das
catedrais, por exemplo, quase nunca se sabe
o nome dos projetistas e construtores. Tudo
era feito dentro de um espírito religioso,
muitas vezes até mesmo como penitência por
crimes e pecados, tudo se fazia de modo a
centrar o foco das atenções em Deus.
Já com a Renascença, deu-se
uma verdadeira reviravolta nessa ordenação
medieval. Entrou em cena o antropocentrismo.
O Homem, e não mais Deus, passou a ser o
centro das atenções. Do ponto de vista
formal, não se chegou imediatamente ao
ateísmo; mas, na ordem concreta dos fatos,
Deus foi cada vez mais se tornando elemento
secundário. O Homem era o centro de tudo.
A gigantesca reviravolta
assim constituída na passagem da Idade Média
para a Renascença foi muito bem expressa
pelo filósofo francês Etienne Gilson: “A
diferença entre o Renascimento e a Idade
Média não foi uma diferença produzida por
adição, mas por subtração. O Renascimento,
tal qual nos foi descrito, não foi a Idade
Média mais o homem, mas a Idade Média menos
Deus, e o que houve aí de trágico, foi que,
ao perder Deus, o Renascimento perdeu o
próprio homem.” Essa observação lapidar de
Gilson foi transcrita numa das questões do
exame do ENAD, de História, em 2005.
Dentro do contexto dos novos
tempos, os critérios estéticos tiveram
importância fundamental. Houve todo um
retorno a padrões estéticos da Antiguidade.
E sempre com o Homem no centro das coisas. E
aí duas figuras tomaram uma importância
também nova: em primeiro lugar, o artista,
que passava a ser o autor reconhecido da sua
obra, que não mais se contentava com o
anonimato humilde dos artistas medievais; e
em segundo lugar, o mecenas, que financiava
o artista e em homenagem ao qual, pelo menos
em princípio, era feita a obra. Era sempre o
homem que estava em foco, seja como autor,
seja como finalidade.
O filme mostra muito bem essa
dicotomia, entre o artista Michelângelo e o
mecenas Júlio II, que queria decorar a
capela Sistina para, assim, perpetuar seu
nome e o de um papa anterior, seu parente.
Um precisava do outro, um não podia viver
sem o outro. Mas ambos em perpétuo conflito,
com seus egos poderosos sempre se chocando.
Postas as coisas como
estavam, naquele contexto, o mecenato era
uma instituição inevitável. O mecenato
também teve, por parte da Igreja, certo
caráter pastoral e apostólico. Entendia-se
que, por meio da beleza e da arte, era
possível tocar os corações e, assim,
aproximá-los de Deus. O empenho de colocar a
estética a serviço da fé seria, pouco mais
tarde, uma das características do estilo
barroco, gerado pela Contra-Reforma.
No filme Agonia
e Êxtase, porém,
no meu modo de entender essa ideia
apostólica está quase inteiramente ausente,
ficando mais focado o lado antropocêntrico
do problema: o conflito dos dois egos, o de
Michelângelo - desejoso de realizar
plenamente sua concepção estética e, assim,
imortalizar-se como artista - e o de Júlio
II, desejoso de engrandecer sua família e,
assim, a si mesmo.
ARMANDO ALEXANDRE DOS
SANTOS -
é historiador e jornalista, ex-diretor da
Revista da Academia Piracicabana de Letras