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O Papel da Juventude na Sociedade Atual
Todos sabem que o futuro do mundo está nas mãos
da juventude de agora; e muitos compreendem a
necessidade de um presente bem vivido. Poucos,
porém, são aqueles que ajudam ou se dispõem a
orientar a mocidade. Considerando que os jovens
trazem consigo a semente, um porvir escondido,
precisam também de cuidados especiais para
germinar em toda a sua plenitude. Porque
exercerão uma grande influência na sociedade.
As esperanças e ambições, os sonhos e anseios
que impulsionam a juventude têm uma dinâmica:
impedem, muitas vezes, que as atividades se
realizem sem criatividade, afastam por completo
uma possibilidade de estagnação. Os bons
hábitos, ensinados pelos pais e educadores, vão
se estabilizando e sendo postos em prática no
ambiente de cada um dos jovens. Sempre visando a
seu futuro, ainda uma incógnita, já procuram
caminhos, trabalham e se esforçam continuamente;
com essa preocupação de vencer, com essa pressa
construtiva, contribuem para que seja cada vez
maior o progresso mundial. À medida que recebem
ensinamentos preciosos, no lar e na escola, vêem
que lhes são apresentadas ocasiões para
aplicá-los. Que admirável ação impulsionadora
exercem quando buscam a verdade, analisam seus
erros e procuram atingir a perfeição! Tentam,
quem sabe?, igualar aqueles que admiram!
Seu natural otimismo, sua intensa vontade de
viver, são contagiantes. Apesar disso, porém,
interiormente, a juventude pede o estímulo dos
mais velhos, esperando, também, que lhe apontem
caminhos. Não esqueçamos, porém, os jovens que
não puderam dar amor a seus semelhantes por
motivo de abrigarem o ódio no seu coração! Ódio
aos que lhes negaram uma pequena ajuda, um
incentivo qualquer. Ódio aos que os humilharam
por sua situação social inferior. Quantas
inteligências não se desenvolveram por terem
sido eles obrigados a passar, desde cedo, a
maior parte de sua vida, carregando caixotes no
cais, vendendo frutas ou verduras nos mercados,
ausentes da escola! Quantos se perderam, nas
ondas da delinquência, por não ter havido uma
única pessoa que se preocupasse com a sua sorte,
que os retirasse da miséria em que viviam, que
os afastasse dos maus companheiros! Quantos,
caindo, estenderam a mão para que os ajudassem a
levantar-se e, em vez disso, foram pisados
cruelmente, forçados a fracassar mais uma vez.
Quem perdeu, além deles, com essa criminosa
negligência? A sociedade, é claro. Seria
desenvolvida pelas suas inteligências,
enriquecida pelo seu trabalho honesto. Tudo que
não se orienta para um determinado objetivo, que
não é devidamente aproveitado: a energia, a
vontade de ajudar, os sentimentos belos, o
companheirismo, todo esse potencial faz falta à
sociedade.
Os jovens devem compenetrar- se do seu papel,
cônscios de sua grande responsabilidade. São
sementes: sua missão é, ao se aperfeiçoarem,
melhorar o mundo. Seus corações não devem jamais
abrigar conceitos materialistas, nem ditatoriais
e belicosos, que apregoam a violência. Nem
concordar, também, com qualquer espécie de
escravidão. Têm pela frente tarefas a realizar,
horizontes velados que lhes acenam com promessas
de sucesso. No afã de crescerem, estão sempre
avançando, confiantes, os olhos a brilhar de
desejos de vitória. Enquanto os mais velhos já
se desiludiram de seus sonhos e trazem na alma o
pessimismo, a mocidade empunha a sua maior arma,
a Fé. Algumas vezes vã, louca, imprudente,
demasiada, mas sempre Fé, sempre entusiasmo,
sempre Esperança. Afasta as probabilidades
céticas e leva a termo empreendimentos para os
quais muitas vezes não está ainda preparada,
entretanto, devido à força arrebatadora de seu
entusiasmo, tem êxito. Como no caso de muitas
empresas, que tomaram verdadeiro impulso quando,
corajosamente, resolveram pôr em prática as
ideias renovadoras de seus jovens técnicos. Isso
deu lugar, é verdade, a um choque, entre os
“reacionários”, que se agarravam ao conformismo
pessimista, e esses moços ousados, o que foi,
porém, plenamente recompensado. A rotina e a
mediocridade foram substituídas, caíram por
terra...
As possibilidades que a juventude encerra são
tão grandes que a União Soviética, porque a
temem, derrama sobre ela chuvas de propaganda de
idéias marxistas apregoando a eficiência do
sistema comunista, enquanto lhe dedica atenção e
verbas especiais. Melhoramentos como
universidades, centros de pesquisas, são criados
com o único objetivo de despertar as simpatias
dos moços para o regime vigente e para o estudo
da Ciência, o que está contribuindo para que a
Rússia atinja metas espaciais realmente
estupendas. O Estado paga para que estudem um
equivalente de 6.000 a 10.000 cruzeiros mensais.
O que amedronta a U.R.S.S. é a tremenda
capacidade de reação da mocidade, a sua coragem
impetuosa, aliada à curiosidade, sempre
crescente, em relação ao modo de vida dos povos
fora da Cortina de Ferro. Ficou mesmo provado em
1956, na Hungria, quão perigosa ela pode ser ao
arriscar sua vida, para ser livre. As
perspectivas de um viver de nível cada vez mais
baixo, apesar dessa chamada geral para as
escolas, a tragédia da falta de habitações, dos
quartos para mais de uma família, o terror
constante imposto pela M.V.D., foram a fagulha
que fez explodir a Revolução Húngara. Um jovem
de 23 anos, estudante de Química, definiu assim
a causa da corajosa revolução, posteriormente
afogada em sangue pelos tanques russos: “Nós
sentíamos que nos encontrávamos em um túnel
escuro e não podíamos ver o futuro. Não víamos
qualquer saída”.
Os jovens, portanto, são também os mais
incansáveis salvaguardas da liberdade, tanto nos
países satélites como em todos os lugares do
mundo livre. Ao contrário dos que já viveram
muito, eles, tendo pela frente uma vida inteira,
pensam logo na possibilidade de, se não
reagirem, viver num regime que, além de lhes ser
francamente hostil, sufoca a sua dignidade de
indivíduos. Este traço, aliás, caracteriza de
modo especial essa idade; para os jovens, o
principal problema é afirmarem-se
individualmente, independentes de quaisquer
outros fatores que não sejam a sua própria
capacidade e esforço pessoal.
Essa afirmação, esse vencer na vida, quando
se realiza, beneficia profundamente toda a
humanidade. Nós todos, de certo modo, não nos
pertencemos inteiramente. Qualquer ato nosso,
por insignificante que pareça, recai sempre em
mais alguém. O mal, mesmo praticado por uns
poucos, alastra-se e atinge a todos. A prova
disso foi o problema cruciante do pós-guerra,
que viu surgir, das ruínas de cidades destruídas
por ataques inimigos, crianças traumatizadas
pela dor, sem pais, o horror estampado nas faces
marcadas pela fome. Verdadeiras vítimas da
guerra, elas cresceram e formaram então o que
foi denominado de “geração de após-guerra”:
revoltada, fazendo apenas o que desejava,
indiferente a tudo o mais. O resultado foi que a
Humanidade sofreu outra grande crise. Ficou
fraca porque fraca estava também a juventude. Os
jovens, como não acreditavam num amanhã,
esbanjavam o seu presente, davam vazão a todos
os seus impulsos e não se preocupavam em formar
sua consciência para orientá-los em seus atos e
lhes dar a noção de suas responsabilidades. O
motivo de toda essa confusão de sentimentos,
desse desencanto em relação à grandeza da vida,
era uma tentativa consciente para esquecer o
drama do que pensavam ser a falta de um amanhã.
Enquanto a juventude não voltou a si desse
choque, enquanto não compreendeu que cabia a ela
edificar o seu futuro, recobrando a energia e a
vontade de trabalhar, visando a um melhoramento
contínuo, o mundo permaneceu “doente”, sofrendo
as consequências por não ter uma mocidade sadia.
Associações de moços formaram-se, então, em
todos os países, e foram auxiliadas
materialmente pelos governos que contribuíram,
assim, para dar um verdadeiro sentido à ideia de
Humanidade.
O impulso de espíritos jovens é que reergueu
as nações arrasadas pela guerra,
industrializando-as, valorizando suas moedas.
Sabendo de tudo isso, jovem que estuda, continue
a cumprir com seus deveres. Você que trabalha,
sinta orgulho do papel que desempenha e jamais
se negue, por falta de persistência, de força de
vontade, a ocupar o lugar que lhe pertence. Ó
jovens, nunca deixem de apregoar, com o seu
exemplo, sua importância na sociedade. Pelo
mundo afora, se compenetrem de que são,
realmente, os artífices do amanhã.
THERESA CATHARINA DE GÓES CAMPOS
(Aos 15 anos, aluna do 1º Ano Clássico do
Colégio de São José, das Religiosas Doroteias)
Publicado no jornal "O FAROL".
Recife - PE, 1960.
1º prêmio feminino no Concurso de Oratória do I
Festival de Estudantes Secundários de Recife. |
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