Theresa Catharina de Góes Campos

 
VISÃO COMUM DA REALIDADE

Acompanhamos o dia a dia de nosso país, nesta crise de proporções imensas e características assustadoras. Todos nós partimos de uma opinião comum: as dificuldades financeiras aí estão, no cenário internacional e em nossa pátria, reclamando soluções urgentes. Embora o problema seja de âmbito mundial, sabemos que os países do Terceiro Mundo são os mais atingidos, pois se encontram sem condições de crescer, quando mais precisam investir em seu desenvolvimento para sair do círculo vicioso da pobreza. Portanto, as nações que dependem de outras economias – mais fortes - sofrem mais porque a baixa renda per capita atinge duramente as classes média e baixa.

Através de noticiários, continuamos a observar as consequências terríveis desta recessão, que leva o desemprego, a fome e o desespero a tanto lares. Em todas as regiões brasileiras, o nosso povo sofre e se preocupa com o amanhã. Cansados, pais e mães de família esforçam-se cada vez mais e obtêm um resultado cada vez menor. E todos se voltam para os seus líderes. O que fazer? Antes de tudo, precisamos valorizar o que temos, assim como assumir a responsabilidade pelas tarefas que só de nós dependem. É preciso agir em conformidade com a união de propósitos. Esta visão comum da realidade destaca o fato de que não vivemos situações isoladas.

Esta crise nos iguala a todos de modo visível, apesar das desigualdades sócio-econômicas. Não estamos minimizando as injustiças, nem fechando nossos ouvidos ao clamor dos menos favorecidos ou em condições miseráveis. Queremos, isto sim, que nos coloquemos de mãos e mentes unidas, numa posição de ação solidária para tratar das soluções mais adequadas ao caso brasileiro. Fujamos do pessimismo que pode nos fazer desistir da luta; evitemos os que propõem medidas de resultados “mágicos” – rápidos e miraculosos; tenhamos a coragem de admitir que o momento histórico não pode ser considerado de maneira individualista ou em nível exclusivo de uma nacionalidade. O mundo está diante de um inimigo comum, que apenas será derrotado por atitudes em conjunto, assumidas em todos os países, industrializados ou não, por seus dirigentes e suas populações. As estatísticas desanimadoras não podem nos desviar de nossa trajetória democrática ou diminuir a importância das negociações empreendidas internamente e no exterior para que o Brasil supere todos os obstáculos, paciente e corajosamente, não obstante os falsos profetas e os lobos em pele de cordeiro.

A confiança é essencial, devendo funcionar como a base psicológica necessária ao longo e árduo processo de recuperação de nosso país - e de outras nações também -, atingidas por males econômicos e políticos, similares ou idênticos aos nossos. Vivemos um período decisivo, daí a exigência de calma, para que a vitória não fuja, por falta de coragem ou devido a precipitações e atos contrários aos nossos interesses.

Saibamos ouvir, estabelecendo o diálogo profícuo de sugestões e ideais. Procuremos informações corretas, que apresentem os fatos em sua integridade, inclusive contábil.

No ambiente político, impõe-se ainda o respeito às opiniões diversas das nossas. Combatendo as pressões inaceitáveis num sistema democrático, cultivemos a liberdade de expressão – desta surgirão, certamente, as soluções dignas do povo brasileiro.

Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília - DF, 28 de janeiro de 1984
 
 

Jornalismo com ética e solidariedade.