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VISÃO COMUM DA REALIDADE
Acompanhamos o dia a dia de nosso país, nesta
crise de proporções imensas e características
assustadoras. Todos nós partimos de uma opinião
comum: as dificuldades financeiras aí estão, no
cenário internacional e em nossa pátria,
reclamando soluções urgentes. Embora o problema
seja de âmbito mundial, sabemos que os países do
Terceiro Mundo são os mais atingidos, pois se
encontram sem condições de crescer, quando mais
precisam investir em seu desenvolvimento para
sair do círculo vicioso da pobreza. Portanto, as
nações que dependem de outras economias – mais
fortes - sofrem mais porque a baixa renda per
capita atinge duramente as classes média e
baixa.
Através de noticiários, continuamos a observar
as consequências terríveis desta recessão, que
leva o desemprego, a fome e o desespero a tanto
lares. Em todas as regiões brasileiras, o nosso
povo sofre e se preocupa com o amanhã. Cansados,
pais e mães de família esforçam-se cada vez mais
e obtêm um resultado cada vez menor. E todos se
voltam para os seus líderes. O que fazer? Antes
de tudo, precisamos valorizar o que temos, assim
como assumir a responsabilidade pelas tarefas
que só de nós dependem. É preciso agir em
conformidade com a união de propósitos. Esta
visão comum da realidade destaca o fato de que
não vivemos situações isoladas.
Esta crise nos iguala a todos de modo visível,
apesar das desigualdades sócio-econômicas. Não
estamos minimizando as injustiças, nem fechando
nossos ouvidos ao clamor dos menos favorecidos
ou em condições miseráveis. Queremos, isto sim,
que nos coloquemos de mãos e mentes unidas, numa
posição de ação solidária para tratar das
soluções mais adequadas ao caso brasileiro.
Fujamos do pessimismo que pode nos fazer
desistir da luta; evitemos os que propõem
medidas de resultados “mágicos” – rápidos e
miraculosos; tenhamos a coragem de admitir que o
momento histórico não pode ser considerado de
maneira individualista ou em nível exclusivo de
uma nacionalidade. O mundo está diante de um
inimigo comum, que apenas será derrotado por
atitudes em conjunto, assumidas em todos os
países, industrializados ou não, por seus
dirigentes e suas populações. As estatísticas
desanimadoras não podem nos desviar de nossa
trajetória democrática ou diminuir a importância
das negociações empreendidas internamente e no
exterior para que o Brasil supere todos os
obstáculos, paciente e corajosamente, não
obstante os falsos profetas e os lobos em pele
de cordeiro.
A confiança é essencial, devendo funcionar como
a base psicológica necessária ao longo e árduo
processo de recuperação de nosso país - e de
outras nações também -, atingidas por males
econômicos e políticos, similares ou idênticos
aos nossos. Vivemos um período decisivo, daí a
exigência de calma, para que a vitória não fuja,
por falta de coragem ou devido a precipitações e
atos contrários aos nossos interesses.
Saibamos ouvir, estabelecendo o diálogo profícuo
de sugestões e ideais. Procuremos informações
corretas, que apresentem os fatos em sua
integridade, inclusive contábil.
No ambiente político, impõe-se ainda o respeito
às opiniões diversas das nossas. Combatendo as
pressões inaceitáveis num sistema democrático,
cultivemos a liberdade de expressão – desta
surgirão, certamente, as soluções dignas do povo
brasileiro.
Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília - DF, 28 de janeiro de 1984
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