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O CONTINENTE AFRICANO E O BRASIL
O continente africano e o Brasil não têm apenas
analogias físicas e cartográficas. Ambos
começaram a ser revelados aos europeus graças
aos descobrimentos marítimos. Suas
características etnográficas apresentam
semelhanças facilmente reconhecíveis, o que nos
leva a reflexões.
Na formação biológica do povo brasileiro, o
negro uniu-se aos elementos branco e indígena,
contribuindo não somente em termos raciais mas
também culturalmente, através de sua música, de
seu vocabulário, de sua culinária, etc.
Arrastado às nossas terras como escravo, deu a
sua contribuição econômica e social de maneira
indelével. Sua vocação humana para a liberdade
jamais foi abafada por completo pelos grilhões
de seus feitores. O poeta Castro Alves, por meio
de atitudes e versos, assumiu o papel de
defensor dos escravos, denunciando o desrespeito
a seus direitos. Todavia, não podemos esquecer
que os africanos trazidos ao Brasil
continuamente se expressavam nos seus cânticos e
na coreografia de suas danças. A capoeira, por
exemplo, traduzia o estado de luta constante em
que viviam; a coreografia dos movimentos, o
conjunto de passos, compõem a dramatização de
seus anseios de independência. Aliás, desde os
primórdios do teatro brasileiro, quando a figura
do ator era desprezada socialmente, os índios e
os negros compunham o elenco das representações
públicas.
A formação de quilombos, como o de Palmares,
demostra que os africanos não esqueciam a terra
natal e seus costumes. Os documentos históricos
também comprovam a participação ativa de
escravos: na luta contra os invasores
holandeses; em movimentos como a Inconfidência
Mineira; e nas manifestações pela independência
do país.
Assim, não podemos nos fixar nas diferenças em
termos de desenvolvimento, pois o Brasil e o
continente africano devem unir seus imensos
recursos – humanos e econômicos – e promover uma
frente solidária de combate à fome, às doenças e
à ignorância. Precisamos estabelecer uma união
de metas e conjugar nossos esforços. Tudo
preconiza uma vitória certa para nós, povos
diversos mas com tantos pontos em comum. Assim
como nos destacamos na visão biológica das
raças, apresentando ao mundo o modelo brasileiro
como um exemplo racional, anti-racista,
alcançaremos juntos o progresso socioeconômico.
No cenário internacional, nosso potencial é
reconhecido. Por uma colaboração recíproca,
demonstraremos, Brasil e África, a criatividade
de nossas ideias e nossa capacidade de trabalho.
Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília - DF, 28 de janeiro de 1984 |
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