Theresa Catharina de Góes Campos

 
O CONTINENTE AFRICANO E O BRASIL

O continente africano e o Brasil não têm apenas analogias físicas e cartográficas. Ambos começaram a ser revelados aos europeus graças aos descobrimentos marítimos. Suas características etnográficas apresentam semelhanças facilmente reconhecíveis, o que nos leva a reflexões.

Na formação biológica do povo brasileiro, o negro uniu-se aos elementos branco e indígena, contribuindo não somente em termos raciais mas também culturalmente, através de sua música, de seu vocabulário, de sua culinária, etc. Arrastado às nossas terras como escravo, deu a sua contribuição econômica e social de maneira indelével. Sua vocação humana para a liberdade jamais foi abafada por completo pelos grilhões de seus feitores. O poeta Castro Alves, por meio de atitudes e versos, assumiu o papel de defensor dos escravos, denunciando o desrespeito a seus direitos. Todavia, não podemos esquecer que os africanos trazidos ao Brasil continuamente se expressavam nos seus cânticos e na coreografia de suas danças. A capoeira, por exemplo, traduzia o estado de luta constante em que viviam; a coreografia dos movimentos, o conjunto de passos, compõem a dramatização de seus anseios de independência. Aliás, desde os primórdios do teatro brasileiro, quando a figura do ator era desprezada socialmente, os índios e os negros compunham o elenco das representações públicas.

A formação de quilombos, como o de Palmares, demostra que os africanos não esqueciam a terra natal e seus costumes. Os documentos históricos também comprovam a participação ativa de escravos: na luta contra os invasores holandeses; em movimentos como a Inconfidência Mineira; e nas manifestações pela independência do país.

Assim, não podemos nos fixar nas diferenças em termos de desenvolvimento, pois o Brasil e o continente africano devem unir seus imensos recursos – humanos e econômicos – e promover uma frente solidária de combate à fome, às doenças e à ignorância. Precisamos estabelecer uma união de metas e conjugar nossos esforços. Tudo preconiza uma vitória certa para nós, povos diversos mas com tantos pontos em comum. Assim como nos destacamos na visão biológica das raças, apresentando ao mundo o modelo brasileiro como um exemplo racional, anti-racista, alcançaremos juntos o progresso socioeconômico. No cenário internacional, nosso potencial é reconhecido. Por uma colaboração recíproca, demonstraremos, Brasil e África, a criatividade de nossas ideias e nossa capacidade de trabalho.

Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília - DF, 28 de janeiro de 1984
 

Jornalismo com ética e solidariedade.