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ARIANO SUASSUNA – POUCAS E BOAS
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Recentemente o escritor, dramaturgo e
folclorista Ariano Suassuna adentrou a Pedra do
Reino celestial (1927-2014). Junto-me aos que
guardam alguma lembrança engraçada, terna,
eloquente de seus ditos e suas aulas - as do
curso de Estética, fortemente recordadas pela
ex-aluna Virgínia Tauk, hoje pedagoga na França.
E as famosas aulas-espetáculo que encantaram
plateias de sul a norte. Eis as poucas e boas
que não consegui esquecer do relicário e
anedotário suassuniano:
Um jornalista perguntou a Ariano porque se
declarava monarquista. Resposta: “porque a
probabilidade de ter um rei imbecil ou um
presidente imbecil é a mesma”. Em outra ocasião
afirmou que o povo achava bonito a monarquia –
gasta fortunas para vestir-se de rei e rainha no
Carnaval. Nenhuma análise geopolítica, mas sim a
estética popular que lhe tocava o coração.
Relembrou como as empregadas domésticas de sua
casa ficaram decepcionadas com a Rainha
Elizabeth II da Grã-Bretanha, quando esta
visitou o Recife usando trajes “normais”. E o
desconsolo de um grupo de sertanejos que foi
pedir ao rei Balduíno, da Bélgica, para visitar
Juazeiro do Padre Cícero “vestido de rei, não de
gente”. O monarca se negou.
Sem o saber, Ariano deu-me força numa posição
que eu tomaria em minha carreira universitária:
não aceitar cargos administrativos. Ele fora
sondado e encorajado a candidatar-se a reitor da
UFPe. Recusou com o seguinte argumento: “É
burrice. Vocês perderiam um bom professor e
ganhariam um mau reitor”.
Passível de ser acusado de xenofobia, fã abusado
da Língua Portuguesa e da cultura popular
brasileira, Ariano, contudo, manteve longos anos
de amizade, carinho e respeito mútuos com a
brasilianista Candace Slater, da Universidade da
California, Berkeley, que escreveu tese de
doutorado sobre a obra dele e a estudou através
dos anos. Talvez o que mais encantou Ariano, foi
o alto nível de fluência em português da dra.
Candace (que até se apresentava sertão a fora
como “Cândida”) e seu profundo conhecimento da
Literatura de cordel e outras narrativas
folclóricas brasileiras.
Concluo com este “causo” que ouvi do próprio
Ariano: ele estava na fila preferencial de um
Banco e lá se deparou com um guapo rapaz de cara
lisa, aproveitando o benefício. Foi até ele e
disse para todo mundo ouvir: “Meu jovem, está se
vendo que você não é nem deficiente, nem idoso.
Então só pode estar grávido. Eu lhe desejo uma
boa hora”. Até hoje as paredes do banco ecoam as
risadas de todos os presentes, que ouviram, alto
e bom som, a oportuna descascadela.
(Diário de Pernambuco, 25/8/2014)
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