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QUAL PORTUGUÊS?
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Charge de Samuca neste jornal (21/8/2014)
reproduz diálogo entre amigos: “Comissão do
Senado estuda deixar a escrita mais próxima da
fala. Você assina embaixo?” O interlocutor
assina com a impressão digital - indício de ser
analfabeto. Quando aprendi a ler e escrever,
havia o “português correto” e o falado/escrito
por quem não tivera a ventura de uma boa
escolaridade. Erros de concordância e ortografia
eram corrigidos para o bem do aluno. Minha avó o
fazia com destreza e desvelo, jamais desdenhando
de quem fora educado em outros territórios de
gramática e pronúncia, mas sempre empenhada em
elevar o nível de competência linguística de
crianças e adultos.
Apesar do ENEN e seus preceitos, o desleixo
prevalece no uso da língua como instrumento de
precisão e/ou estética. “Este/Esta” morreram. O
r do infinitivo foi para as cucuias. Dispensa-se
os plurais. O “pode vim” veio para ficar. Um
entrevistador de Youtube, em português, conduz
assim as perguntas: “Tu já morou em quantos
estados? Qual a cidade que tu queria morá se
você pudesse iscolhê?”. Recentemente, envolvi-me
em diálogos com cuidadoras de idosos entre 35 e
55 anos. Uma delas perguntou “A sinhora vai
querê falá cas minina agora?” Outra
consultou-me: “Avô se escreve com o chapeuzinho
ou com o tracinho?” Minha avó, certamente,
tentaria melhorar a fala daquelas “minina”.
Sei que a Língua é um naipe de possibilidades,
mas sei também do que aprendi como sendo certo e
errado. Regras para honrar a clareza, coerência,
concisão, elegância. Mesmo na linguagem falada,
mais solta e rica de desvios. Agora, já não sei
que Português usar. Meus gurus de Linguística
Dad Squarisi, Francisco Gomes de Matos, Nelly
Carvalho: me acudam que tô toda atrapaiada!
(Diário de Pernambuco, 8 de setembro 2014).
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