Theresa Catharina de Góes Campos

 
E SEM DEMOCRACIA?

Tereza Halliday –Artesã de textos


Nós, eleitores, contratamos os eleitos por quatro anos renováveis, a fim de melhorarem o município, o estado e o país, com labor e decência. Não raro, falhamos. Mas, financiamos os mandatos deles para sustentar a democracia, porque sem esta, mesmo capenga, o país seria ainda mais desgraçado. Sem ela, não se pode discordar nem fazer humor com os governantes, sem ser acusado de antipatriótico ou subversivo. Sem democracia, os mandões – de esquerda, direita ou diagonal - podem fazer o mal escondido (ou acobertá-lo) e punir por qualquer coisa, sem leis ou criando leis que assim o permitam. Albert Camus observou: “Num país democrático, a mídia pode ser boa ou má. Num país não democrático, ela só pode ser má”.

Quem conheceu censor capitão em redação de jornal para dizer o que podia ser publicado e o que não podia, quem viu colega ser denunciado por ter disco de músicas europeias cantadas pelo coral do Exército Russo, o que indicava, por tabela, “ideias comunistas”; quem aprendeu a engolir piadas sobre governantes porque contá-las seria indício de criminalidade, sabe que o estado democrático, mesmo imperfeitíssimo, ainda é melhor do que o “aqui mando eu e não se atreva a discordar” - quer o mandante use gravata, macacão, túnica ou farda.

Então, aguentemos os rituais de campanha – promessas, beijinhos em bebês, abraços em velhinhas, críticas justas ou injustas aos oponentes, apertos de mão pra todo lado, fotoshop embelezando o aspirante ao bem-bom de ocupar cargo público eleito. Tentemos digerir a indigesta sopa de letrinhas das siglas de numerosíssimos partidos que não se diferenciam, mas querem nos convencer de que oferecem o novo, ou mais do melhor antigo. Prestigiemos a democracia que é “o pior regime com a exceção de todos os outros”, segundo Winston Churchill. Qualquer coisa fora dela é pior do que ela defeituosa e tortuosa.

(Diário de Pernambuco, 22/09/2014)
 
 

Jornalismo com ética e solidariedade.