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E SEM DEMOCRACIA?
Tereza Halliday –Artesã de textos
Nós, eleitores, contratamos os eleitos por
quatro anos renováveis, a fim de melhorarem o
município, o estado e o país, com labor e
decência. Não raro, falhamos. Mas, financiamos
os mandatos deles para sustentar a democracia,
porque sem esta, mesmo capenga, o país seria
ainda mais desgraçado. Sem ela, não se pode
discordar nem fazer humor com os governantes,
sem ser acusado de antipatriótico ou subversivo.
Sem democracia, os mandões – de esquerda,
direita ou diagonal - podem fazer o mal
escondido (ou acobertá-lo) e punir por qualquer
coisa, sem leis ou criando leis que assim o
permitam. Albert Camus observou: “Num país
democrático, a mídia pode ser boa ou má. Num
país não democrático, ela só pode ser má”.
Quem conheceu censor capitão em redação de
jornal para dizer o que podia ser publicado e o
que não podia, quem viu colega ser denunciado
por ter disco de músicas europeias cantadas pelo
coral do Exército Russo, o que indicava, por
tabela, “ideias comunistas”; quem aprendeu a
engolir piadas sobre governantes porque
contá-las seria indício de criminalidade, sabe
que o estado democrático, mesmo imperfeitíssimo,
ainda é melhor do que o “aqui mando eu e não se
atreva a discordar” - quer o mandante use
gravata, macacão, túnica ou farda.
Então, aguentemos os rituais de campanha –
promessas, beijinhos em bebês, abraços em
velhinhas, críticas justas ou injustas aos
oponentes, apertos de mão pra todo lado,
fotoshop embelezando o aspirante ao bem-bom de
ocupar cargo público eleito. Tentemos digerir a
indigesta sopa de letrinhas das siglas de
numerosíssimos partidos que não se diferenciam,
mas querem nos convencer de que oferecem o novo,
ou mais do melhor antigo. Prestigiemos a
democracia que é “o pior regime com a exceção de
todos os outros”, segundo Winston Churchill.
Qualquer coisa fora dela é pior do que ela
defeituosa e tortuosa.
(Diário de Pernambuco, 22/09/2014)
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