Theresa Catharina de Góes Campos

 
PREFÁCIO

Esta obra documenta, por meio de palavras – versos e prosa – os primeiros tempos de minha vida, iniciando, na infância e na adolescência, uma biografia assinalada, de forma indelével, por um ambiente familiar de exemplos admiráveis: mãe e pai que se amavam profundamente; pais amorosos e dedicados aos três filhos, educadores exigentes, disciplinados e disciplinadores, organizados, transmitindo a prática dos seus valores: a fé em Deus, o trabalho honesto, o patriotismo, a importância dos estudos e da leitura escolhida conforme os princípios cristãos.

Assim, com facilidade me apaixonei por livros cativantes: as obras infanto-juvenis de Monteiro Lobato; e de Antoine de Saint-Exupéry (com trechos sublinhados por meu pai, também aviador); narrativas sobre as viagens de Marco Polo (o primeiro presente de que me lembro...); relatos arqueológicos; as aventuras oceanográficas de Jacques-Yves Cousteau; muitos volumes de fábulas e contos infantis (reis, princesas, fadas, duendes e bruxas); o Novo Testamento e histórias bíblicas selecionadas .

As comédias e tragédias de William Shakespeare viriam depois, na adolescência, juntamente com a poesia de Gonçalves Dias, Olavo Bilac e os romances de Joaquim Manoel de Macedo e José de Alencar.

Aos 8 anos, sem qualquer influência de meus pais, tive a certeza de minha vocação: ser jornalista. Comecei a fazer um jornalzinho manuscrito – “O Farol” – com menos de dez páginas cada número que saía (edições artesanais, sem cópias). O conteúdo incluía as entrevistas com vizinhos, empregadas, colegas e amigas). Já me identificando sem jeito para desenhar, recorria às ilustrações coloridas, recortadas de revistas e coladas, em seguida, conforme o espaço permitia, nesse meu “periódico”.

Para explicar a escolha do nome "O Farol", aqui transcrevo uma crônica e um poema, ambos de minha autoria e publicados anteriormente:

 Atendendo a meu pedido, a comemoração familiar de meus 15 anos (13 de janeiro de 1960) foi um piquenique com a minha mãe e meus irmãos, Fernando José e Victoria Elizabeth, nas proximidades do Farol de Santo Agostinho, localizado na praia do Cabo de Santo Agostinho (Cidade do Cabo, próxima ao Recife, em Pernambuco).
Meu pai não pôde ir conosco porque estava trabalhando, mas providenciou o veículo e o motorista para o nosso passeio.
O destaque, nessa programação para celebrar meu aniversário natalício, foi a visita que fizemos ao Farol, especialmente solicitada por mim, pois eu dizia, na época, que seria ótimo viver num farol.
À noite, em casa, na Praia de Piedade (Jaboatão - PE), meus pais, meus irmãos e eu festejamos na forma tradicional: bolo e parabéns, recordando os momentos tão agradáveis no Cabo de Santo Agostinho, o que vimos no interior do farol, o que conversamos com o faroleiro.
Para falar com mais sinceridade, o fato é que, na época, eu afirmava querer morar num farol, quando me tornasse adulta. Seria essa a minha vocação paralela, num local que me parecia ideal (tranqüilo e solitário), o que não me impediria de exercer, concomitantemente, a vocação de jornalista, escritora e poeta. (Bem, era o que eu dizia, compenetrada...)
Devo registrar que meus pais, sabiamente, riam um pouco e comentavam sobre as dificuldades, sobretudo a solidão, no trabalho e na vida em um farol. Mas não se posicionavam contrários à minha decisão...
Meses depois, cursando o clássico, no Colégio de São José (Recife - PE), fundamos e passamos a editar, no formato tablóide, um jornal estudantil, impresso em branco e verde, com fotografias e bastante informativo. Chamava-se "O Farol", nome escolhido por mim e aprovado com a minha argumentação sobre periódicos homônimos, históricos, no Brasil e em outros países, o simbolismo da palavra, etc.
Durante os três anos de nosso curso clássico, "O Farol" esteve sob a responsabilidade das quatro fundadoras e editoras: Tereza Halliday, Tereza Dubeux , Isabel Brayner e eu.
Depois, nos tornamos universitárias e deixamos o nosso jornal "O Farol".
Na comemoração dos quarenta anos de nossa formatura do clássico (1962-2002), houve a publicação de um número especial de "O Farol", com a reimpressão de artigos selecionados.
Ainda guardo alguns números desse meu jornal tão querido, editado e redigido com o entusiasmo pioneiro de suas quatro editoras e inúmeras colaboradoras. Impossível não me emocionar, ao reler suas páginas, embora tivesse havido, antes, outros jornais em minha vida.
Como o meu "tablóide" da infância, que eu fazia manuscrito, desde os oito anos, sozinha, e também se chamava "O Farol"; e outros, na adolescência, em trabalho de equipe, como o informativo impresso do CESP - Centro dos Estudantes Secundários de Pernambuco, entidade cuja diretoria eu integrei, como secundarista e participante do movimento estudantil democrático.
Representando o CESP, ao lado de ótimos colegas e amigos, fiz muitas viagens inesquecíveis, para reuniões e congressos, servindo e aprendendo com populações carentes, o que me deu a oportunidade de conhecer melhor Pernambuco e o Brasil.

Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo, 31 de janeiro de 2009.


MIRAGEM DO REFÚGIO INACESSÍVEL

Se os jovens fossem jovens
aceitariam o sacrifício heroico
como parte e condição do amor.

Se os homens soubessem transmitir
todas as palavras que aprisionam
dentro de si, covardemente,
as canções e as mensagens que apagaram
fluiriam sem cessar, noite e dia.
E os sonhos seriam realizações;
as sementes protegeriam o trigo latente,
e, mesmo invisíveis, as sementes
seriam pão e flor, árvore e frutos.

Porque algo tão simples
parece um sonho distante,
sinto medo do mundo.
Quero buscar um farol...
para ali viver protegida, mas
capaz de proteger outras vidas.
Porém a raiva do mar, os recifes
e as ondas de som furioso,
estão em meu caminho,
não me permitem passar.
Isso é realidade ou, quem sabe,
uma visão juvenil, imatura,
criada pelo medo que eu sinto?

Theresa Catharina de Góes Campos
Caux-sur-Montreux - Suíça, agosto de 1960.


Embora encontremos temas tristes, melancólicos, em alguns poemas e textos por mim escritos, são verdadeiras as fotografias da minha infância e adolescência. Observem a presença do sorriso. Uma realidade que não me permito esquecer. Nada justificaria tal esquecimento. Louvado seja Deus, por Sua bondade infinita!

Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília - DF, 13 de outubro de 2014


De: Suzana Katzenstein
Data: 7 de outubro de 2014

Que bom ter essas recordações de fatos tão significativos e bonitos do passado!
Suzana
 

 

Jornalismo com ética e solidariedade.