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TRAUMA DE DISCURSO
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Quando recebo convite para ritual de posse em
alguma academia que não seja de ginástica, envio
presente e/ou cartão como assertiva de meu
apreço, mas não compareço à solenidade. Minha
ausência sistemática tem origem num trauma de
discurso sofrido há muito anos e para o qual não
procurei cura.
A nova acadêmica era Estephânia Nogueira, poeta
ensaísta, minha ex-professora de inglês, que me
introduziu a belos poemas de Elizabeth Barrett
Browning, Archibald Mc.Leish, Emily Dickinson,
Robert Frost... Por afeto e gratidão, lá fui eu
assistir a sua posse na Academia Pernambucana de
Letras. Estava ansiosa por ouvi-la. O presidente
da mesa alongou-se e dilatou seu discurso
desmesuradamente, somente para abrir a sessão. O
designado para saudar o novo membro da Casa
castigou-nos com outra exposição oral
quilométrica. Quando chegou a vez do discurso
cerimonial da empossada – a estrela da
celebração daquela noite – nós, da plateia,
estávamos exaustos. A mais importante oradora da
noite foi botada para trás pela incontinência
verbal de bem intencionados saudadores, talvez
carentes de uma audiência cativa.
Pesquisas antigas atestam que só conseguimos
prestar atenção plena a uma fala por, no máximo,
20 minutos. Palestras atuais de alto nível,
procuradíssimas na Internet, em programa chamado
TED, duram 18 minutos e dizem o que importa. No
inditoso caso que me deixou traumatizada, foi um
despautério roubarem o tempo de gala da nova
acadêmica e massacrarem a plateia com excesso de
falação. Soube que foi bem diferente, muitos
anos depois, na posse de Luzilá Gonçalves, com
gerenciamento perfeito dos discursos,
significativos e de bom tamanho. E que perdi uma
bela festa. Será que a fala enxuta em rituais de
posse de acadêmicos passou a prevalecer? Ainda
tenho medo de ir lá conferir.
(Diário de Pernambuco, 3/11/2014)
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