Theresa Catharina de Góes Campos

 


NÃO CULPEM AS TELINHAS

Tereza Halliday – Artesã de Textos


Os críticos de smartphones, tablets, ipads, ipods e ipuds têm o direito de lamentar a utilização destes instrumentos como a coisa mais importante na vida de muitas pessoas. Lastimam a falta de contato face-a-face entre crianças, num pátio de recreio, todas de olho em suas respectivas telinhas; e o isolamento entre namorados numa mesa de restaurante ou passeando no parque, esquecidos de usar os dedos para fazer carinho um no outro em vez de alisar suas respectivas telinhas. Deploram, com razão, o sedentarismo de crianças e adolescentes ligados permanentemente nas redes sociais e nos jogos eletrônicos, tendo como único exercício mover o dedo sobre o visor do seu meio de comunicação favorito. Não se afobem, senhores críticos. Pais e outros educadores encontrarão soluções para os efeitos colaterais do primado das tecnologias avançadas de comunicação instantânea, quando usadas sem critério.

Admiro os que conseguem fazer caber nas 24 horas de um dia, conexões com Facebook, Whatsapp, Instagram, blogs, e-mail e ainda trabalhar, cuidar da saúde e da casa, comer, descansar, viver. Não é por ser quase analfabeta no manuseio das telinhas, que vou detratar o smartphone, mais “smart” do que eu. Lembrando que este termo inglês significa tanto “inteligente”, como “esperto”. E bote esperteza nisto! Deplorar o uso constante das telinhas é preconceito dos mais velhos. Usá-las sem parar é babaquice dos mais novos.

Os bem mais velhos, que conheceram tempos sem máquina de lavar roupa e até mesmo sem refrigerador em casa, sempre me disseram: “Hoje é melhor”. O conhecimento de nova técnica (é simplesmente este o significado da palavra “tecnologia”), sempre chega desarrumando o jeito de viver, para depois instituir outro jeito irrevogável, que se torna hábito, saudável ou não. As telinhas que nos abrem mundos e o mundo não são culpadas da falta de noção e frivolidade de certos usuários ininterruptos e desorientados, que ainda não encontraram o link “bom senso”.

Diário de Pernambuco 01/12/2014)
 

 

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