D E V A N E I O
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Não fui criada para ser princesa. Minha mãe
proibia que meus irmãos e eu pedíssemos à
empregada para trazer um copo d'água. “Vocês não
são aleijados”, era a justificativa. Na vida de
casada, jamais fui dondoca. Tinha uma faxineira
semanal apenas. Claro que contei com a magnífica
instituição - o “Avosário” – porto seguro onde
deixar meu filho pequeno em várias ocasiões. Nos
anos vividos nos Estados Unidos, meu marido e eu
dávamos conta de todas as tarefas domésticas.
Bolsista não pode pagar diarista em dólar.
No quotidiano do Recife, voltou-me um devaneio,
que eu chamo “fantasia de rainha”: imaginar-me
com as mordomias das rainhas da Grã-Bretanha,
Dinamarca, Suécia, com gente que faz para elas
todas as tarefas que os trique-triques da vida
roubam do nosso tempo de viver: marcar consultas
médicas, levar coisas para consertar, fazer
pagamentos, estar atento a datas e prazos para
matricular, renovar, fazer manutenção; tratar
com prestadores de serviços que não têm horário
e nem sempre fazem o serviço direito; ficar
pendurada em linha telefônica para resolver (ou
não), coisas com centrais de atendimento;
preparar lista de supermercado, fazer
supermercado, supervisionar a casa corrigindo as
avoações das diaristas. Se morarmos sozinhos, é
trabalhoso, se tivermos filhos pequenos, temos
de administrar a vida deles também.
É muita coisa para providenciar e fazer.
Tarefinhas que indicam autonomia mental e física
e as bênçãos de uma rotina “normal” – sem ser
aleijada, para recordar o argumento de Mamãe.
Mas, que bom seria ter secretário e assessor de
qualidade para tanta coisa a providenciar. E
dedicar todo o tempo a coisas do meu interesse e
competência. Só em sonho! E na vida das
rainhas... Acorda, Tereza!
(Diário de Pernambuco,26/1/2015
De: Elizabete Fernanda de Campos Barros
Date: sex., 28 de fev. de 2020
Lindo, adorei.
Tereza Halliday escrevia textos muito
interessantes.
Sobrinha Elizabeth |