Matéria publicada no Jornal mensal “O
VICENTINO”, de Batatais-SP, em
agosto de 1999, nº 124, ano XIII,
páginas 6-8. Matéria republicada no
Jornal “O VICENTINO”, em junho de
2000, nº 132, ano XIV, página 6. Matéria
republicada no Jornal “O VICENTINO”,
em agosto de 2010, nº 132, ano XXIV,
páginas 6-7. Agora virou livro devido às
ínúmeras solicitações.
“Passei a
noite quase toda atendendo confissão. O
senhor sabe que sou doente, agora de
manhã, fui visitar os enfermos, levar a
comunhão, já quase meio dia, não tomei
nada, cansado! Será que o Concílio que
está de portas abertas para a renovação
da Igreja: será que o Papa, os Bispos,
Cardeais, não dariam a permissão para um
leigo distribuir a comunhão? Me ajudar
aqui?”
Pergunta
o então Pároco de Bambuí-MG, o
Missionário Vicentino Pe.
José Nunes Coelho, CM, no final de
1965, em carta dirigida ao seu Bispo, o
também vicentino D.
Belchior Joaquim da Silva Neto, CM,
na época o titular da Diocese de Luz-MG,
que se encontrava em Roma participando
do Concílio Vaticano II.
Nascia
naquele momento a ideia da instituição
do MINISTRO EXTRAORDINÁRIO DA
EUCARISTIA, hoje adotada nas Paróquias
do mundo todo e que tanto contribui para
o trabalho pastoral do Padre.
D.
Belchior apresenta a sugestão, foi um
espanto! Claro que as barreiras
surgiram, e ele ainda ouviu de vários
colegas:
“O senhor
está louco! O senhor vai expor o SS.
Sacramento à profanação”; “Para o pão
consagrado, só mãos consagradas, senhor
Bispo!”; - “Se o Papa permitir isso,
daqui a pouco até mulheres estarão
distribuindo a comunhão”; “Pelo amor de
Deus, não espalhe isso, não! É um
escândalo, onde já se viu isso! Colocar
a hóstia consagrada na mão de leigos! Na
minha Diocese isso não entra.”
Tudo isso
D. Belchior ouviu pacientemente e
finalmente em maio de 1966, veio a
autorização de Roma, primeiro a três
Irmãos, e em seguida a dez leigos. A
partir de 1970 o Papa autorizava para
todo o mundo.
Hoje
(1999), D. Belchior é Bispo Emérito de
Luz-MG, e um colaborador especial do
jornal “O Vicentino”, de
Batatais-SP. Em sua residência, ele
narra à nossa reportagem, e pela
primeira vez em nível nacional, todo o
desenrolar do processo.
Ministros da Eucaristia: uma iniciativa
Vicentina
Uma
decisão importantíssima da Igreja
Católica tomada no final da década de
1960, e que trouxe resultados marcantes
para o bom desenvolvimento do trabalho
paroquial, foi a instituição do Ministro
Extraordinário da Eucaristia. Como é
do conhecimento de todos, há uma
carência de Sacerdotes em todo o mundo,
principalmente num país-continente como
o nosso, de uma enorme população
católica e um número reduzido de Padres
para atendê-la. A Igreja, através do
saudoso Papa Paulo VI, concedeu em 1966,
inicialmente no Brasil e depois em 1970
no mundo inteiro, que fosse criado o Ministro
Extraordinário da Eucaristia,
autorizando-o a distribuir a Sagrada
Comunhão; fazer o Culto Dominical, na
ausência do Padre; expor o SS.
Sacramento; fazer a Encomendação dos
defuntos, entre outras.
O mundo
todo hoje reconhece o sucesso dessa
iniciativa que veio auxiliar e muito, o
Pároco, redimensionando o seu trabalho.
No entanto, poucos sabem que ela surgiu
de umbrasileiro, um vicentino na
verdadeira acepção do termo, que segundo
suas próprias palavras: “Sou um
vicentino que tem orgulho de ter nascido
na Conferência Vicentina.” D.
Belchior Joaquim da Silva Neto, CM -
Bispo Emérito de Luz/MG.
Através
do casal amigo: Cfr. Geraldo da Silva
Dias e Aparecida Célia Dias, de Sto.
Antônio do Monte/MG (ele, Presidente do
Conselho Central da SSVP e nosso
representante naquela cidade), chegou ao
conhecimento deste jornal “O
VICENTINO”, este fato. Com intuito
de bem informar nossos leitores, fomos
constatar com o próprio D. Belchior,
hoje nosso Colaborador Especial -, em
sua residência em Luz-MG. Ali
carinhosamente recepcionados por ele, o
querido irmão vicentino nos concedeu
esta entrevista:
O Vicentino:
D. Belchior, como surgiu a ideia da
criação do Ministro Extraordinário da
Eucaristia?
D. Belchior: Estávamos
em 1965, terminando o Concílio Ecumênico
Vaticano II em
Roma. Eu era
Bispo novo, tinha meus 42 anos, e desde
o começo frequentei todas as reuniões e
como Bispo novo a gente é sempre
acanhado, pensei, não vou entrar no meio
desses maiorais, para manifestar as
minhas ideias. Mas, acontece que na
última fase do Concílio, mês de setembro
ou outubro, já “preparando as malas para
vir embora para o Brasil, chega uma
carta do Pe. José Nunes Coelho, CM,
vigário de Bambui-MG, (foto abaixo) meu
colega de seminário. Dizia ele: “Senhor
Bispo, passei a noite quase toda
atendendo confissão. O senhor sabe que
sou doente, agora de manhã, fui visitar
os enfermos, levar a comunhão, já quase
meio-dia, não tomei nada, cansado! Será
que o Concílio que está de portas
abertas para a renovação da Igreja; será
que o Papa, os Bispos, Cardeais, não
dariam a permissão para um leigo
distribuir a comunhão? Me ajudar aqui?”
Uma carta
longa! Eu pensei, pensei... não vou
consultar a ninguém, porque aqui estamos
entre duas alas: os Bispos
conservadores, como D. Alexandre, D.
Castro Maia, e tantos outros e os Bispos
mais atualizados com a Igreja. Pensei,
não vou consultar que vai dar confusão.
Vou à Cúria Romana, vou mostrar a carta
e falar com eles. Abram esse caminho
para a Igreja! O Padre sozinho, se
matando numa paróquia! Fui à Cúria
Romana, Sagrada Congregação dos
Sacramentos; os quatro Monsenhores me
receberam, atenciosos, mas quando toquei
neste assunto, eles me disseram: “Senhor
Bispo, vai desculpar, o senhor está
entrando num assunto delicadíssimo,
expondo o Santíssimo Sacramento à
profanação! Entenda, para hóstias
consagradas, só mãos consagradas senhor
Bispo!” Eu disse: mas, essa carta aqui,
olhem, o Padre trabalhou tanto tempo!
Eles responderam: “É, mas se permitir
isso, o senhor vai expor o Santíssimo
Sacramento à profanação.” E um deles
ainda disse assim: “Se o Papa permitir
isso, daqui a pouco até mulheres estarão
distribuindo a comunhão!”
Imaginem
o que havia naquele tempo! Eu logo vi,
tenho que andar devagar. Disse-lhes:
senhores Monsenhores, vão me desculpar,
mas o Papa Pio XII em uma determinada
época, permitiu religiosos levar a
comunhão aos doentes. De modos que, quem
sabe... Eles retrucaram: “Isso é coisa
do Papa, coisa passada, mas hoje não se
permite isso.” Saí dali triste,
decepcionado. Mas, um daqueles
Monsenhores, me acompanhou até a
portaria, e disse-me: “Senhor Bispo, o
senhor tem facilidade em escrever em
latim?” Disse-lhe: sou professor de
latim no Seminário. “Escreva uma carta
em latim, conte tudo isso, as
dificuldades que os padres têm na sua
Diocese, são poucos, e se matam no
Apostolado da Eucaristia. E quem sabe, o
senhor vai diretamente ao Papa, mande
uma carta em latim ao Papa. O secretário
do Papa, Monsenhor Samoré (ele não era
Cardeal ainda), se compraz em dizer que
entende bem a língua portuguesa, mande
uma carta em português a ele, para ele
levar em mãos ao Papa.” Falei, está bom.
Agradeci muito a ele, fui ao Domus
Mariae, onde estávamos hospedados,
escrevi a carta em latim, outra em
português, e fui diretamente à
Secretaria de Estado. Cheguei lá, o
Monsenhor Samoré estava muito gripado,
não pode me atender. Mas o secretário
dele, quando lhe contei que levava uma
carta em latim e o motivo desta carta, e
que ele poderia levá-la ao Papa, ele me
disse: “O senhor escreveu em português?
Ele vai delirar! Porque ele se compraz
em dizer que entende bem o português”.
Entreguei lá e vim embora.
O Vicentino:
Em que data foi autorizado o primeiro
Ministro?
D. Belchior:
Quando foi o ano seguinte, em 1966,
recebi isso aqui - carta com a devida
autorização, com data de 7 de maio de
1966 (Veja pág. 8 - “no final desta
reportagem”). Primeiro eu pedi para três
religiosos, um irmão da Congregação de
São Gabriel, professor Necci que está
aqui ainda; para um outro irmão da
Congregação da Divina Providência, Ir.
Eugênio; e o terceiro para um irmão dos
Padres Sacramentinos, Frei Pio, Diretor
da Obra da Boa-Imprensa. Foi a primeira
resposta que recebi. Depois eu pedi a
licença para os leigos também. Veio a
licença para esses três Irmãos, e depois
veio uma carta da Secretaria de Estado:
“O Papa pede para fazer a experiência
com dez leigos: homens experimentados,
de piedade comprovada, e que mereçam
toda a confiança, que façam um curso,
uma preparação, e tenham uma veste
especial, para caracterizá-los, um
distintivo especial para mostrar que
eles estão encarregados de uma missão
muito importante.” É justamente o que
usam os Ministros hoje.
O Vicentino:
D. Belchior, esta sugestão já tinha sido
apresentada ao Chefe Supremo da Igreja
antes ou ela é pioneira em todo o mundo?
D. Belchior:
Não, nada consta. Foi uma novidade. Em
1965, o Concílio estava terminando, eles
disseram uma coisa que eu não disse
aqui: “Olha uma coisa dessas, senhor
Bispo, deveria ser tratado quando nós
preparamos a Constituição Apostólica
sobre o “Sacrosanctum Concilium”.
O senhor deixou passar, agora não há
mais tempo para tratar disso, já estamos
no fim do Concílio.”
O Vicentino:
E hoje, esta prática é adotada
universalmente?
D. Belchior:
Desde 1970, fiquei sabendo que o Papa
permitiu para o mundo todo. Agora quanto
às mulheres, os Padres mesmo foram
facilitando. Por quê a discriminação?
Mas lá na Sagrada Congregação eles
falaram comigo: “Se o Papa permitir
isso, daqui a pouco até mulheres estarão
dando comunhão!” Já pensaram?
O Vicentino:
Então, da Diocese de Luz/MG, saíram os
primeiros Ministros da Eucaristia do
mundo?
D. Belchior:
Sim, podem levar as cópias desses
documentos para publicarem, que vieram
de Roma.
O Vicentino:
Quais os primeiros leigos que se
tornaram Ministros?
D.
Belchior: Quando recebi a resposta
autorizando fazer uma experiência com
dez leigos, imediatamente fui a Bambuí
falar com o Pe. José Nunes. Visitamos
alguns candidatos de reconhecida
idoneidade moral e piedade comprovada,
mas nenhum deles aceitou o convite,
talvez por medo de ser considerados
clericais ou eclesiásticos. Nem o Fão,
de Bambuí, o Manuel Soares, de Tapiraí,
o José Namitala, de Medeiros. (Na foto
ao lado os primeiros Ministros; hoje,
falta escanear a foto).
De volta,
eu estava com um Padre novo, meu amigo,
e eu lhe disse: que nome daremos a esses
distribuidores da comunhão? O que você
acha? Ele pensou, e disse-me:
“Acólitos”. Eu disse: Acólito é um nome
difícil de falar, depois acrescentei:
eles são Ministros, e para ministrar. Aí
ele disse, “que tal Ministro
da Eucaristia”? Eu lhe disse: É
muito pomposo esse nome, Ministro da
Eucaristia é o Padre, então poderemos
dizer “Ministro Extraordinário da
Eucaristia”, que é o nome correto.
Escrevi a
Roma dizendo que fizera experiência com
dez homens de piedade comprovada,
conhecidos na Diocese, a maioria
confrades vicentinos, e estão
distribuindo a comunhão aos doentes,
ajudando o vigário na Paróquia, e
comungando com as suas próprias mãos.
Recebi a resposta imediatamente: “Faça
experiência com mais dez e nos conte
como eles estão procedendo.” Fiz
igualzinho em 1967 ou 68, não me lembro
bem.
O Vicentino:
Qual foi a receptividade dos Bispos
Brasileiros sobre a questão?
D. Belchior:
Aqui no Brasil, teve muitos Bispos que
não aceitaram de jeito nenhum, não
aprovaram. Teve um, de uma Diocese do
Norte de Minas, que veio aqui estar
comigo. “Senhor Bispo, pelo amor de
Deus, não espalhe isso não! É um
escândalo, onde já se viu isso! Colocar
a hóstia consagrada nas mãos de leigos!
Na minha Diocese isso não entra.” Eu lhe
respondi: “Já está feito, o que vamos
fazer agora? É tocar para frente, eu
acho que isso vai fazer muito bem à
Igreja.” Ele já morreu. Hoje tem outro
Bispo lá, e recentemente eu estive com
ele e ouvi dele: “Foi a maior bênção na
nossa Diocese. Todas as Paróquias já têm
Ministros.” Estão vendo? Pelo menos essa
alegria eu levarei para junto de Deus.
Encontrei muitas dificuldades no começo,
me chamaram até de louco, “Isso é
loucura, senhor Bispo!”
O Vicentino:
D. Belchior, o senhor nunca publicou
este fato tão importante para a Igreja?
D. Belchior:
Eu só publiquei isso aqui no nosso “Jornal
de Luz”, porque D. João Resende
Costa, e D. Serafim, de Belo Horizonte
me disseram: “D. Belchior, o senhor
nunca escreveu nada sobre isso?”
Disse-lhes: “Não escrevi e não vou
escrever, porque isso fica parecendo
vaidade. Porque é algo que tomou vulto
maior do que eu poderia pensar, e eu não
vou entrar nessa não.” D. João Resende
Costa, que me sagrou Bispo disse-me: “D.
Belchior, em consciência, o senhor é
obrigado a contar como aconteceu isso,
sobretudo os vexames que o senhor
passou.”
O Vicentino:
O “Jornal de Luz” publicou em
maio/97 com o título “Como nasceram
os Ministros da Eucaristia”, matéria
(diga-se de passagem muito bem
elaborada) onde o senhor narra todo este
acontecimento. Agora, em nível nacional
é a primeira vez que isso é levado ao
conhecimento público?
D. Belchior:
Sim, eu só falei antes em 97 ao nosso
jornal aqui da cidade.
Quem é
D. Belchior?
Nasceu em
Araújos, Minas Gerais, próximo a Bom
Despacho, Centro-Oeste Mineiro, aos 7 de
novembro de 1918. Primeiro filho do
casal Belchior Joaquim da Silva Zico
(1895-1978) e de Anita Maria da Silva
(1898-1959). Fez o curso primário em
Luz, para onde seus pais mudaram-se em
1922. Aos 13 anos de idade, foi estudar
no Colégio do Caraça, da Congregação da
Missão (fundada em Paris/França, por São
Vicente de Paulo em 1625), onde cursou o
1° e 2° graus, e posteriormente
ingressou no Seminário Maior de
Petrópolis-RJ. Ordenou-se Sacerdote
pelas mãos de D. João Cavatti, CM -
Bispo de Caratinga-MG, em 8 de dezembro
de 1945 em Petrópolis, tornando-se
Missionário Lazarista Vicentino. Seu
primeiro trabalho foi como professor no
Seminário de Diamantina-MG e depois
Reitor dos Seminários Menor e Maior,
permanecendo ali sete anos. Por
determinação dos Superiores,
transferiu-se para o Seminário S.
Vicente de Paulo de Fortaleza-CE, para a
Escola Apostólica, ficando lá três anos,
pregando nas capitais da região. No fim
de 1955, faleceu o Superior de
Diamantina, Pe. José Pires, e ele veio
substituí-lo por um ano. Retorna a
Fortaleza, para assumir o maior
Seminário do Nordeste, o Seminário de
Prainha, onde estudaram D. Hélder, D.
Eugênio, grandes Bispos Arcebispos e
Cardeais. No dia 24 de abril de 1960, na
Matriz de São José do Calafate, em Belo
Horizonte-MG, D. João Resende Costa o
sagrou Bispo da Diocese de Luz, nomeado
pelo Papa João XXIII. E onde ficou até
completar os 75 anos de idade, quando,
de acordo com o Código do Direito
Canônico pediu um substituto. Em 18 de
maio de 1994, passou o báculo a Dom
Eurico dos Santos Veloso, que dirige a
Diocese.
O
Sacerdote de Cristo
Minha
vocação é até curiosa: Eu nunca tinha
pensado em
ser Padre. Meu pai
vendeu a fazenda e montou um
estabelecimento comercial em
Perdigão. Ele ficou
cego de uma vista e o médico o
aconselhara a mudar-se para a cidade. Lá
ficou sabendo que existia um lugar
chamado Aterrado (hoje Luz), onde o
dinheiro corre; é o “Império do Café”,
como dizia antigamente. Me lembro,
viemos a cavalo, eu tinha quatro anos,
Pe. Tobias tinha dois, minha irmãzinha
Maria do Carmo estava ainda nos braços e
viemos para cá. Somos oito irmãos:
quatro casados, quatro consagrados a
Deus.
Uma
Freira, um Padre, um Bispo e um
Arcebispo que é o Arcebispo de Belém do
Pará, D. Vicente Joaquim Zico. Os outros
irmãos casaram-se muito bem, graças a
Deus, são pais de muitos filhos.
Papai
abriu um comércio aqui e se deu
maravilhosamente. Do comércio, ele
passou a trabalhar em Banco. Foi gerente
do Banco Minas Gerais, correspondente do
Banco da Lavoura, e do Banco
Hipotecário. Meu pai saiu-se bem em tudo
o que mexia. Foi convidado para entrar
para a política, ele disse: “Isso eu não
entro não”. “Não é política, o senhor
vai ser o nosso Prefeito”, disseram.
Primeiro Getúlio Vargas, estava
escolhendo os Intendentes Municipais:
papai foi o escolhido. Mais tarde
concorreu em eleição com a maior figura
daqui, o Dr. Josafá Macedo e venceu com
uma maioria de votos tremenda. Tínhamos
naquela época cerca de 3.500 votos, só
não votaram nele 400 eleitores... Eu
sempre fui um menino muito levado,
gostava de jogar bola e um dia estava
numa ‘pelada’ como se diz, em frente à
nossa casa, numa poeira danada, quando
entrou um menino que não era dos nossos,
um ex-seminarista, que chegava do
Caraça. Ele dirigiu-se a mim dizendo: “É
verdade que você vai estudar no
Colégio?” Respondi: estou com as malas
prontas, vou para o Colégio São Geraldo
de Pará de Minas. Aí ele disse-me: “Por
que você não vai estudar no Caraça?” Eu
falei: “O que e isso?” “Olha, o Caraça é
o maior Colégio de Minas Gerais, agora
estão mudando de Colégio para Seminário,
mas vá lá para estudar. Se servir para
Padre, bem, se não servir não tem
importância, dali você pode entrar para
uma Faculdade e abraçar qualquer
profissão diferente.” E confidenciou-me:
“Mas, para você ser feliz, você tem que
dizer que quer ser Padre. Aí você já
entra com um bom cartaz.” Pensei, então
vou começar agora. Acabou o jogo.
Cheguei em casa. Minha mãe e minha avó
estavam lá. “As suas malas estão
prontas, seu pai vai levá-lo na próxima
semana para o Colégio em Pará de Minas.”
Falei: mamãe, eu vou dizer uma coisa:
não quero ir para lá não. “Mas, o que é
isso? Você já falou com seu pai. está
tudo combinado, o enxoval pronto.” É que
agora eu resolvi: quero ser Padre. Elas
riram! “Ser Padre? Você nunca falou
isso! Não tem Padre na nossa família;
por quê ser Padre?” A senhora nem queria
saber o Dezico, o rapaz que falou
comigo, disse que lá no Caraça é bom
demais. Tem muita laranja, frutas em
quantidade. Futebol? Tem dois campos.
Nadar? Tem dois tanques (não se falava
piscina); e um rio passa em frente ao
Colégio. Agora eu quero é ser Padre
mesmo. Mamãe: “Então é para isso que
você quer ser Padre? Não fale isso a seu
pai.”
Meu pai
era um Vicentino desses firmes,
positivo! Era o pobre e Deus, Deus e o
pobre. Não venha com falcatruas que ele
não aceitava. Mamãe continuou: “Não vai
dizer ao seu pai que você vai por causa
das laranjas, futebol; ele não deixa. De
mais a mais, o enxoval está pronto.”
Então
como faço? Vovó disse-me: “Se seu pai
perguntar o motivo, diz que é por causa
de Deus e salvação das almas”. Falei,
Nossa Senhora que trem difícil de falar!
Nisso papai entra. “Como é que é, está
tudo pronto? se referia ao almoço. Vovó
não resistiu: “Sabe o que o
Belchiorzinho está falando? Está
querendo ser Padre!” Ele me perguntou:
“Por quê você quer ser Padre?” Eu
disse-lhe: “Papai, a vovó que sabe...
Mas eu quero.” Antes de ele morrer,
ainda me disse brincando: “No começo
você nem sabia porquê queria ser Padre.”
Veja que
coincidência, minha família vicentina,
eu não sabia que São Vicente tinha
fundado uma Congregação, e fui ser Padre
Missionário desta Congregação. Depois
foram meus irmãos: Pe. Tobias, Luiz, e o
mais novo, Vicente, atual Arcebispo de
Belém do Pará. Luiz não continuou, ficou
doente, depois casou-se muito bem, mora em
Belo Horizonte.
O fato é
que venci os estudos com certa
facilidade, graças a Deus. Nunca repeti
ano. Nas vésperas de ser Padre, fiz os
votos de castidade, pobreza e obediência
na Congregação. É claro que a gente que
é homem, vem logo o ponto de vista de
castidade e, na véspera do subdiaconato
me lembro que era uma hora da madrugada,
vi a luz acesa do quarto do reitor.
Estava de pijama e fui lá. Ele me disse:
“Que é que houve?” Eu disse: “Não vou
continuar, não sirvo para Padre. Padre
tem que fazer votos de castidade, e
muito difícil; não sei se dou conta.”
Ele disse-me: “Você veio me avisar que
vai embora, ou veio pedir uma palavra
minha, um conselho?” Claro que a sua
palavra é importante. O senhor é o meu
diretor; era o Pe. Antônio Mourão.
“Então venha aqui no fim do ano (era
mais ou menos outubro ou novembro); no
fim do ano você vai dizer a sua palavra
decisiva”. Resumindo, até hoje não
voltei. Pensei, se é sacrifício, o maior
sacrifício que eu posso fazer a Deus e
entregar a minha vida, e Ele vai tomar
conta de mim. Se Ele me criou à sua
imagem e semelhança, se Ele me criou
para uma missão para cumprir, e ela está
aqui na minha frente, eu vou me afastar,
vou renegar a este chamado? Agora, não
esperava ser Bispo.
SSVP
na sua vida
Meu pai
desde rapazinho frequentava a
Conferência Vicentina de Perdigão,
porque não existia em
Araújos. Quando começou
a aparecer o povoado, meu pai juntou-se
ao “preto”, um antigo escravo da
fazenda, que era carne e osso com o
papai, e disse: “Agora vamos a Araújos.”
“Mas lá não tem Conferência”, disse o
escravo. “Então nos vamos fundar uma
lá.” É a Conferência de São Sebastião,
até hoje funcionando.
Mudando
para o Aterrado, que se tornou a cidade
de Luz, meu pai também fundou
Conferências. Participava de tudo e
fazia questão de me levar, ainda menino,
para a Conferência. Ele fundou a
Conferência de São Luiz para nós: eu, o
Tobias, o Vicente, as meninas; nós íamos
com o meu pai. De modos que nasci na
Conferência Vicentina.
Me
considero um vicentino, me orgulho de
ser Vicentino, tenho a minha Conferência
aqui, que é a Nossa Senhora Aparecida.
Com a minha doença não tenho podido
frequentá-la, mas sempre depois da Missa
nós nos reuníamos. Sou membro desta
Conferência. Não apenas me considero
vicentino, mas tenho uma admiração louca
pelos vicentinos.
O Vicentino: D.
Belchior muito obrigado pela carinhosa
acolhida, pela entrevista e pelas suas
colaborações que honram e enriquecem
este jornal. Esperamos continuar
merecendo-as.
D.
Belchior: Eu é que tenho que agradecer
muito. Vocês sabem, sou vicentino de
coração, entrei no Ministério de Deus,
pela Congregação de São Vicente de
Paulo. Nunca pensava que pelo fato de
ser um humilde vicentino, ser chamado
com os meus irmãos, para uma Congregação
fundada por São Vicente de Paulo!
Agradeço
muito a vocês, uma visita dessas, é uma
visita de um representante de São
Vicente de Paulo. Muito obrigado.
NUNCIATURA APOSTÓLICA DO BRASIL
Prot.
Nº 985/66
1. a) Se
se tratar de administrar a Sagrada
Comunhão nas Igrejas ou oratórios
públicos, a pessoa idônea deverá ser
designada tendo em consideração a
seguinte ordem e condição: clérigo “in
sacris” ou, quando o sujeito tenha uma
certa maturidade; clérigo com ordens
menores, ou tonsurado, ou religiosos com
votos, ou catequista, ou, enfim, um
simples fiel. Neste último caso, o fiel
deve ser de idade madura, do sexo
masculino, distinguir-se pela vida
cristã, fé e moralidade, além de ter uma
instrução condizente com tão nobre
ofício, e deverá receber o mandato com
algum ritual solene. A pessoa idônea
poderá administrar a Sagrada Comunhão
aos fieis de ambos os sexos, nas Igrejas
e oratórios e levá-la também aos
doentes.
b) Se se
tratar de administrar a Sagrada Comunhão
nos oratórios das Comunidades Religiosas
masculinas ou femininas, em orfanatos,
hospitais, colégios, institutos
dirigidos por Religiosos ou Religiosas,
os citados Pastores poderão obter a
faculdade de permitir ao Superior ou a
Superiora a administração da Sagrada
Comunhão aos respectivos religiosos e a
todos os presentes em tais lugares.
2. A
pessoa idônea, o Superior, a Superiora,
constituídos como acima, antes de
administrar a Sagrada Comunhão,
lavar-se-ão as mãos, recitarão em
seguida junto com os presentes o
“Confiteor”, o “Domine non sum dignus”
(omitindo “Tibi Pater” e “Te Pater”) e
dizendo “Corpus Christi”; terminado o
rito, em vaso adaptado purificarão os
dedos. As mesmas pessoas poderão elas
próprias dar-se a Santíssima Eucaristia.
A pessoa idônea e o Superior Religioso,
administrando a Sagrada Comunhão,
vestirão o hábito talar com cota; a
Superiora vestirá o próprio hábito.
3.
Recomenda-se que na aplicação deste
extraordinário remédio concedido
justamente em via de todo excepcional,
seja afastado todo perigo de
irreverência para com o Santíssimo
Sacramento, não só, mas se proceda com
grande cautela e circunspecção.
Tenha-se, além disso, presente que para
qualquer dúvida os Sagrados Pastores
deverão recorrer a esta Sagrada
Congregação, à qual farão, pelo menos
cada ano, uma relação a respeito.
(Carimbo
da Nunciatura Apostólica do Brasil)
Roma, 7
de maio de 1966
CARTA
COLETIVA
(De D.
Belchior Joaquim da Silva Neto, CM, aos
Padres da Diocese de Luz em 7 de
novembro de 1967)
Caríssimos Padres, L. J. C.
Esta
missiva é um apêndice ou anexo
necessário ao “BOLETIM DO CLERO”; sobre
o Ministro da Eucaristia em
nossa Diocese, concedido, graciosamente
pelo Santo Padre, em vista da promoção
do Leigo ao serviço da Igreja.
O
Documento vem datado de 20 do corrente,
ou antes de outubro findo (prot.
1951/66- 15246), autorizando os leigos a
exercerem o ministério da Eucaristia em
favor do povo de Deus. Podemos,
portanto, assim definir-lhes as
faculdades:
1ª -
receberem a S. Comunhão das próprias
mãos ou darem-se pessoalmente a
comunhão.
2ª -
levarem a S. Comunhão aos enfermos.
3ª -
ajudarem a distribuir a S. Comunhão na
Igreja, caso esteja o vigário ocupado ou
seja, grande acúmulo de fiéis.
4ª -
fazerem o Culto dominical, em ausência
do vigário, explicarem as sagradas
leituras, ao alcance dos fiéis, ajudarem
a administração dos Sacramentos.
5ª -
Exporem o SS. Sacramento para adorações
e Horas Santas.
6ª -
proporcionarem a Bênção do SS.
Sacramento, com exposição e reclusão das
S. Espécies.
7ª -
fazerem e Encomendação dos defuntos com
as orações do Ritual.
Atenção:
pedimos aos RR. vigários fazerem a
apresentação dos candidatos.
1° - que
sejam cristãos exemplares na Paróquia ou
nas Capelas onde vão exercer o
ministério da Eucaristia.
2º - que,
mesmos casados, não sejam gananciosos ou
interesseiros, visando qualquer lucro,
pois será um ofício inteiramente
gracioso, sem remuneração, baseado na
caridade, no que esta virtude tem de
mais sublime, que é o ministério
Eucarístico.
3º - que
não sejam políticos ou militantes
ostensivamente em facções políticas,
pois seria trazer odiosidade para
serviço tão santo e grandioso.
4° - que
tenham certa cultura, podendo ler os
livros santos, Epístolas, Evangelhos,
para uma conveniente explicação aos
fiéis, no Culto Dominical.
Com o
exercício do ministério, daremos,
depois, outros esclarecimentos.
Humilde
servo em
Cristo N. Senhor
D.
Belchior - Bispo Diocesano de Luz
- - -
A
Família Vicentina Brasileira está de
luto, faleceu Dom Belchior
Matéria
publicada no Jornal “O VICENTINO”,
em junho de 2000, nº 132, ano XIV,
páginas 1 e 3:
Nosso
querido “colaborador Especial” partiu
rumo à Casa do Pai, deixando um enorme
vazio entre nós. Por outro lado, fica a
certeza de termos mais um grande
intercessor junto a Deus pelos pobres, a
quem amava e por todos os seus amigos,
que são inúmeros por todo o Brasil.
“O
pobre que na terra socorremos é quem, um
dia, nós encontraremos correndo a
abrir-nos os portões do Céu!”
Que estas palavras de São
Vicente de Paulo, contidas no último
soneto de autoria de Dom Belchior,
enviado a este jornal para publicação,
ainda escrito a mão, possa servir de
introdução da triste nota de falecimento
deste nosso amigo, irmão vicentino,
colaborador e incentivador, Sua
Excelência Revma. Dom Belchior Joaquim
da Silva Neto, CM - Bispo Emérito de
Luz/MG.
D. Belchior, que tinha
81anos de idade, foi vítima de um
derrame cerebral, levado a Belo
Horizonte, lá veio a falecer na noite do
dia 24 de maio de 2000. Seu corpo foi
transladado para sua cidade na manhã do
dia 25, permanecendo na majestosa
Catedral de Nossa Senhora da Luz, sendo
sepultado ali mesmo no dia seguinte.
Durante todo o velório se fizeram
presentes a população de Luz,
representantes de toda a região,
principalmente seus confrades e
consócias da SSVP, pois D. Belchior era
também um confrade da Conferência Nossa
Senhora Aparecida, desta cidade. Os
pobres, a quem ele tinha um carinho
especial também vieram se despedir do
seu protetor e amigo; cenas emocionantes
de gente simples, alguns atédeficientes
amparados por outros, choravam em volta
daquele corpo, outrora ágil,
entusiástico, vibrante, brincalhão e
que agora repousava inerte numa urna
mortuária.
Os confrades Leandrini e
Olímpio, representando O
Vicentino, do
qual D. Belchior era colaborador,
estiveram presentes na tarde/noite do
dia 25, às derradeiras homenagens ao
ilustre prelado da Igreja Católica,
aquele que sugeriu ao Papa a instituição
dos “Ministros da Eucaristia”; o Cardeal
D. Serafim Fernandes, presidiu a
celebração da última Missa, às 9 h do
dia 26, concelebrada por inúmeros
Bispos, Arcebispos, Padres da área
diocesana e vários dos seus coirmãos,
entre eles, o Superior Provincial, Pe.
Eli Chaves dos Santos, CM. Logo depois,
seu corpo baixou sepultura naquela mesma
Igreja onde sua voz inflamada,
entusiasmada e poética ecoou durante 34
anos!
Do comunicado oficial da
PBCM (Província Brasileira da
Congregação da Missão), destaca-se:
“Irmão, amigo e pastor,
três palavras que podem sintetizar a
longa e fecunda caminhada de Dom
Belchior, um homem de uma rica e
original personalidade e que, totalmente
apaixonado pela causa de Jesus Cristo e
seu Evangelho, desenvolveu uma intensa,
ardorosa e diversificada ação
pastoral. Como bispo, animou a Diocese
mais com o coração do que com grandes e
sofisticados planos pastorais. Bastante
simples e de uma jovialidade
contagiante, procurava fazer-se presente
às pessoas e nos mais diversos lugares,
possuía um carinho muito grande pelos
pobres e com todas as pessoas se
relacionava com incrível amabilidade.
Com palavras e gestos, irradiava
alegria, entusiasmo e ardor
apostólico.”
Poeta, Romancista,
Escritor, deixa inúmeras obras
publicadas muitas delas em várias
edições. Mas, o que realmente D.
Belchior deixa mesmo, e todos que
tiveram a ventura de conhecê-lo hão de
concordar, é uma saudade imensa que
jamais se apagará na memória daqueles
que desfrutaram da sua amizade, do seu
convívio.
Adeus, Dom Belchior, não
esqueça de nós porque o senhor nunca
será esquecido. Até um dia!
- - -
Ministros Extraordinários
da Eucaristia
Domingo,
6 de maio de 2012
O Concílio
Vaticano II esclareceu que a Igreja,
toda ela, em todos seus segmentos, é
servidora. Os padres não são os únicos
ministros. Notar bem que ministério
significa serviço!
O Ministro Extraordinário da
Eucaristia é, na Igreja Católica,
um leigo a quem é dada permissão, de
forma temporária ou permanente, de
distribuir a comunhão aos fiéis,
na missa ou noutras circunstâncias,
quando não há um ministro ordenado (bispo, presbítero ou diácono)
que o possa fazer.
Como o número de sacerdotes, geralmente
e em muitos lugares, é insuficiente para
atender todas as tarefas que lhe
competem, foi instituído o Ministério
Extraordinário da Eucaristia, ou da
Comunhão, como preferem alguns.
Na Celebração da Eucaristia, os
Ministros da Eucaristia ajudam o padre
na distribuição da Comunhão. Eles podem
também atender os doentes, levando para
eles, em suas casas ou nos hospitais, a
santa Comunhão.
O trabalho pode ser exercido pelos
Ministros da Eucaristia é
“extraordinário”, isto é, não é
verdadeiramente próprio. O sacerdote é o
ministro extraordinário da Eucaristia.
Por causa do grande volume de afazeres,
e por causa de existir um número
insuficiente de padres e diáconos, foi
instituído o “Ministério
Extraordinário”.
O mandato para exercer o Ministério
Extraordinário da Eucaristia não é
permanente. Essa função é temporária. O
tempo do mandato deve ser estabelecido
pelo bispo. Pode ser renovado, conforme
as circunstâncias. Mas, é bom que haja
alternância de ministros para que
ninguém se sinta melhor que os outros. A
responsabilidade é muito grande e o
ministro deve ser uma pessoa, homem ou
mulher, de vida exemplar.
Nos lugares onde não há habitualmente um
sacerdote, os ministros podem presidir a
Celebração da Palavra. Nessas
celebrações, feitas geralmente aos
sábados à noite e aos domingos, os
ministros distribuem a comunhão.
Logicamente, as hóstias devem ser
aquelas que foram consagradas
previamente, quando um sacerdote rezou
Missa na comunidade.
Fonte: http://oleigocatolico.blogspot.com.br/
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SURGIRAM?
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