FESTAS DE PRIMEIRO ANIVERSÁRIO
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Mortalidade infantil antes de completar o
primeiro ano de vida traumatizou gerações e
ainda faz parte de algumas estatísticas da
população desvalida de pré-natal e saneamento.
Talvez, inconscientemente, pais e mães façam
grandes comemorações quando a criança sadia
completa doze meses de vida. Como para exorcizar
o medo ancestral da mortalidade prematura. Só
que o aniversariante ainda não entende da festa
em sua honra – grande sucesso da casa de eventos
que conseguiu marqueteá-la: festa para adultos e
crianças maiores, com todos os penduricalhos –
diversões agitadas, bolinhos, doces,
refrigerantes - quando não uísque para os
maiores de idade. E as indefectíveis
lembrancinhas comemorativas que os convidados,
depois, não sabem o que fazer com elas, em
apartamentos cada vez mais carentes de espaço
para depósito.
Sendo de outra geração, celebrei todos os
aniversários do meu filho com festa pequena e
alegria grande. Em casa. Não faltava o bolo
ritual com velinhas, nem as fotos documentais,
sem precisar de pau de selfie, pois um amigo
sempre se oferecia para bater foto onde pai, mãe
e aniversariante pudessem sair juntos. Nos 11
anos, foi especial: jantar somente para nós
três, em restaurante onde havia show de mágica –
sua grande curtição.
Os aniversários de criança tornaram-se
megaeventos. Excesso de decibéis, estética
própria com festas temáticas. Afinal, é preciso
dar graças pela vitória daquela vida em pleno
desenvolvimento e retribuir as festas para as
quais se foi convidado. Um pouco de ostentação,
para quem gosta. Muitos não dispensam este ato
público de amor, que vai ficar registrado em
arquivos eletrônicos, raramente consultados anos
depois. Colhem estatísticas de curtidas pelos
Facebooks e Whatsapps – medida de popularidade e
vaidade dos pais, avós, tios, por aquele “sangue
do meu sangue” sendo gente. Mas o importante
mesmo é esse ato público selado em privado, no
fim da noite, com beijo e bênção na cabeça do
(a) fofinho (a) - este sim, gesto necessário e
inesquecível pela vida afora.
Diário de Pernambuco, 9/3/2015
De: Theresa Catharina de Góes Campos
Querida Tereza Lúcia:
Parabéns por sua crônica sensata, realista e
atual, "inesquecível pela vida afora.", sobre os
verdadeiros valores familiares. Muito obrigada
por me enviar um texto assim, tão necessário
para uma sociedade de ostentação e prioridades
invertidas, absurdas.
Saúde e fortaleza emocional, para você e
Henrique.
Beijo e abraço carinhosos de
Therezita |