Theresa Catharina de Góes Campos

     
De: Reynaldo Ferreira
Data: 19 de novembro de 2015
Assunto: Fwd: Futuro das aposentadorias

Repassando: Um tema importante este, abordado, com seriedade, pelo jornalista Ayle-Salassie Quintão. A questão do sumiço do dinheiro dos Fundos de Pensão é uma bomba prestes a estourar e, quando isso acontecer, o caos vai se instalar neste país (...).

Fundos de Pensão: Cadê o dinheiro que estava aqui?

Aylê-Salassié F Quintão*

Em pleno vigor físico e mental, com um longo caminho a percorrer, a maioria dos jovens trabalhadores não tem ainda em pauta, como prioridade, a questão da aposentadoria. A juventude não está nem aí. Para os mais velhos, contudo, falar em previdência dá arrepios, porque o dinheiro da contribuição mensal está sumindo. Some do INSS, absorvido no Orçamento do Tesouro Nacional, e some dos Fundos de Pensão, nas aplicações deliberadas em empresas falidas. É muito dinheiro voando por aí. Não dá para calcular. Ninguém descobre, nem parece ter interesse em descobrir onde está .

Com déficit impagável, o INSS carrega cerca de 31 milhões de pessoas nas costas, aposentados contribuintes e uma grande maioria de simplesmente beneficiados. Por sua vez, os 300 Fundos de Pensão, com mais de 7 milhões de segurados, estão com um deficit atuarial de 46 bilhões e os ativos praticamente depauperados. Os Fundos das estatais, tipo Petros, Funcef, Postalis e outros encontram-se à beira da falência. Essa situação começou há cerca de dez a doze anos atrás, quando se passou a usar o dinheiro dos Fundos de Pensão das estatais para investir em empresas decadentes e projetos messiânicos e imaginários, com a intenção de transformar ativos podres de amigos em promessas de ganhos para investidores inseguros quanto ao futuro. Contabilmente, o patrimônio dos Fundos, da ordem de R$ 700 bilhões, permitia alimentar esse sonho.

Além disso, os Fundos ficariam sob a fiscalização da Secretaria de Previdência Complementar do Ministério da Previdência Social(MPAS). Ela edita normas, mas não tem força, ou vontade, para agir preventivamente sobre essas instituições. Primeiro, porque quem deve geri-las é o próprio associado; segundo, por serem esses fundos constituídos com parte da contribuição das empresas. Assim, nas estatais, o governo se acha no direito de nomear os gestores. E aí, os braços do Poder se estendem inescrupulosamente para dentro do patrimônio privado, administrando-o à sua maneira e conveniência. Na primeira gestão presidencial do partido do governo atual, chegou-se a subordiná-los à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Foi uma festa.

Ora, os Fundos de Pensão são instituições de previdência privada criadas para servir de complemento para a aposentadoria dos funcionários que, mesmo ganhando altos salários, só teriam direito aos limites fixados para a previdência pública: até R$ 4.700,00. Para cada quantia que o trabalhador destina ao fundo, a empresa em que presta serviços contribui com quantia equivalente. Trata-se de uma mobilização de recursos que alavanca o mercado de capitais e, por isso, a título de melhorar a remuneração do futuro aposentado, o governo chegou a instituir até uma Previdência Complementar Simplificada, induzindo os credores do FGTS e os funcionários públicos a se inscrever no novo modelo. Um grande contingente transferiu suas reservas para lá. Contudo, pulverizados dentro dos Fundos, os associados terminaram por perder a capacidade de escolher a administração dos seus Fundos. A direção passou a se dar por meio de indicações políticas e até sindicais, e os recursos, “sem donos”, a serem manipulados imaginosamente em proveito do Poder.

A intervenção nos Fundos estatais assumiu tal proporção que ao se abrir, em 2015, a CPI dos Correios, caiu-se dentro do Postalis e, no entrelançamento dos dados, descobriu-se o mau uso de recursos que envolviam a Previ (BB), o Petros(Petrobras), o Funcef (Caixa Econômica), o Centrus (Banco Central); o Eletros (Eletrobrás); o Geap (funcionários públicos federais); Portus (portuários das docas estatais), Real Grandeza (Furnas Centrais Elétricas) e Serpros (processamento de dados, do Ministério da Fazenda). Ora, “Perder dinheiro para quem, e por quê?”. Ninguém pergunta e ninguém também explica.

Os fundos estão ainda sob suspeita de envolvimento no esquema de mesadas pagas a parlamentares para compra de votos no Congresso, e até para financiar festas particulares. A CPI conclui que eram também um locus de lavagem de dinheiro. Mesmo assim, os principais envolvidos se safaram. Hoje os 300 fundos têm investidos cerca de 700 bilhões, a maioria em empresas que naufragaram ou que estão naufragando. Os ativos de alguns chegam quase ao zero. Uma ação da Petrobras, carregada de dinheiro do Petros, que chegou a ser vendida a R$70,00, hoje vale menos de R$ 7,50. Quem paga?

Por razões como essas amplamente difundidas é de surpreender que a CPI dos Fundos de Pensão se arraste quase sem fôlego. Falta alguém de coragem para fazê-la respirar. Os trabalhadores tiveram FGTS engolidos no processo, e os aposentados abandonados, chegando, em alguns casos, a serem criminalizados por consumir as contribuições dos mais jovens. Uma falácia! Surpresa ainda maior é não se ver nas manifestações de rua um cartaz sequer em defesa dos Fundos de Pensão. Para os novos contribuintes, fala-se num novo plano de previdência, para os já aposentados em revisões. Resta o ônus de tudo isso: repor com novos descontos em salários os prejuízos dos respectivos Fundos. A quem pertencerá esse futuro?

*Jornalista,professor, doutor em História Cultural. Consultor da Catalytica Empreendimentos e Inovações Sociais.
 

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