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Sigamos os felizes
Socorro Acioli
"Existem pessoas admiráveis andando em passos firmes
sobre a face da Terra. Grandes homens, grandes mulheres,
sujeitos exemplares que superam toda desesperança. Tenho a
sorte de conhecer vários deles, de ter muitos como amigos e
costumo observar suas ações com dedicada atenção. Tento
compreender como conseguem levar a vida de maneira tão
superior à maioria, busco onde está o mistério, tento ler
seus gestos e aprendo muito com eles.
De tanto observar, consegui descobrir alguns pontos em comum
entre todos e o que mais me impressiona é que são felizes.
A felicidade, essa meta por vezes impossível, é parte
deles, está intrínseco. Vivem um dia após o outro
desfrutando de uma alegria genuína, leve, discreta,
plantada na alma como uma árvore de raízes que força
nenhuma consegue arrancar.
Dos felizes que conheço, nenhum leva uma vida perfeita.
Não são famosos. Nenhum é milionário, alguns vivem com
muito pouco, inclusive. Nenhum tem saúde impecável, ou uma
família sem problemas. Todos enfrentam e enfrentaram
dissabores de várias ordens. Mas continuam discretamente
felizes.
O primeiro hábito que eles tem em comum é a generosidade.
Mais que isso: eles tem prazer em ajudar, dividir, doar.
Ajudam com um sorriso imenso no rosto, com desejo verdadeiro
e sentem-se bem o suficiente para nunca relembrar ou cobrar
o que foi feito e jamais pedir algo em troca.
Os felizes costumam oferecer ajuda antes que se peça. Ficam
inquietos com a dor do outro, querem colaborar de alguma
maneira. São sensíveis e identificam as necessidades
alheias mesmo antes de receber qualquer pedido. Os felizes,
sobretudo, doam o próprio tempo, suas horas de vida, às
vezes dividem o que tem, mesmo quando é muito pouco.
Eu também observo os infelizes e já fiz a contraprova:
eles costumam ser egoístas. Negam qualquer pequeno favor.
Reagem com irritação ao mínimo pedido. Quando fazem, não
perdem a oportunidade de relembrar, quase cobram medalhas e
passam o recibo. Não gostam de ter a rotina perturbada por
solicitações dos outros. Se fazem uma bondade qualquer,
calculam o benefício próprio e seguem assim, infelizes.
Cada vez mais.
O segundo hábito notável dos felizes é a capacidade de
explodir de alegria com o êxito dos outros. Os felizes
vibram tanto com o sorriso alheio que parece um contágio.
Eles costumam dizer: estou tão contente como se fosse
comigo. Talvez seja um segredo de felicidade, até porque os
infelizes fazem o contrário. Tratam rapidamente de
encontrar um defeito no júbilo do outro, ou de ignorar a
boa nova que acabaram de ouvir. E seguem infelizes.
O terceiro hábito dos felizes é saber aceitar.
Principalmente aceitar o outro, com todas as suas
imperfeições. Sabem ouvir sem julgar. Sabem opinar sem
diminuir e sabem a hora de calar. Sobretudo, sabem rir do
jeito de ser de seus amigos. Sorrir é uma forma sublime de
dizer: amo você e todas as suas pequenas loucuras.
Escrevo essa crônica, grata e emocionada, relembrando o
rosto dos homens e mulheres sublimes que passaram e que
estão na minha vida, entoando seus nomes com a devoção de
quem reza. Ainda não sou um dos felizes, mas sigo tentando.
Sigo buscando aprender com eles a acender a luz genuína e
perene de alegria na alma. Sigamos os felizes, pois eles
sabem o caminho".
Socorro Acioli, O Povo. |
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