Theresa Catharina de Góes Campos

     
Sigamos os felizes

Socorro Acioli
 
 "Existem pessoas admiráveis andando em passos firmes
 sobre a face da Terra. Grandes homens, grandes mulheres,
 sujeitos exemplares que superam toda desesperança. Tenho a
 sorte de conhecer vários deles, de ter muitos como amigos e
 costumo observar suas ações com dedicada atenção. Tento
 compreender como conseguem levar a vida de maneira tão
 superior à maioria, busco onde está o mistério, tento ler
 seus gestos e aprendo muito com eles.

 De tanto observar, consegui descobrir alguns pontos em comum
 entre todos e o que mais me impressiona é que são felizes.
 A felicidade, essa meta por vezes impossível, é parte
 deles, está intrínseco. Vivem um dia após o outro
 desfrutando de uma alegria genuína, leve, discreta,
 plantada na alma como uma árvore de raízes que força
 nenhuma consegue arrancar.

 Dos felizes que conheço, nenhum leva uma vida perfeita.
 Não são famosos. Nenhum é milionário, alguns vivem com
 muito pouco, inclusive. Nenhum tem saúde impecável, ou uma
 família sem problemas. Todos enfrentam e enfrentaram
 dissabores de várias ordens. Mas continuam discretamente
 felizes.

 O primeiro hábito que eles tem em comum é a generosidade.
 Mais que isso: eles tem prazer em ajudar, dividir, doar.
 Ajudam com um sorriso imenso no rosto, com desejo verdadeiro
 e sentem-se bem o suficiente para nunca relembrar ou cobrar
 o que foi feito e jamais pedir algo em troca.

 Os felizes costumam oferecer ajuda antes que se peça. Ficam
 inquietos com a dor do outro, querem colaborar de alguma
 maneira. São sensíveis e identificam as necessidades
 alheias mesmo antes de receber qualquer pedido. Os felizes,
 sobretudo, doam o próprio tempo, suas horas de vida, às
 vezes dividem o que tem, mesmo quando é muito pouco.

 Eu também observo os infelizes e já fiz a contraprova:
 eles costumam ser egoístas. Negam qualquer pequeno favor.
 Reagem com irritação ao mínimo pedido. Quando fazem, não
 perdem a oportunidade de relembrar, quase cobram medalhas e
 passam o recibo. Não gostam de ter a rotina perturbada por
 solicitações dos outros. Se fazem uma bondade qualquer,
 calculam o benefício próprio e seguem assim, infelizes.
 Cada vez mais.

 O segundo hábito notável dos felizes é a capacidade de
 explodir de alegria com o êxito dos outros. Os felizes
 vibram tanto com o sorriso alheio que parece um contágio.
 Eles costumam dizer: estou tão contente como se fosse
 comigo. Talvez seja um segredo de felicidade, até porque os
 infelizes fazem o contrário. Tratam rapidamente de
 encontrar um defeito no júbilo do outro, ou de ignorar a
 boa nova que acabaram de ouvir. E seguem infelizes.

 O terceiro hábito dos felizes é saber aceitar.
 Principalmente aceitar o outro, com todas as suas
 imperfeições. Sabem ouvir sem julgar. Sabem opinar sem
 diminuir e sabem a hora de calar. Sobretudo, sabem rir do
 jeito de ser de seus amigos. Sorrir é uma forma sublime de
 dizer: amo você e todas as suas pequenas loucuras.

 Escrevo essa crônica, grata e emocionada, relembrando o
 rosto dos homens e mulheres sublimes que passaram e que
 estão na minha vida, entoando seus nomes com a devoção de
 quem reza. Ainda não sou um dos felizes, mas sigo tentando.
 Sigo buscando aprender com eles a acender a luz genuína e
 perene de alegria na alma. Sigamos os felizes, pois eles
 sabem o caminho".

 Socorro Acioli, O Povo.
 

Jornalismo com ética e solidariedade.