Theresa Catharina de Góes Campos

     
IMBUZEIRO, A ÁRVORE SAGRADA DO SERTÃO - ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS

De tempos em tempos, geralmente nos dois primeiros meses do ano, encontra-se à venda em São Paulo o imbu, uma fruta deliciosa proveniente do chamado Polígono das Secas, vasta região que começa no Norte de Minas Gerais, atravessa uma larga faixa da Bahia e se estende pelos Estados do Nordeste.

Conheci o imbu em 1999, quando participei de expedições de estudos, nas ruínas de Canudos. É uma frutinha verde, carnuda, com sabor acidulado e ao mesmo tempo adocicado, extremamente agradável ao paladar. Comi a fruta ao natural e, também, transformada num sorvete maravilhoso.

O imbuzeiro é uma árvore singular, que consegue o prodígio de se manter verde mesmo em períodos de seca, quando toda a vegetação em volta seca por inteiro. Suas raízes são profundas, enterram-se muitos metros abaixo do nível do solo, sorvendo, avidamente, a escassa umidade que o interior da terra consegue ocultar aos raios devoradores do insaciável Sol. Ano a ano, como em um passe de mágica, floresce e, no mês de janeiro, entrega à luz esfuziante do astro-rei centenas de saborosos frutos, que fazem as delícias dos que os saboreiam. É então a hora das tachadas de imbuzada, quando, em leite de cabra e com bastante rapadura, as mulheres cozinham os imbus e todos os sertanejos se deliciam com aquele pitéu dos deuses...

Nas épocas de seca braba, que na região por vezes se prolonga por quatro, cinco ou seis anos, o imbuzeiro beneficia a população. Suas raízes, desenterradas, possuem uma espécie de tubérculos, as “batatas de imbu”, que conservam água e podem ser sorvidas por lábios sequiosos. Depois, secas e raladas, fornecem farinha que não é muito nutritiva, mas ajuda a disfarçar a fome nas horas de aperto, Acredita-se que tenha, também, propriedades medicinais. Euclides da Cunha chamou o imbuzeiro, da espécie Spondias tuberosa, de “árvore sagrada do sertão”.

De fato, ele assume naquelas regiões um papel que simboliza a própria Providência Divina. É a árvore benfazeja que ampara os pobres e alivia seus sofrimentos.

O imbuzeiro, na sua dura luta para sobreviver em clima hostil, também é símbolo do próprio sertanejo, que é antes de tudo um forte, como escreveu o mesmo Euclides da Cunha. O sertanejo luta diariamente para sobreviver, é obrigado a extrair seu sustento pelos modos mais incríveis, é-lhe difícil e até heroico o que para outros nada custa. Mas, assim como o imbuzeiro, sabe alegrar-se com o pouco que tem e é capaz de festejar, com verdadeira alegria de alma, qualquer pequeno agrado que, inesperadamente, lhe proporcione a mãe-natureza.

Quem vê o imbuzeiro revestido de vitalidade, quando florido ou carregado de frutos, não pode imaginar quanto esforço lhe custou aquela produção. Precisou, como um camelo que atravessa desertos, conservar dentro de si, nos seus tubérculos, as reservas de umidade que lhe garantiram a sobrevivência. E se alegra por poder dispor dessas reservas, quando muitos outros seres vivos perecem à míngua de água. Assim também, quem vê o sertanejo conversando, rindo e cantando ao som de uma velha viola, esfuziante de júbilo porque caíram algumas gotas de água do céu, não pode ter ideia de quanto lutou para poder adquirir o direito de, vez por outra, iluminar o rosto com um sorriso.

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

http://solpaz.blogs.sapo.pt/

De: João Vianey de Farias
Data: 6 de junho de 2016

Querida amiga Theresa,

Boa tarde!
Muito obrigado por compartilhar conosco essa preciosidade.

Só curiosidade, mas nós, nordestinos, conhecemos por umbu e não imbu, porém pesquisamos e vimos que o certo seria mesmo YMBU.

"O Certo é Ymbu, mas olha o porquê. O umbuzeiro ou imbuzeiro, Spondias tuberosa, é originário dos chapadões semi-áridos do Nordeste brasileiro; nas regiões do Agreste (Piauí), Cariris (Paraíba), Caatinga (Pernambuco e Bahia) a planta encontrou boas condições para seu desenvolvimento encontrando-se, em maior número, nos Cariris Velhos, seguindo desde o Piauí à Bahia e até norte de Minas Gerais. No Brasil colonial era chamado de ambu, imbu, ombu, corruptelas da palavra tupi-guarani "y-mb-u", que significava "árvore-que-dá-de-beber". O imbu ou umbu é uma fruta amiga dos sertanejos porque, durante as secas, as pessoas retiram de suas raízes umas batatas para matar a sede. Quando o sertão está seco, com todas as árvores sem folhas, o imbuzeiro ou umbuzeiro está sempre verde porque guarda água necessária em suas batatas e com ajuda delas, da água que contêm, o imbuzeiro ou umbuzeiro consegue ficar sempre verde e sobreviver às secas. Os gramáticos dizem que o nome certo é imbu, palavra tupi, i-mb-u, "a árvore que dá de beber".

Um abraço fraterno,
João Vianey de Farias

A quem o sofrimento pessoal é poupado, deve sentir-se chamado a diminuir o sofrimento dos outros - Albert Schweitzer (1875 - 1965)

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De: Joao Vianey de Farias
Data: 7 de junho de 2016

Maravilha!

Muito obrigado, Theresa, por valorizar a nossa modesta observação.

Meu pai foi agricultor, em pleno cariri paraibano. Em nosso sítio - denominado PANASCO, havia alguns majestosos imbuzeiros. Produziam, além de frutos saborosos, sombras muito generosas, embora a gente, para desfrutar daquelas regalias, tivéssemos que nos curvar muito porque os galhos, repletos de espinhos (se não nos enganamos), ficavam muito próximos do chão.

Um abraço fraterno,
João Vianey de Farias

 

Jornalismo com ética e solidariedade.