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AUTO-RETRATO
Para o que somos fielmente retratar,
não precisamos pedir a Deus o dom
de uma vocação artística. À medida
que vivemos, pelo caminho deixamos
pegadas reconhecíveis nas palavras,
nas atitudes demonstradas. Os erros
também se tornam traços indeléveis,
marcando nossa vida, ao respingar
indícios no destino de muitos outros.
Os frutos do que já fizemos revelarão
a presença do invisível. Os mistérios
serão reconhecidos. O percurso de
nossa existência desenhará as linhas
características de nosso auto-retrato,
que estará concluído no Julgamento
de Deus, o Artista Maior. Ele saberá
compreender tudo o que nós levamos
no coração: o que precisamos olvidar,
os nomes que não queremos esquecer.
Sem pressa e com olhos atentos,
identificaremos os espinhos e nós:
aqueles mais difíceis de arrancar,
desatar irão se destacar nos traços
do esboço artístico. Os sentimentos,
porém, apenas serão percebidos.
O milagre, na profundidade da alma,
raramente se mede em sua extensão.
A profundidade do espírito é uma graça.
Não tem cores, nem altura mensurável.
Labirinto a vencer, floresta a desbravar.
Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília - DF, 26 de junho de 2016 |
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