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Militares olímpicos
POR MÍRIAM LEITÃO
18/08/2016 08:05
Os brasileiros já estão se acostumando a que o
atleta no pódio, ao ver subir a bandeira, bata
continência. “É natural que o militar ao ver o
pavilhão nacional faça continência, não é
obrigatório, claro, mas ele foi treinado assim”,
diz o ministro Raul Jungmann. O gesto chamou a
atenção para a presença das Forças Armadas na
Olimpíada. Os militares são 33% dos atletas e
81% das medalhas.
Um dos segredos do sucesso do programa militar é
que os atletas passam a ter um patrocínio por
oito anos, diz o ministro da Defesa.
— Alguns dos nossos atletas não teriam como se
dedicar ao esporte se não fosse o apoio das
Forças Armadas porque aqui eles têm estabilidade
e segurança. Daí deriva o sucesso. O patrocínio
privado normalmente é do tipo “stop and go”.
Eles são convocados através de edital público, e
escolhidos após análise do currículo. Se forem
selecionados, fazem um curso compacto de entrada
nas Forças Armadas e passam a ser
terceiro-sargento com um salário de R$ 3.200 e
apoio de treinador, psicólogo, serviço médico,
odontológico e acompanhamento do Centro de
Pesquisa e Desenvolvimento de Fisiologia
Desportiva. São reavaliados anualmente. Podem
ficar oito anos, ou sair no momento que queiram.
Se decidirem permanecer, fazem um concurso.
— Mas existe também um programa chamado Força no
Esporte que atende a 21 mil crianças, que passam
a ter acesso às unidades militares, alimentação,
ensino de esportes. E agora estamos começando um
projeto, que ainda está na fase piloto, de apoio
ao esporte paralímpico.
O custo do programa de atletas de alto
rendimento e mais o de apoio às crianças no
esporte é de R$ 48 milhões por ano; baixo se for
levado em conta o benefício.
Há lições a se tirar disso. Primeiro que o apoio
ao esporte deve ter essa constância, dar ao
atleta uma renda estável para que ele possa se
dedicar aos treinamentos, segundo, que a
vantagem de apoiar o esporte é muito maior do
que o que é possível mensurar. É intangível o
retorno para a imagem das Forças Armadas ter uma
medalhista de ouro no judô que enfrentou todo o
tipo de preconceito, como a sargento da Marinha
Rafaela Silva. Ou ter o sargento da Aeronáutica
Thiago Braz com a coragem de por o sarrafo a uma
altura que nunca havia atingido antes e assim
alcançar o ouro no salto com vara. Ou ter o
sargento da Marinha, Robson Conceição, que ao
ganhar o ouro diz que se não fosse o boxe ele
poderia não estar vivo. E ainda a exposição
favorável na mídia da nossa primeira medalha,
que foi conquistada pelo sargento do Exército
Felipe Wu, prata no tiro.
Para além da rentabilidade financeira ou de
marketing, o que fica claro num evento como a
Olimpíada é que o apoio do país ao esporte é
pequeno demais para a dimensão do ganho que se
pode ter com isso. Nosso desempenho depende
várias vezes de histórias dramáticas de
superação, luta e esperança dos atletas. Alguns
poucos se destacam, mas há milhares de histórias
de dedicação sendo vividas. Só nas Forças
Armadas são 670 atletas treinando.
O Programa de Atletas de Alto Rendimento começou
em 2008 com a meta de obter medalhas nas
Olimpíadas Militares, que seriam realizadas no
Brasil em 2011. O Brasil ficou em primeiro lugar
em medalhas, e quatro anos depois ficou em
segundo, perdendo apenas para a Rússia. Para a
Olimpíada de Londres foram 51 atletas militares.
Na do Rio, há quase três vezes mais
competidores.
O Ministério da Defesa já tem programação para
os Jogos Mundiais Militares de 2019 e para a
Olimpíada de 2020, com o objetivo de apoiar mais
atletas e trazer mais medalhas. O que outras
instituições e empresas do país devem fazer é
ter programas assim de longo prazo, com metas e
a mesma constância no apoio aos atletas e às
diversas modalidades de esporte.
Pode-se tentar calcular a vantagem do marketing
esportivo, mas os ganhos do investimento em
esporte são tão grandes que é fácil entender as
Forças Armadas, difícil é entender como não
existem outros programas como esses, inclusive
financiados pelas empresas privadas. A
inconstância do patrocínio, tanto no esporte
quanto na cultura, faz com que bons programas
sejam abandonados ou tenham que cumprir um
calvário para obter anualmente a renovação do
apoio.
(Com Marcelo Loureiro)
http://blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/militares-olimpicos.html |
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