por Cristiane Costa, crítica de Cinema MaDame Lumière
Quarto filme de Christian Carion (De "Joyeux Nöel"), "Viva a França" é um drama sobre a guerra e seus impactos nas vidas de pessoas que deixaram seus vilarejos e fugiram do Nazismo. Para o encantamento dos olhos do público e a inevitável sensibilidade provocada quando um povo tem que abandonar o próprio lar, sua primordial beleza cinematográfica se constrói nas paisagens bucólicas e neste êxodo de gente simples, do interior, a se perder de suas raízes, de sua família e amigos, sob o risco de serem mortos e ver seus entes queridos mortos a qualquer momento.
August Diehl: um dos melhores atores alemães em atividade
Na história falada em três idiomas, inglês, francês e alemão, o povo de um vilarejo no Norte da França parte em êxodo devido ao avanço da invasão germânica nos anos 40. Liderados pelo prefeito Paul (Olivier Gourmet) e Mado (Mathilde Seigner), estes habitantes não têm armas e nem homens experientes em batalhas, pelo contrário, são a expressão de um povo que foge para sobreviver e que está destinado a encontrar a paz ou a morte. Paralelamente, a história adiciona um elemento familiar e emocionalmente mais forte, a busca de um pai por seu filho. Hans (o experiente ator alemão August Diehl, de Bastardos Inglórios), após ser preso em Arras, se perde de seu filho Max (Joshio Marlon). Max acompanha o grupo de imigrantes Franceses e encontra na doce Suzanne (Alice Isaaz), um coração materno, conforto e segurança na fuga. Hans tenta a todo custo encontrá-lo com a ajuda de um soldado escocês, Percy (Matthew Rys).
Christian Carion: um filho do Norte da França que fala sobre as memórias de sua família
Entrecortada por belas cenas interioranas com fotografia dePierre Cottereau e a suave e tocante trilha sonora composta pelo Maestro Enio Morricone, "Viva a França" é um filme sobre guerra mas não usa os mesmos artifícios do lugar comum encontrados em filmes sobre as guerras mundiais. É nítido perceber que, por trás do drama histórico, o diferencial são as distintas histórias que formam esta França sob o ataque da Alemanha. É a história sobre o desencontro e reencontro entre pais e filhos, a história sobre o pequeno agricultor ou comerciante que deixa o seu campo e negócios, é a história dos amantes que não podem desfrutar o amor pleno, é a história do soldado que não voltará a seu país, é a história de outras histórias que surgem no pós guerras.
E, aos poucos, a tranquilidade das cenas no campo se harmoniza com os caos pessoais de uma guerra e com a contínua sensação de que os soldados alemães encontrarão estes franceses e seus aliados e as baixas virão com sangue e dor, formando esta dicotomia tensa e dramática que é delicadamente intercalada com a belíssima trilha sonora de Morricone e atuações minimalistas e realistas, com destaque para a madura e focada interpretação de August Diehl.
De uma maneira muito interessante, a direção de Christian Carion, entusiasta em filmar dramas sobre as guerras como o fez em "Joyeux Nöel", deixa claro que este é um filme sobre memórias pessoais e não sobre soldados em trincheiras, cadáveres expostos e inimigos em estratégias de ataque. Tal escolha acrescenta um valor especial ao longa. O realizador Francês se inspirou nas memórias de sua mãe para iniciar este projeto. Sendo filho de fazendeiros do Norte da França, o cineasta teve bastante naturalidade e sensibilidade para não exagerar na direção. Seu filme tem a simplicidade que conquista pela discrição. É sobre a história de sua família, uma homenagem à França e oito milhões de pessoas que tiveram que deixar seus lares.
Alice Isaaz: se bem dirigida e em bons papéis, tem beleza e talento para fazer sucesso no cinema Francês
Embora o roteiro seja irregular no desenvolvimento dos personagens, passivo na elaboração de melhores conflitos e não teve a pretensão de desenvolver as subcamadas da guerra ligeiramente indicadas em cena, como por exemplo, a propaganda política e a rebeldia contra o regime Nazista (e havia espaço para isso), o longa cativa especificamente pela humanidade de uma personagem, a da revelação Alice Isaaz. A jovem atriz trabalhou recentemente com Vincent Cassell e François Cluzet na comédia romântica "Doce Veneno" (Un moment d'engarement) e aqui demonstra potencial para dramas.
Suas cenas exploram este lado dócil e empático que nem a guerra consegue vencer. Ela é como a mãe de Max, a menina forte e corajosa que tem que amadurecer e tomar decisões durante a fuga, que está atenta aos sentimentos e a segurança dos outros, que se dedica às crianças de forma a protegê-las da crueldade da guerra. As tomadas com Isaaz e Marlon mostram que nem tudo está perdido, que há esperança na juventude que precisa mudar o mundo após uma guerra.
Para fechar a beleza desta discreta joia do cinema Francês, Carion realiza uma parceria fantástica com Morricone que acrescenta poesia à tela grande. Sem a música do Maestro, este filme não teria a mesma comoção, a mesma capacidade de dialogar com os dramas da guerra, com os sentimentos dos personagens. Em diversos momentos, a melodia dialoga perfeitamente bem com a função dramatúrgica de uma cena e com a fotografia expressa nos rostos do êxodo. Ao lado das escritas dos fugitivos espalhadas pelos caminhos da fuga, são nestas horas que as Letras e a Música também tornam suportáveis imaginar a dor dos que abandonam seus lares , que mantêm a esperança sem um destino certo, que somente desejam permanecer com quem amam.