|
|
|
|
|
|
O PROVEDOR
Andar à toa é coisa de ave.
Meu avô andava à toa.
Não prestava pra quase nunca.
Mas sabia o nome dos ventos.
E todos os assobios para chamar passarinhos.
Certas pombas tomavam ele por telhado e passavam
as tardes freqüentando o seu ombro.
Falava coisas pouco sisudas: que fora escolhido
para
ser uma árvore.
Lírios o meditavam.
Meu avô era tomado por leso porque de manhã dava
bom-dia aos sapos, ao sol, às águas.
Só tinha receio de amanhecer normal
Penso que ele era provedor de poesia como as
aves
e os lírios do campo.
Manoel de Barros |
|
|
|