Theresa Catharina de Góes Campos

     
CONSIDERAÇÕES SOBRE UBERABA, A CAPITAL DO ZEBU

De: Reynaldo Ferreira
Data: 18 de fevereiro de 2017
Assunto: Uberaba, a Capital do Zebu

(...) tenho de lhe confessar que, apesar de querer muito bem à terra onde nasci, sou obrigado a reconhecer que ela não está com essa bola toda do documentário, que lhe repassei. Considero-a como uma das cidades mais apáticas e conservadoras do Brasil. Em termos culturais, nada lá repercute. Mas, ja teve o seu período áureo, de prestigio, nos tempos de Getúlio Vargas, que lá ia todos os anos para as inaugurações das Feiras Agropecuárias, pois era também criador de gado zebu, nas fazendas de Mário Franco, um dos seus íntimos, em negócios. O aeroporto da cidade chegou a ser, na ocasião, o terceiro do país, em movimento. Era a época da minha infância, na então Capital do Zebu. Hoje, nem aeroporto, para receber aviões de grande porte, tem mais. Para se chegar a Uberaba, só se for de carro, de caminhão ou de ônibus. Para não se falar nos carros de bois, é claro. Os encantadores trens da Mogiana, vindos de São Paulo, por mim lembrados, em "As Raparigas da Rua de Baixo ", que você deve ter lido, também não existem mais. Os ônibus,  se procedentes de Brasília, dão à viagem a duração de nove horas, parando em todas as bibocas, tempo suficiente para se ir, de modo mais confortável, de avião, da Capital da República a Lisboa, em Portugal. A promessa da construção de um aeroporto, de porte internacional, tal como está dito no documentário, é uma "la lá land" de muitos, muitos anos. Ninguém, de bom senso, acredita mais. Quando lá costumo ir, duas ou três vezes por ano, enfrentando desafios, o que ouço dos amigos, que ainda me restam, na cidade, são apenas expressões de desencanto, principalmente, quando a comparam com a vizinha Uberlândia - que, no passado, foi chamada de " Uberabinha" -, a qual deu um pulo rápido para o progresso, figurando hoje, sim, como um grande centro de oportunidades do Brasil Central. Uberlândia tem cerca de oitocentos mil habitantes, enquanto Uberaba permanece, há muitas décadas, com trezentos mil. As senhoras de Uberaba cobrem cem quilômetros, de carro, para fazer muitas de suas compras em Uberlândia. E vai por aí. O documentário não tem, portanto, a grande qualidade do filme americano, mais premiado do ano, até agora, com, pelo menos, três sequências clássicas, o qual mostra o doloroso choque da fantasia (la la land) com a realidade. 
Reynaldo Domingos Ferreira

De: Monaliza Arruda
Data: 19 de fevereiro de 2017

Realmente, Uberaba não cresceu muito, cultural e economicamente. O Ensino e a Saúde merecem elogios - temos 2 universidades de reconhecimento nacional e 3 faculdades também muito boas. Há excelentes hospitais e centro de saúde com equipes multidisciplinares, oferecendo atendimento público que em Brasília não vejo. O que me encanta em Uberaba é sua característica interiorana. 
Monaliza Barbosa Arruda.


De: Reynaldo Ferreira 
Data: 14 de março de 2017
 
Repassando: Uma defesa de Uberaba, escrita por um de seus historiadores, Guido Bilharinho, que destaca principalmente suas realizações literárias e as de outros escritores, como Jorge Alberto Nabut e José Humberto Henriques, lá residentes. Apesar dela, pessoas amigas, também uberabenses, que lá estiveram, nos últimos dias, voltaram impressionadas com - em seus dizeres -, a decadência da cidade. E disso me deram notícia. Não só observaram os maléficos efeitos da crise econômica, que causa lá, como em outras cidades, o fechamento de inúmeros estabelecimentos comerciais, como também viram, com profunda tristeza que, para a fixação do transporte coletivo da moda - o BTG -, sacrifica-se, em grande escala, a arborização, que ameniza a temperatura, extremamente quente da capital do zebu. O carro de uma dessas pessoas arriou a bateria e, para trocá-la, precisou esperar dois dias para que uma outra fosse comprada, em Ribeirão Preto, no Estado de São Paulo. É isso aí, o que lamentavelmente estão fazendo com Uberaba. Agora leiam a correspondência de Guido Bilharinho.
 
"Prezado Reynaldo
 
Li sua correspondência de 18 de fevereiro último a respeito de Uberaba, com ela, porém, não podendo concordar.
Por ser Uberaba a nossa terra, penso que dela exigimos mais, queremos
mais e, por isso, a julgamos com mais severidade.
Afianço-lhe que todos os males que a assoberbam - e são muitos - são comuns a todas as cidades de países capitalistas. Com talvez, se é que existe, uma ou outra raríssima exceção.
Por nela residir e atuar intensamente desde que voltei, em 1963, de meus estudos no Rio, posso lhe garantir que Uberaba, neste último meio século, transformou-se num dos mais importantes centros culturais do país, pelas seguintes razões:
 
a) possui poetas do nível e da complexidade dos reunidos na antologia
A Poesia em Uberaba: Do Modernismo à Vanguarda, editada em 2003;
 
b) nela se editou por vinte anos a revista de poesia Dimensão, a única 
publicação literária brasileira de âmbito internacional;
 
c) nela se vem editando desde 1999 a coleção "Ensaios de Crítica 
Cinematográfica", a única coleção do gênero no país;
 
d) é a única cidade brasileira que possui obra a respeito de seus periódicos culturais, o livro Periódicos Culturais de Uberaba, editado em 2015;
 
e) em Uberaba, hoje, se editam nada menos de 17 (dezessete) periódicos eletrônicos culturais e científicos, o primeiro deles desde 2001, bastando acessar, para contactá-los, os portais de suas duas universidades federais, da Uniube e da Fazu;
 
f) é a única cidade brasileira que está editando, no facebook, os livros 
Obras-Primas do Cinema Brasileiro Brasil: Cinco Séculos de História;
    Raras cidades brasileiras têm hoje poeta do nível de Jorge Alberto Nabut;
    Nenhuma cidade tem o possivelmente maior fenômeno literário até hoje surgido, que é José Humberto da Silva Henriques com seus 300 (trezentos) livros, obras-primas inúmeros deles, todos disponibilizados no portal da Amazon;
    Quase certamente nenhuma cidade brasileira tem essa obra-prima da memoralística universal, que é Roteiro Cinza, de Lincoln Borges de Carvalho, falecido em 2013;
    Poucas cidades mantêm desde 1971 revista literária e de estudos regionais  como Convergência, editada pela ALTM;
Por aí se vê, algumas das coisas que Uberaba tem produzido e que não repercute no país e nem nela própria por estarmos totalmente dominados pelo consumismo desenfreado e a indústria do entretenimento, que instrumentaliza a mídia e a põe
a seu serviço;
Além disso, afora outras atividades culturais, desde a década de 1980 Uberaba passou a contar com Fundação Cultural e Arquivo Público, a ter museus (inclusive os do Zebu e o dos Dinossauros), teatros municipais (Vera Cruz, TEU, Arena, este ao lado da Biblioteca Municipal, e o da Concha Acústica), e mais de 20 (vinte) grupos teatrais;
Instituições e espaços que anteriormente somente sonhávamos em ter.
Isso sem falar da moderna Biblioteca Municipal, inaugurada em maio de 1972, sendo que antes funcionava em salas e cômodos alugados, tendo até, na década de 1950, sido objeto de ação de despejo por falta de pagamento pela Prefeitura.
Do ponto de vista econômico, que exigiria até um livro para ser exposto, a perda da condição de porta ou boca do sertão, deveu-se a ocorrências externas sobre as quais os uberabenses não tinham domínio (a entrada de Uberlândia no mercado goiano e a transferência da estrada de ferro Uberaba-Coxim para São Paulo, esta decorrente da traição de Afonso Pena que, para ter apoio de Rodrigues Alves à sua candidatura a Presidente da República, acatou e deu curso à exigência de transferir a estrada (de construção já iniciada).
Cordialmente, Guido Bilharinho."
 

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