Theresa Catharina de Góes Campos

     
Emprego para os jovens, ocupação para os aposentados
Aylê-Salassié F. Quintão*
 
           Perde uma bela discussão sobre mudanças na legislação trabalhista quem está concentrado em contar votos, no Congresso,  para a reforma da Previdência, cuja rejeição pode criar, de fato,  problemas para os aposentados atuais e inviabilizar as futuras aposentadorias. Os  temas  da reforma trabalhista são ainda mais provocativos. Preveem-se mudanças em cerca de 100 artigos da Consolidação da Leis do Trabalho.  
 
           Entre elas, surgiu uma proposta de Regime Especial de Trabalho para aposentados. O objetivo é facilitar a contratação, pelas empresas, de pessoas com mais de 60 anos para ocupar até 5%  das vagas disponibilizadas no mercado de trabalho. Sugerido pelo Sebrae,  o projeto criaria um tratamento exclusivo  para a categoria, permitindo   o retorno de idosos ao mercado.  Seriam contratos sem vínculo empregatício, e   por hora. Para esses haveria  isenção do recolhimento da Previdência, do FGTS e de outros encargos. Aproximadamente,  1,8 milhão de pessoas na terceira idade estariam aptos a  se beneficiar das oportunidades nos próximos dez anos.
 
      Entre as justificativas do projeto está a preservação do conhecimento  adquirido. Em segundo lugar vem a preocupação com a reinserção no mercado de trabalhadores aposentados cujo valor recebido mensalmente situa-se nos limites do INSS, reclamando por uma complementação. Além da subsistência, um grande número dos idosos tem encargos de apoiar diretamente familiares desempregados.
 
         Seria mesmo uma boa opção, se a questão fosse manter a regularidade da produção e dos índices de produtividade. Mas, o sistema produtivo está sendo convocado  a renovar seus processos, tecnologias e produtos. A força de trabalho ou a massa crítica empresarial aposentada provavelmente não estaria em condições de alavancar essas transformações. Mudanças corajosas  é com aqueles que estão entrando ou entraram no mercado nos  últimos 10 anos. Além disso, os 13 milhões de desempregados são  acrescidos anualmente de mais um milhão de novos profissionais que as universidades despejam no mercado. Pessoas muito criativas estão desocupadas e, certamente, “pensando o diabo”,  em termos de sobrevivência. 
 
           Nesse cenário, ocupar as vagas que surgirem com aposentados seria um contra senso A função social do  trabalho precisa ser melhor compreendida. Em tese, o aposentado busca uma atividade, e não propriamente um emprego. Enquanto o jovem cava uma renda para iniciar a vida, o aposentado busca ocupar o tempo.  São variáveis distintas para pessoas realmente diferenciadas em termos de habilitação e disposição para empreender. O trabalho tem  importantes contribuições intangíveis  para as quais poucos prestam atenção, ao focar apenas no salário ou na luta contra o capital.
         
          Professor durante 17 anos, nunca perdi de vista  a perspectiva de empregabilidade dos meus alunos. Observava preocupado o achatamento gradativo das oportunidades de trabalho. Com a chegada das novas tecnologias ,  as empresas passaram a demitir muito, para desespero dos sindicatos dos jornalistas. Todo dia um jornal era fechado.  E eu preparando profissionais  para ingressar num mercado em recessão. Não conseguia conviver passivamente com os dramas cotidianos da universidade particular. Um estudante brilhante, com potencial para grande editor,  tinha a matrícula suspensa por falta de pagamento. A outra, do  mesmo naipe, abandonara o curso porque o pai não conseguia pagar mais a anuidade. Uma terceira vendia bombons em sala para pagar a universidade.
 
         Tudo ficava muito confuso. Percebi que estava dedicando quase a metade do salário a fazer empréstimos para um, pagar a mensalidade para outro, a negociar o prolongamento de dívidas de alguns, quase sempre comprando a caixa de bombons ainda cheias para manter a atenção da aluna na aula.
 
           Depois de tanto tempo no magistério, um dia fui demitido. Não me deram muitas explicações, nem eu pedi. Fiquei um pouco aborrecido com o desfecho, porque  planejava propor à universidade a redução do meu próprio salário.  A  inesperada demissão refletiu em mim, contudo, como se fosse um “pé na bunda”. Aborrecido,  cheguei a distribuir  meu currículo para duas ou três instituições e empresas.  Duas me ignoraram, uma me chamou e numa terceira foi preterido por uma jovem de 25 anos.  Surpreso, terminei rindo sozinho de mim mesmo:  era uma ex-aluna.
          
           Fiat lux!  Precisava parar . Não exatamente por causa das diferenças de gerações, mas porque a consciência começou a recusar disputa de oportunidades no mercado com ex-alunos num momento de desemprego crítico. Rejeitei a proposta que recebera. Deixei a vaga aberta para um desesperado.    Fiquei com minhas duas aposentadorias que, depois de  acompanhar de perto esse tal rombo na Previdência, passei a achar demasiadas. 
 
           Concluo, em tese, que, para um grande número de aposentados, o retorno ao trabalho  ajuda a preservar a sanidade física e mental . Portanto, a contribuição é mais subjetiva. Não caberia tirar a oportunidade de trabalho dos mais jovens, mesmo inexperientes, para entregá-las aos  mais velhos. A proposta da reforma deveria ser seletiva. Sugeriria a garantia da “renda mínima” para um aposentado, assegurada pelo Estado, por meio de um regime de redistribuição,  deixando-o livre para inventar ou reinventar  a realidade ou mesmo entregar-se a responsabilidade do consumo, como uma das alavancas para o crescimento da economia.
 
*Jornalista e professor

De:
Agnes Altmann

Data: 16 de abril de 2017
Para: Theresa Catharina de Goes Campos

Data venia, divergindo do posicionamento supra citado, visto que o sistema corrosivo, que dá sustento ao esquema secular da corrupção nacional e, do capital que explora a boa fé, a cidadania analfabeta sem direitos trabalhistas/ e funcionais como contratados e/ou concursados, são mal pagos, não têm planos de saúde a baixo custo para toda a família, nem moradia gratuita ou a baixo custo, sem ter que pagar caríssimo para ter pelo menos, mobilidade, em função de problemas familiares e/ou do interesse do País, além de fazerem da Previdência Nacional o Caixa 2 para patrocinar congressistas em todo o Brasil. Somente alguns do Legislativo têm todos as garantias como servidores ou agentes políticos, enquanto outros profissionais, mesmo contratados CLT, não têm assegurado nem mesmo uma aposentadoria que dê para sobreviver, sem ter que voltar a trabalhar depois de tantos anos de sub-assalariado do Estado corrupto sob o qual vivemos.
Agnes Altmann

 

Jornalismo com ética e solidariedade.